O aprofundamento no estudo das técnicas de compliance digital nos leva necessariamente ao controle da linguagem utilizada por todos os meios de comunicação e registro já devidamente digitalizados.
Mas qual seria a relação entre o filósofo Wittgenstein e o compliance digital? Veja a linguagem comunicacional, utilizada pelos inúmeros sites, aplicativos e programas, acabam moldando a construção dessa linguagem os algoritmos que modulam conteúdo e linguagem, pode muito bem ser o ponto de partida.
Você certamente já ouviu falar dos algoritmos utilizados pelas empresas de tecnologia e seu poder de persuasão, o que alguns gostam de chamara de “o perfeito instrumento de modulação”, em outras palavras, modulação algorítmica. A modulação algorítmica tem como propósito influenciar os comportamentos como a chamada manipulação de mídia. São inúmeros os casos ao longo de nossa história sobre esse tema que tratam sobre a escolha de conteúdo que interessam ao candidato de determinado setor.
Quando vamos para o registro das patentes vemos que os algoritmos hoje são todos devidamente registrados, justamente em razão da patente ser a primeira linha de defesa da propriedade intelectual.
Para se ter uma ideia os algoritmos que têm o poder de identificar padrões, seja de busca, seja de hábitos, tem atualmente cerca de 9 mil patentes, um número assustador. Desse número 7,4% pertencem a Samsung, 4% a Microsoft, o Google 3,5%, Facebook outros 3%, e assim vai. Quem lidera o número de registro de patentes são empresas de tecnologia.
Pois então, qual a importância do algoritmo? O algoritmo identifica através de inúmeros padrões repetitivos quais são suas preferências e é através deste estudo comportamental que a engenharia humana, por meio desses perfis, vai indicar para você que conteúdo irá ser mostrado na web.
O conteúdo que você recebe de anúncios, por exemplo, é pautado nos seus hábitos de consumo que o algoritmo identificou. Cada vez mais as pessoas deixam de ter uma livre escolha para ter uma escolha modulada por um algoritmo.
São os algoritmos comandando a nossa vida através das nossas escolhas alimentadas por dados e mais dados e mais dados. Logo de que maneira isso interfere na nossa linguagem, no que comunicamos, compartilhamos ou “curtimos”?
Ludwig Josef Johann Wittgenstein nasceu em 1889, em Neuwaldegg, em meio aos bosques de Viena. Os Wittgensteins possuíam duas outras residências, uma mansão no centro da capital, na Alleegasse, outra no campo, conhecida como Hochreit. Ludwig era o mais novo dos oito filhos do industrial metalúrgico Karl Wittgenstein e de Leopoldine Kamus, uma estrutura financeira familiar que lhe permitiu na época frequentar os melhores círculos de debate, e ter uma educação privilegiada.
O “Palais Wittgenstein”, como era conhecida a casa da Alleegasse, fez fama como um dos salões mais concorridos de Viena. Ali, em 1892, por exemplo, Johannes Brahms fizera estrear seu Quinteto para clarinete. Visitaram a casa Clara Schumann, Gustav Mahler, Arnold Schoenberg, o maestro Bruno Walter e o pintor Gustav Klimt. O famoso monumento a Beethoven (1902), de Max Klinger, foi exibido ali, numa das manifestações inaugurais da Secessão, um dos primeiros movimentos das vanguardas que dominariam a Europa na virada do século.
Ludwig, cursou a escola técnica em Linz e em Berlim e ingressou, em 1908, na escola de Engenharia da Universidade de Manchester, Inglaterra. Ali, pesquisou aeronáutica, construiu pipas e balões experimentais e projetou sistemas de propulsão. Em 1911, decidiu se dedicar à lógica e se aproximou de Bertrand Russell em Cambridge. Daí para a metafísica e o projeto de sua obra filosófica foi um salto simples.
Wittgenstein (1889-1951) foi, sem dúvida, um dos filósofos mais influentes do século 20 e o principal responsável pela chamada virada linguística da filosofia, movimento que colocou a linguagem no centro da reflexão filosófica, deixando de figurar apenas como um meio para nomear as coisas ou transmitir pensamentos. Em Wittgenstein, como em Sócrates, vemos um filósofo que procura viver coerentemente com suas crenças filosóficas.
