WI-FI FREE, E SEUS PERIGOS

Hábitos após incorporados, ganham o peso da normalidade, e como já dizia a música “de perto ninguém é normal”, e assim pode-se dizer do hábito de acessar as redes públicas de Wi-Fi, em aeroportos, repartições públicas, bancos, lojas e centros de consumo, tudo com a maior normalidade.

Logo tente imaginar, quando você chega em um estabelecimento, como o aeroporto por exemplo, e está com urgência para se conectar a internet, acaba utilizando o sinal de Wi-Fi disponível gratuitamente nesses ambientes. Ocorre que quando algo é de graça é porque a mercadoria é você. No caso dos sinais de Wi-Fi gratuitos a mercadoria são seus dados pessoais, pois essa é a principal forma dos operadores de redes privadas de Wi-Fi disponibilizadas gratuitamente se monetizarem.

Funciona da seguinte maneira: Você se conecta a uma rede de Wi-Fi em algum estabelecimento público e para que possa usufruir da conexão deve efetuar um cadastro. Esse cadastro contém diversas informações, como seu facebook, e-mail, telefone, nome e/ou demais dados adicionais que a administradora dessa rede solicite.

Pois bem, uma vez que a empresa recebe esses dados ela pode ter acesso inclusive ao seu número de CPF, uma vez que para fazer o cadastro de um e-mail por exemplo, é necessário informar esse dado.

De posse dos seus dados, a empresa de Dataminer confirma se seu CPF é válido e o robô que faz o cruzamento de dados pode saber se você efetuou uma compra, ou qual sua rotina de comércio e quais produtos você tem predisposição para consumir, dessa maneira ela pode disparar promoções direcionadas para você fazendo com que assim você seja mais estimulado ainda ao consumo.

Portanto, vale a reflexão e o conhecimento para que você possa usar os serviços mas saber o que de fato ocorre com seus dados e o grande valor que eles possuem.

A Lei Geral de Proteção dos dados cria a obrigação para que as empresas protejam os dados das pessoas, o foco, portanto, é a pessoa física, e assim mesmo o serviço sendo prestado gratuitamente, é preciso comunicar o que é feito com os seus dados de forma clara.

Sim, pois invariavelmente seu dado (e-mail ou CPF) é dentro da classificação prevista na LGPD, um dado sensível, e logo sujeito aos todos os cuidados previstos nesse diploma.

E como esses serviços se remuneram? A métrica cada dia mais precisa do marketing digital, transformou as plataformas digitais líderes de audiência em líderes na publicidade digital, e assim Google e Facebook lideram este mercado sendo os dois grandes players com uma concentração dos investimentos em marketing nunca antes vista na história da humanidade.

No meio disso tem o uso de um ferramental de marketing que tira o navegador do sério, com suas mensagens irritantes que informam seu uso e navegabilidade, avisando por onde você andou, os cookies. Para muitos eles são na verdade um daqueles absurdos de legalidade questionável, em muitos países onde a legislação quanto ao uso de dados seja mais restritiva, e como no caso brasileiro, continuam existindo graças a inoperância dos legisladores incapazes de entender que o efeito das leis mal feitas não é corrigir o problema que supostamente pretendia corrigir, mas em alguns casos, tornar esse problema ainda pior, por isso o risco de uma lei anti Fake News feita às pressas, onde o tiro pode sair pela culatra.

Na verdade, os cookies são uma solução simples e de baixo custo criada pela Netscape, a fim de permitir a preservação de informações entre diferentes sessões de navegação. Os cookies eram um pequeno identificador armazenado no computador do usuário que servia, simplesmente, para saber se esse usuário já havia estado na página anteriormente e poder vinculá-lo com ações anteriores realizadas naquela página, especialmente (na época) com a possibilidade de que ele tivesse armazenado algo em um carrinho de compras. Deve-se notar que os cookies não armazenam informações pessoais do usuário(já existem no mercado ferramentas que podem ligar essa navegação a uma base de dados), mas simplesmente um identificador exclusivo que vinculou esse usuário com o que a página poderia saber sobre ele ou suas ações. As informações pessoais não estão em cookies, mas nos arquivos do site que as coloca.

Logo a atividade na web praticamente deixou de ser concebida sem cookies. Por um lado, porque praticamente condenou sites que não os usavam para se relacionar cegamente. Por outro lado, porque eles eram essenciais para poder usar uma ferramenta que estava se tornando completamente onipresente: a análise. E, finalmente, porque eles representavam a possibilidade de seguir um usuário e saber quais sites tinham visitado ou quais anúncios tinham visto. Esta última parte, que corresponde à indústria publicitária, sem dúvida tornou-se a que mais gerou abusos, mais inquietação, mais paranóia e em última instância, a legislação para coibir abusos.

A partir dessa reação justificada de rejeição, os usuários começaram a mudar seu comportamento. Alguns se dedicavam a excluir periodicamente cookies, com tudo o que poderia levar ao desconforto, exclusão de cookies que armazenam senhas, carrinhos de compras ou definiam preferências. Outros instalaram complementos específicos para bloquear esses cookies, ou toda a publicidade, porém muitos resignaram-se o aborrecimento, e esperaram que os navegadores resolvessem para eles. Primeiro foi o Safari, que em 2017 decidiu dar ao usuário um nível muito maior de controle sobre cookies, e ganhou acusações de sabotagem pela indústria publicitária. Simplificando, essa tecnologia de rastreamento de anúncios tornou-se tão onipresente que as empresas de rastreamento de anúncios agora poderiam coletar e recriar a maior parte do histórico de navegação de uma pessoa sem sua permissão e usá-lo para direcionamento e redirecionamento de anúncios, para que pudessem perseguir pessoas na Internet com seus anúncios.

Apple, Safari entre outros foram tomando suas providências conservadoras, afinal o Brave bem antes desses gigantes já havia despertado a fúria da indústria de Cookies, ao lançar um navegador que não só bloqueava a publicidade, mas oferecia a capacidade do usuário de substituí-lo por outros anúncios e cobrar com base em sua exposição à publicidade.

Finalmente o ator principal, o Chrome que pertence a um Google que obviamente vive da publicidade, mas para o qual os cookies são cada vez menos necessários, já que a maioria de seus usuários navegam em um de seus serviços, colocando quase que um fim a participação dos cookies no mercado de publicidade digital.

Diversas soluções, levantadas por grandes empresas com considerável participação na web, trabalham com o propósito de obter dados de identificação do usuário, pedindo algo tão simples quanto identificar por um login, o equivalente ao que o Google, que também levanta suas ideias sobre ele, alcançada há muito tempo através de serviços como o Gmail e outros. Empresas menores, estão em um dilema, ou caem nos braços do Google e de outras, ou propõem ideias mais respeitosas, ou tentam usar sistemas intrusivos, como impressão digital, coleta de dados do dispositivo, do navegador e da conexão do usuário para tentar obter combinações únicas que o identifiquem.

A proteção a privacidade dos dados e o direito a livre escolha de conteúdo andam a par e passo com a publicidade digital e o respeito a autonomia informacional é a pedra de partida na reconstrução desse setor.

Logo ao acessar uma rede gratuita de Wi-Fi, fique certo de que seus dados alimentam plataformas que performam anúncios e que tentam através das suas buscas identificar as suas necessidades para lhe ofertar serviços e produtos, cujo anunciantes tenha contratado essas plataformas.

O Wi-Fi é a penas uma rede de captura, um filtro informacional, que melhora as ferramentas de marketing digital das grandes plataformas, por isso que ao acessar uma rede free, fique certo que seus dados são a mercadoria, e seu tempo a forma de melhor monetizar.

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