O que é belo? Por quanto tempo o que é belo hoje permanece na velocidade conceitual e mercantilista das redes sociais?
Diariamente e de forma intensa, abrimos nossos celulares e nas diversas redes sociais que nós e nossos filhos frequentam nos deparamos com aquela pessoa que tem uma imagem escultural, uma perfeição, seja pelos filtros, academias e outros aplicativos que tornam muitos e suas publicações, verdadeiros avatares.
Quantos encontros já foram marcados pelos aplicativos de namoro com pessoas bem diferentes das suas fotos de perfil?
Quando a convivência com esses perfis se torna diárias para jovens e crianças estabelecemos um padrão ditatorial de estética, afinal mais likes geram mais publicações nos feeds e mas comentários geram dentro da economia da desatenção mais visualizações.
Assim jovens e adultos viram prisioneiros de estereótipos estéticos quase que inatingíveis. Vamos ao espelho, nos comparamos numa obrigação estética que é imposta pela ditadura dos algoritmos de atenção, e que muitos de nós republicamos com filtros e outros “avanços” tecnológicos pra ficarmos mais próximos das novas referências.
Para pessoas que sofrem com Transtorno de Imagem, não é tão simples assim, também conhecido tecnicamente como Transtorno Dismórfico Corporal ele envolve pessoas que acreditam serem portadoras de algum ‘defeito’ que lhes confere feiura ou as fazem ser o centro negativo das atenções. O caso pode ocorrer por uma crença no que chamam de um nariz torto, um cabelo sem valor, um rosto quadrado pernas tortas etc”, em quantos encontros de amigos assistimos amigas e amigos perfeitos sempre infelizes com a sua aparência? Adolescentes em plena transformação falando em intervenções cirúrgicas?
Para muitos especialistas as redes sociais podem estimular o enquadramento a um padrão de beleza estigmatizado. “A mídia social pode desencadear comparações sociais negativas que levam os usuários a acreditarem que os outros são mais felizes ou possuem uma vida melhor, levando a expectativas irrealistas e feedbacks negativos”.
Estudos indica, que o Transtorno de Imagem é hoje considerado como parte integrante do espectro obsessivo compulsivo. Mas as redes sociais são uma arma perigosíssima na mão dos pacientes. Podem trazer a ideia de que uma cirurgia plástica ou uma harmonização facial resolveria o problema. Mas não resolveria. Porque não se soluciona problema de mundo interno atuando no mundo externo.
O Transtorno de Imagem não está necessariamente ligado ao comportamento alimentar, como explica o especialista, Rodrigo de Almeida Ramos, em reportagem publicada pelo Estadão, “o Transtorno Alimentar corresponde a um conjunto de doenças que alteram o padrão de consumo de alimentos do indivíduo fazendo com que a saúde fique globalmente prejudicada. São exemplos de Transtorno Alimentar a anorexia, a bulimia e o transtorno da compulsão alimentar”.
“Nem todos esses transtornos têm como efeito o emagrecimento, mas também, podem levar à obesidade, uma vez que fazem com que os indivíduos nunca se sintam satisfeitos.
O Transtorno de Imagem é um diagnóstico complexo e que precisa ser feito por um especialista em saúde mental. “O grande segredo está no ‘divórcio’ entre a autopercepção e a percepção dos outros. Ou seja, o que a pessoa considera um defeito ou um problema pode nem ser observável pelos outros ou ser algo considerado muito discreto”, esclarece o psiquiatra, Rodrigo de Almeida Ramos, que destaca ainda que a pessoa costuma se ver frequentemente no espelho, se arruma excessivamente, troca de roupas diversas vezes para um evento e nunca se sente satisfeita.
Logo tente imaginar os milhões de jovens insatisfeitos diante da ditadura estética das redes sociais e a convivência desses nas redes sociais quando estiveram instrumentalizadas com as ferramentas do metaverso? Em breve teremos a ditadura doa avatares no metaverso, onde a perfeição dos corpos sempre será atingida por nossos avatares, como cuidar disso?
Caminhamos lentamente para um mundo tal qual previsto no filme Matrix, um dos filmes clássicos sobre realidades virtuais. Nesse caso o protagonista, NEO, acorda do mundo real onde os humanos são utilizados como pilha para sustentar energeticamente uma sociedade composta por robôs, por máquinas criadas pelos mesmos humanos, em um passado distante. A anterior realidade que considerava a sua na verdade é um mundo virtual, uma realidade simulada, controlado por essa sociedade mecânica, a fim de manter esses humanos na ilusão de suas próprias existências. O filme possui, claramente, inúmeras questões filosóficas e conceituais, extrapolando as possibilidades pensadas para o metaverso que esperamos. Logo o que esperar em uma sociedade asséptica nas relações pessoais e padronizada na ditadura da atenção estética?
Mas afinal qual a razão que nos faz entrar em uma rede social?
Encontrar amigos? Fazer novas relações? Divulgar um trabalho? Mostrar aos outros como estamos, ou como nos sentimos? Qual a nossa necessidade de estar em uma rede social?
Na lógica da economia de retenção da nossa atenção, o universo corporativo descobriu que podemos ter e fazer parte de diversas redes sociais, e cada qual com sua mensagem e público destinatário, das que valorizam fotos, a outras utilizadas para falarmos mais dos nossos avanços profissionais, bastou entender que o produto é a nossa atenção, que se converte em dados e que por sua vez se converte em mais atenção ainda no vicioso círculo da lógica da atenção, que pretende sugar nosso tempo, nossos dados e produzir como resultado mais desatenção, ao ponto de sabermos mais dos distantes do que dos nossos amados que estão bem próximos.