Mais tarde, ele recusou a fortuna de sua família e trabalhou em funções humildes, como ajudante de jardineiro em um mosteiro e porteiro em um hospital. Em sua trajetória intelectual, Wittgenstein foi capaz de realizar uma profunda revisão de sua própria teoria, no “Tractatus Logico-Philosophicus”, um conjunto de aforismos e corolários divididos de 1 a 7 -, Wittgenstein tenta romper com a visão tradicional da filosofia, que vê o mundo como um mero agregado de coisas que podem ser pensadas de modo independente umas das outras. Tal visão não é incorreta, apenas incapaz de explicar qual a relação existente entre as coisas. As coisas, por si só, não têm sentido, pois elas ganham significado quando relacionadas com outras coisas. Da mesma forma como não conseguimos pensar em algo fora do espaço e do tempo, “também não podemos pensar em nenhum objeto fora da possibilidade de sua ligação com outros” (Tractatus, 1.9210)
Para que algo possa ter significado é preciso que apareça dentro de uma relação com outros objetos em um determinado estado de coisas. Estar ligado a um estado de coisas é, ao mesmo tempo, a condição para que um objeto possa aparecer e ser pensado. Com as palavras acontece a mesma coisa. Elas só adquirem significado quando inseridas em uma frase, pois somente as frases podem ser consideradas verdadeiras ou falsas.
Para alguns autores, “Nenhuma outra argamassa epistemológica é capaz de explicar por que Wittgenstein até hoje é um modelo imitado e venerado nos círculos mais infernais da cultura, da filosofia, da matemática à literatura e as artes, passando pelo misticismo pós-moderno e pela nova ética tecnológica. Tornou-se até produto de “mercado” como personagem de romances policiais e filmes de suspense.’ O impacto do seu primeiro livro foi enorme e colaborou na formação do chamado Círculo de Viena, liderado por Moritz Schlick, que impulsionou a voga do neopositivismo, logo adotado também em Cambridge.
O fato é que até hoje o imenso volume de manuscritos e originais datilografados do filósofo continua sendo inacessível para a maioria dos estudiosos, mesmo os que leem alemão. O que cai nas mãos dos pesquisadores vira ouro: e Wittgenstein I ou II se torna instrumento para análise da política, da ética, da religião e até da estética. Seu pensamento é um celeiro de onde se arrancam frases que justificam quase tudo o que seja desconstrução.
Ao correr de uma vida intelectual agitada que durou mais ou menos 40 anos, ele sempre comparou seus pensamentos a uma chama, que incendiava projetos ou se apagava repentinamente, para seu desespero. As imagens de “ideias” e “fogo” são recorrentes nos seus cadernos de anotações, diários e correspondência
Nesse momento, a linguagem que para ele definia os limites do mundo de cada um, nunca foi tão importante. Ë sobre essa linguagem vertida em normas, explícitas ou de conduta quando dentro das redes sociais que nos interessa.
Quando a concentração comunicacional ocorre por meio de poucas plataformas digitais parametrizadas por seus algoritmos, que ditam o conteúdo e a linguagem dominante é preciso ressignificar Wittigenstein para importância ideológica da linguagem que os algoritmos podem cristalizar.
A ideologia dominante se dá pelo domínio das ferramentas comunicacionais nessa era digital. E logo, o mundo parece estar na iminência de uma revolução em tempo real na economia, conforme a qualidade e a rapidez que essas informações são transformadas.
Wittgenstein descreve os limites da cultura ocidental no início do século XX. Para o filósofo austríaco, ao atingir o limite máximo de sua manifestação, mediante o progresso da ciência e da técnica, a cultura ocidental se constituirá numa grande civilização tecnológica. Dessa forma, no prever dele a humanidade entraria em crise e, consequentemente, a civilização ocidental em seu declínio. A cultura ocidental, Ciência versus cientificismo: o cientificismo como causa dos problemas do progresso da civilização tecnológica ocidental. São palavras escritas antes do advento dos computadores, e muito antes de se pensar na internet e em economias globalizadas, e logo a linguagem dominante se acelera por meio das ferramentas digitais.
