Para o Banco Mundial, cidades inteligentes são aquelas que praticam políticas baseadas em intensidade tecnológica e em inovações direcionadas à melhor eficiência dos serviços e do aproveitamento mais sustentável de seus recursos.
Na área energética, soluções que visam a utilização mais racional da eletricidade, digitalização e substituição de combustíveis menos poluentes são partes cada vez mais importantes nessa transformação, logo o transporte público está inserido nessa transformação.
A pandemia, mudou hábitos, e com isso, ao menos temporariamente, redesenhou modais logísticos, com o transporte público que foi atingido pela necessidade de se evitar aglomerações em pequenos espaços como ônibus, metrôs e trens.
Logo a mudança de modal, acentuada no transporte público, sofre uma parada para um melhor planejamento e na execução de obras de infraestrutura. Isso passa desde a mobilidade, dos veículos híbridos e elétricos, até a automação da rede, e melhor informação para os usuários da rede de transporte.
Vejamos oque ocorre em Paris, como referência, uma das maiores metrópoles do mundo, com mais de 105 km² de área, onde cruzar a cidade de uma ponta a outra leva cerca de 45 minutos de metrô, 55 minutos de bicicleta, todas opções interessantes quando você está sem grandes, dependendo da sua urgência, porém potencialmente inconveniente para quem precisa fazer esses deslocamentos todos os dias, ajuste isso a cidades de São Paulo, ou qualquer outra grande metrópole do Brasil ou do mundo.
Com esse desafio a prefeita Anne Hidalgo, está propondo um projeto urbanístico inovador: transformar Paris em uma ‘cidade de 15 minutos’ (conceito do cientista Carlos Moreno, professor de empreendedorismo, território e inovação na Universidade Sorbonne).
Moreno entende que a cidade deve se organizar, de forma que as pessoas não precisem caminhar mais do que 15 minutos, a partir das suas casas, para terem acesso aos serviços essenciais do cotidiano, como supermercados, restaurantes, escolas, praças e parques, academias de ginástica e opções de lazer, algo que mais recentemente o regime de home office deu uma pequena amostra as pessoas.
É bom lembrar que desde 2008, o professor aprimora e defende esse projeto. Ele é um dos precursores do conceito de ‘cidades inteligentes’ e sustenta ser esse o melhor caminho para uma vida urbana mais sustentável, uso mais racional dos recursos e redução das emissões de CO2 na atmosfera.
Logo dividir as cidades em ambientes menores também é humanizar mais esses grandes aglomerados de pessoas, o projeto que deve ser implementado em Paris é ousado e muito promissor.
Assim adoção de novos modais, como bikes, patinetes ajudam e muito na integração modal entre a micro e a macro mobilidade, por isso soluções como compartilhamento de veículos e carros elétricos devem ser incorporadas no dia a dia das metrópoles.
A integração inteligente combinada de modais integrados, disponível com a projeção de tempo das viagens através de aplicativos públicos é uma senhora mão na construção dessa cultura, pois de forma integrada ônibus, metrô, VLT, bikes e patinetes fazem a diferença.
O fato é que muitas pessoas estão vendo na saída de uma pandemia que esvaziou drasticamente o transporte público, a oportunidade para redesenhá-lo de uma maneira que o torne atraente para todos os cidadãos, independentemente de seu nível de renda, e torná-lo, através de ambiciosos planos de investimento nas maiores cidade do mundo, a verdadeira solução para o congestionamento da cidade e para reduzir as emissões.
Uma recuperação verde do transporte público que está destinada a desempenhar um grande papel em nosso futuro: se reduzirmos o necessário abandono dos combustíveis fósseis à adoção de veículos elétricos para uso privado (responsável por 75% das emissões urbanas), as emissões produzidas pelo transporte ainda cresceriam até 16% a mais no ano de 2050, algo completamente incompatível com os acordos cruciais de Paris.
Ë sabido que grande parte dessas emissões não ocorram nas cidades, mas em aviões, navios e outros meios de transporte, não há dúvida de que as cidades se tornaram verdadeiros fornos, ilhas de calor, devido ao efeito combinado de suas emissões e aquecimento global. Temos apenas dez anos para reduzir pela metade nossas emissões de dióxido de carbono, e isso exigirá mudanças muito ambiciosas e certamente impopulares, mas não menos essenciais.