A loucura é tamanha que sabemos onde o nosso vizinho jantou na noite de sábado, quem ele encontrou, mas somos muitas vezes incapazes de saber o que nossos filhos fazem nesse exato momento em seus universos paralelos que chamamos de celular.
Se a informação é útil ou não, se é a mais pura verdade ou não, isso só importa se alguém reclamar ou se houver risco de uma demanda judicial.
De acordo com um estudo realizado pela entidade de saúde pública do Reino Unido, a maioria das pessoas apontou a rede social visual dos stories e reels como a que mais influencia no sentimento de ansiedade e solidão. De forma idêntica, em terras brasileiras, a Fundação Getúlio Vargas publicou estudo em 2019 mostrando que 41% dos jovens brasileiros responsabilizam as redes sociais por sintomas como tristeza, ansiedade ou depressão.
As redes criam a ditadura da estética e logo nos comparamos com os outros e sofremos. Queremos ter a vida de Instagram, o emprego de LinkedIn e a casa de Pinterest, ainda que muito pouco daquilo seja real.
O engenheiro turco Orkut Büyükkökten, conhecido no Brasil como o criador do Orkut, criou em 2016 uma nova rede social a Hello, com o propósito de ser uma rede social para relações profundas.
Considerando que depois de seis anos a Hello não está nem entre as cinco redes sociais mais utilizadas podemos ter algumas conclusões: 1) A rede não atingiu o seu propósito. 2) As pessoas não estavam tão interessadas assim em relações mais profundas. 3) Um pouco de cada uma das alternativas acima.
O fato é que a rede que desde que foi criada a como uma rede para fazer e manter “amizades profundas” com outras pessoas com base em interesses e paixões mútuos e onde o “medo e o ódio não têm vez”, o aplicativo ainda não decolou, e nesse momento não fica nem entre as 17 redes sociais mais baixadas no mundo.
Para Orkut, em entrevista à BBC na época em que criou a sua nova rede: “Uma pessoa usa o Facebook pensando na forma como quer ser percebida publicamente, interage com os outros tentando passar uma certa imagem, mas isso não é autêntico nem divertido. Queremos mudar isso e ser a próxima geração das redes sociais.”
Na última década surgiram diversas novas redes socias, e poucas conseguiram ameaçar a hegemonia do Grupo Meta e suas redes (Facebook, Instagram, WhatsApp e Messenger)
Seria uma fadiga das redes sociais ou uma acomodação diante do atual cenário, em que às redes líderes já dominam nossos hábitos?
Aparentemente as pessoas se inscrevem em diferentes serviços por diferentes motivos, e estar em tantas delas ao mesmo tempo acaba gerando um cansaço, ou seja desatenção, onde as pessoas nem sabem o que de fato estão curtindo e o fazem no hábito que chamo de protocolar.
As redes dentro da sua lógica de atenção dão vazão a tudo que possa ser multiplicado, gerando mais compartilhamentos, curtidas e comentários e assim toda tristeza e mágoa que é despejada nela se multiplica, todo delírio ganha adesões e é por isso que as Fake News nela se multiplicam.
Por isso a pergunta é sempre pertinente, até onde algoritmos que regram a lógica comercial das redes sociais podem de forma legal regrar nossas relações pessoais?
É nessa confusão de sentimentos que repousa o diabo das redes sociais, aquele que ao invés de nos aconselhar a conversar com quem verdadeiramente nos ama, nos leva a acreditar que a audiência de colegas, conhecidos e muitos desconhecidos pode de alguma forma nos ajudar. Um estudo publicado na revista Current Biology prova que a beleza realmente está nos olhos de quem vê. Os pesquisadores descobriram que muito do que atrai as pessoas é guiado por suas experiências individuais.
Para fazer a pesquisa, os cientistas criaram um teste online com 200 imagens de rostos diferentes, sendo que alguns foram gerados por computadores para melhor imitar o que vemos no mundo real.
Mais de 35 mil voluntários visitaram o site para dizer quais eram os aspectos faciais de uma pessoa que eles achavam mais atraentes. Eles precisaram dar notas em uma escala de 1 (nenhuma atração) a 7 (super atração), isso em 2015.
De acordo com os cientistas, esta parte do estudo ajudou a reforçar a noção de que as preferências físicas de uma pessoa são relativamente previsíveis.
Na segunda fase da pesquisa, os cientistas entregaram o mesmo teste para 547 pares de gêmeos idênticos e 214 pares de gêmeos não-idênticos. Eles queriam estimar a contribuição relativa dos genes para comparar com as preferências pessoais.
Porém, o que esta nova pesquisa revelou foi que as preferências de uma pessoa são baseadas, principalmente, em experiências. Além disso, eles também notaram que elas são extremamente específicas para cada ser humano.
Segundo os cientistas, as bagagens pessoais de cada um são tão sutis, que elas não estão relacionadas com a escola que a pessoa foi ou outros fatores socioeconômicos.
Os pesquisadores querem identificar, especificamente, quais são os aspectos faciais que atraem a atenção de cada indivíduo. Além disso, eles também querem saber quais são as experiências que mais tem impacto quando o assunto é atração.
Nessas horas me lembro de Iolanda Cabral:
É
A beleza está nos olhos de quem vê
e no coração de quem sente
Se sou capaz de sentir o que vejo
Sou capaz de ver o que sinto
Compreender e aceitar quem sou