Como explicar o derretimento da indústria brasileira, que há décadas vem se desmilinguindo? Como explicar que mesmo com cerca de 210 milhões de consumidores, e de um BNDES com mais de R$700 bilhões em ativos, e com juros e proteção de incentivos fiscais ela continua diminuindo? Como explicar que ela fique menor mesmo com um câmbio pra lá de favorável?
Como explicar o fechamento de fábricas modernas de marcas tradicionais como Ford, Mercedes e a Sony?
Nas entidades de classe o culpado é sempre o mesmo, o elevado custo tributário em um Estado perdulário, que só cresce de tamanho, e que não dá a menor pinta de que vai diminuir ou reduzir os benefícios setoriais de umas poucas categorias privilegiadas.
Mas os pontos acima não são novos, e logo são condições, ou seja como sobreviver com uma carga tributária elevada e com juros altos? Qual o índice de inovação dessa indústria? Quanto dessa indústria verticalizou sua cadeia como vem fazendo a Apple, indo do chip a loja? Quantas são as indústrias brasileiras que estabeleceram parecerias com centros universitários de inovação? Quantas fábricas tem parcerias com cursos técnicos de design, ou de tecnologia?
Isso sem falar da falta de acordos comerciais e da baixa integração da indústria brasileira nas cadeias globais de produção e distribuição. Não se fazem acordos comerciais que abram mercado para o produto brasileiro sem dar contrapartidas para os produtores globais no mercado interno.
Para essa indústria atrasada a transformação digital parece se limitar a colocar as fotos da empresa em um site, e chamar o filho mais novo do acionista para participar da inovação da empresa.
A verdadeira transformação digital vai muito além, pois o que transforma digitalmente uma empresa, além da tecnologia, é o seu alinhamento de conceitos. Pense em uma indústria que fabrica móveis escolares a mais de três décadas, qual o passo que essa indústria deveria ter dado nesse período, quando o ensino a distância já representa mais de 50% das novas matrículas? Qual plataforma de ensino à distância ela desenvolveu? Qual mobiliário para estudo em casa ela criou? Considerando que as compras on-line já superaram as vendas em shoppings centers qual a inovação feita para vender produtos que possas ser despachados pelos correios, exigindo assim um redesenho do produto para esse canal?
A transformação digital, carrega consigo a convergência de múltiplas tecnologias inovadoras potencializadas pela conectividade, que atenderão de maneira superior a uma demanda latente da sociedade ou do consumidor. São ferramentas como big data, computação em nuvem, internet das coisas, sensores, inteligência artificial, blockchain e realidade aumentada. Ao utilizá-las, é possível melhorar a performance, ganhar eficiência, expandir o alcance de um produto ou de um serviço, conectar pessoas e dispositivos instantaneamente, em qualquer lugar. Isso é o básico.
De que forma a nossa indústria participa da disrupção? De que maneira essa mesma indústria vai participar desses novos serviços que surgem? Economia colaborativa, economia circular, economia de atenção, onde a atual indústria encontra o seu papel/ Pois é disso que falamos, a roda econômica gira e não para pra você embarcar.
Veja o exemplo do serviço de taxi, depois do surgimento dos inúmeros serviços de compartilhamento como Uber, 99 e Cabify, o que mudou no serviço do taxi?
Veja a disruptura nesse setor existiu pois o mercado queria um serviço diferente e com preço mais acessível, e logo ter um aplicativo de táxi conectando passageiros e motoristas não seria possível se não houvesse internet, celulares no bolso da maior parte da população, mapas digitais, algoritmos de otimização de rotas e uma turma com energia para mudar hábitos de países inteiros por meio de testes e ajustes no produto. Entretanto, a mudança também não aconteceria se não existisse uma demanda da sociedade por melhores serviços de táxi e transporte urbano ou se o serviço prestado por quem dominava o mercado fosse excelente, essa demanda nasceu pois o serviço de taxi era e é ruim.
Nas projeções do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE), o PIB do país deve avançar 0,6% em 2022, com o PIB da agropecuária crescendo 3,5% e o de serviços, 1,3%. Já o da indústria deve ter queda de 1,1%, com a indústria de transformação registrando a pior performance: recuo de 3,2%.
Segundo os cálculos do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), com base em dados do IBGE, mostram que, na média de 2019 a 2021, 63,9% da força de trabalho da indústria tinha carteira assinada. Nos serviços, a proporção foi de 40% e na agricultura, de 16,6%, ou seja a indústria é fundamental para manutenção do emprego formal.
É bom lembrar que para cada R$ 1 gerado pelo segmento leva ao acréscimo de R$ 2,14 no PIB. No setor de serviços, o efeito é de R$ 1,46; na agropecuária, de R$ 1,67, aponta o Iedi. A elevação dos juros públicos só vai piorar essa situação pois com crédito mais baixo a indústria não consegue investir e paga a conta do desmando fiscal do governo.
A transformação digital não é uma pílula mágica, ela requer a compreensão de empresários, empregados e a sociedade civil organizada na junção de esforços para redesenhar o setor produtivo, seja na modernização das plantas, ou na redução do custo da cadeia da produção a distribuição. Repensar é um ato coletivo, plural e vem acompanhado do necessário ganho de massa salarial, o que não ocorre com inflação e juros elevados que condena consumidores a miséria matando junto a indústria.