Nesse momento, além de Paris, Oxford e Coventry implantam ônibus elétricos, Helsinki espera se diferenciar como a cidade com o melhor transporte urbano do mundo até 2035, Dubai espera que 25% de todos os movimentos na cidade estejam em robotaxis elétricos, enquanto Málaga, Oxford e várias cidades chinesas experimentam com ônibus autônomos elétricos.
Assim, em todo o mundo, as ciclovias estão drasticamente aumentando, bem como postos de combustível em área urbana estão sendo retirados, tudo com o propósito de desestimular o uso de carros nas cidades.
As medidas, nem sempre serão populares, e quase sempre exigem complexidade, como a eliminação dos estacionamentos de superfície, alargando calçadas e ampliando as ciclovias.
O futuro, não passa por carros autônomos, mas pelo transporte público de qualidade.
De acordo com dados da Agência Europeia do Meio Ambiente, o trem é responsável pela emissão de 14 gramas de dióxido de carbono por passageiro por milha em comparação com os 285 gramas necessários para transportar o mesmo passageiro de avião, e os 158 gramas que seriam esse deslocamento em um veículo com motor de combustão interna. Dependendo da jornada, a economia nas emissões pode ser tão baixa quanto 90%.
A racionalização das emissões do transporte é um dos principais desafios que enfrentamos em termos da necessária redução das emissões no planeta. De fato, a medida original proposta buscava eliminar essas rotas de transporte aéreo para destinos que poderiam ser alcançados de trem em menos de quatro horas, o que significaria uma redução muito maior da atividade de voos domésticos em um país do tamanho da França.
A transformação digital, com a incorporação do home office é um senhor estímulo para esse repensar, pois são necessários menos veículos nas vias, e menos tempo perdido no caótico trânsito.
É preciso dotar todo cidadão de informações on-line sobre a logística pública para ele decidir pelo melhor modal, de forma integrada.
É bom lembrar que no fim de março, Joe Biden revelou o plano de investimento em infraestrutura mais ambicioso por muitas décadas, com o objetivo de adaptar seu país ao novo contexto tecnológico e, acima de tudo, responder aos desafios que coloca. O plano procura alocar cerca de dois trilhões de dólares para construir novos modais de infra estrutura, não à toa gerando emprego para mão de obra mais simples.
Apelidado de “Bidenomics”, o plano prevê investimentos clássicos em infraestrutura como transportes (estradas, aeroportos, trens, transporte público ou veículos elétricos) ou infraestrutura local (redes de abastecimento de água, conectividade ou eletricidade, reformas e construção de moradia sustentável ou investimento em educação), até questões como o cuidado de idosos e deficientes, por meio de conceitos como pesquisa e desenvolvimento.
Uma parte central do plano inclui a transição para a energia limpa e o abandono progressivo dos combustíveis fósseis nos próximos quinze anos, estabelecendo metas ambiciosas que exigirão que as companhias de eletricidade estabeleçam metas muito específicas em renováveis, que aumentarão ao longo do tempo, para alcançar um mix de energia completamente baseado em renováveis em 2035, no que seria a maior intervenção federal no setor elétrico nas últimas gerações.
Além disso, um plano para remover veículos poluentes das estradas, estabelecendo metas de emissão tão baixas que pouquíssimos veículos com motor de combustão interna podem atendê-los, o que resultaria em serem retirados da estrada quando passassem pela revisão técnica obrigatória regular. Juntamente com a redução progressiva das emissões da produção de energia e possíveis planos para a captura de dióxido de carbono da atmosfera, estamos falando em tornar os Estados Unidos um dos líderes mundiais na redução de suas emissões, bem como em tecnologias consideradas futuras, como baterias, energias limpas ou veículos elétricos, cujo mercado é muito menor e, portanto, menos eficiente, do que o de países como a China.
Toda essa mudança exige novos marcos regulatórios nas cidades, que implicam em melhor uso do solo, e das áreas edificadas, assim também como dos estímulos fiscais para implantação e consolidação de novos modais não poluentes, até que os mesmos tenham escala suficiente pra não dependerem da renúncia fiscal.
A transformação digital, ocorre de forma ordenada quando o Estado é participe desse planejamento, pois sozinha a lógica do mercado pouco faz nessa área.