Veja na sua cidade e no diálogo entre amigos, como a fala ganha homogeneidade nos termos, onde em muitas rodas o “Você ganha o lugar do Tu, em plena dominação de termos. E onde muitos se perdem esquecendo como podemos ser grande se cantamos a nossa aldeia.
É importante dizer, que no seu livro “Tractatus Logico Philosophicus’, Wittgenstein buscou demarcar o limite entre o espírito científico e o espírito filosófico. Porém, deve-se esclarecer desde já que o filósofo austríaco não era contrário à pesquisa científica. Muito pelo contrário. Ele nutriu um grande interesse pela engenharia e teve uma formação tecnocientífica como estudante primário na escola técnica.
Ele já evidenciava, os problemas causados pelo mau uso da ciência e tecnologia no mundo contemporâneo, que tem como background o fenômeno humano da linguagem.
No instante em que você está lendo esse artigo, grandes empresas, da Amazon, e Netflix, já usam dados instantâneos para monitorar as entregas de produtos e quantas pessoas estão vidradas em “Round 6”. A medida que os dispositivos digitais, sensores e pagamentos instantâneos se tornam onipresentes, a capacidade de observar a economia com precisão e rapidez aumentará. Isso mantém em aberto a promessa de uma melhor tomada de decisão do setor público – assim como a tentação de os governos se intrometerem.
Entender a importância do domínio da linguagem nos leva a refletir sobre fatos como o que leva as pessoas a fazerem parte de uma rede social, ou até de diversas ao mesmo tempo? Plataformas redesenham a comunicação criando tribos homogêneas, e assim final com o tempo a segmentação passou a ser o ingrediente maior na estratégia delas para se ajustarem aos diversos gostos, hábitos e faixas de idade. E é justamente esse movimento, que as pessoas fazem, de entrar em novas redes sociais na maioria absoluta das vezes sem ao menos ler os termos que regulam a política daquela rede.
A ditadura da exposição das redes lembra os inúmeros modismos que em maior ou menor grau as pessoas passaram em sua adolescência, que vai da linguagem comunicacional, quando repetem bordões de novelas e agora de séries até o jeito do cabelo ou de se vestir .A história da humanidade é repleta desses exemplos que onde afinal o homem procura ao longo da vida estabelecer relações sociais com os inúmeros grupos, seja na escola, no trabalho, no clube ou na sua rua, ele é sempre movido pelo sentimento de pertencimento.
Lutamos para fazer parte de grupos e nos sujeitamos as regras desses grupos, a vida em sociedade é um exemplo disso por isso precisamos de normas jurídicas, para regrar essas inúmeras relações, afinal como os valores culturais e interpretativos são dotados de um conjunto ideológico experimental significativo, precisamos o tempo todo de ajustes, que caminham com o evoluir das relações econômicas e sociais, e logo o Direito vive em constante e nem sempre atual movimento.
As redes sociais estabelecem uma relação de consumo, onde os aplicativos nos fornecem ferramental para divulgarmos nosso conteúdo e interagirmos e recebermos conteúdo de outros, em troca recebem nossos dados e o nosso tempo.
Com nossos dados calibram sua publicidade para melhorar o resultado dos seus anunciantes, e quanto maior o tempo mais bombardeados por seus anúncios, assim remuneram seus serviços, onde o produto somos nós.
Tempo e dados essa é a moeda do negócio, claro que para ter mais dados eles precisam de mais tempo seu, assim registram algoritmos que procuram ampliar seu tempo na rede por isso em sua linha do tempo, dão preferência aos vídeos, e as publicações de amigos que costumeiramente você curte, logo quanto mais curtidas mais informações sobre o que você gosta e o que tem em comum com a sua rede de amigos.
Mais tempo, mais dados melhor calibração da linguagem pra tratar da comunicação. O filósofo de Viena nunca foi tão atual.