Aprendemos em nossa idade escolar que a fotossíntese é o principal mecanismo de conversão da matéria inorgânica em matéria orgânica graças à energia da luz. E é justamente graças à fotossíntese, onde as plantas são capazes de usar dióxido de carbono e energia leve para gerar biomassa, que constitui direta ou indiretamente o alimento que comemos.
Porém seu rendimento não é particularmente brilhante, pois estima-se que apenas 1% da energia fornecida pela luz e dióxido de carbono acaba sendo incorporada à planta na forma de biomassa, ou seja um absoluto desperdício de energia. O muitos cientistas hoje discutem, é o que aconteceria se pudéssemos hackear tecnologicamente esse processo para multiplicar a eficiência na geração de biomassa e, portanto, poderíamos obter processos mais produtivos?
Um estudo interessante procura desenvolver um novo modelo de fotossíntese artificial, utilizando um processo eletrocatalítico de duas etapas para converter dióxido de carbono, eletricidade e água em acetato, que pode ser utilizado por múltiplos organismos crescerem, e também fazê-lo no escuro, sem a necessidade da entrada de luz. Se começarmos a partir da eletricidade obtida por processos renováveis, como o gerado por painéis solares, para alimentar o processo eletrocatalítico, podemos aumentar a conversão da luz para a biomassa por um fator de 18 no caso de alguns organismos como algas verdes, leveduras ou micelia fúngica. Muitas plantas, como feijão, ervilha, tomate ou arroz também são suscetíveis a crescer no escuro com uma contribuição de acetato, pense o que isso representa na agricultura?
Um mecanismo híbrido como este permitiria não só obter biomassa para alimentos de forma muito mais eficiente, mas também fornecer possibilidades muito interessantes, como dedicar áreas a culturas que antes não eram utilizáveis, em ambientes controlados, cada vez mais interessantes devido à crescente instabilidade do clima e desastres como furacões, inundações, etc. que ameaçam muitas culturas, nas cidades, ou mesmo em marte como quer Elon Musk? Possibilitando a obtenção de alimentos cultivados em bases espaciais em circunstâncias muito mais limitantes e através de processos muito mais produtivos do que a agricultura tradicional.
A ciência assim estaria hackeando a fotossíntese? Quando redesenhamos um processo natural na base de toda a cadeia alimentar para poder substituir uma de suas fases por uma artificial muito mais produtiva. Tudo é claro vai depender do balanço energético e do custo do processo.
Pense isso no processo de sequestro de carbono?
No caso brasileiro devemos lembrar a importância da agricultura, e o controle das emissões, onde dois pontos fazem acender a luz amarela: o desmatamento e a agricultura.
A fotossíntese já exerce um papel fundamental no sequestre de carbono, de forma eficiente e em escala, por isso a defesa da cobertura vegetal.
Temos de olhar sempre para a cadeia. Uma coisa é desenvolver no laboratório, mas há todo um caminho de políticas para desenvolver isso, que facilitem a adoção dessas tecnologias. Depende também de incentivo público. Não adianta ter o produto na prateleira e não ter política que incentive a adoção dessas novas tecnologias.
A sustentabilidade não é um discurso de moda ou uma visão do politicamente correto, afinal a intensidade dos desastres climáticos já é o suficiente para entendermos que é preciso tratar o mundo de forma diferente. Quando nos defendendo atacando o passado dos demais países, praticamos algo que é muito comum nas políticas de extremos, o negacionismo.