Se você gasta duas horas do seu dia entre se arrumar e se deslocar para o trabalho, após 10 anos essas duas tarefas consumiram 4.840 horas da sua vida, logo imagine que em 10 anos o trânsito e o se arrumar para ir ao trabalho podem ter levado de você cerca de 302 dias se descontarmos 8 horas normais de sono.
Isso mesmo o repensar a forma de trabalhar, com trabalhos híbridos quando eles são possíveis, afinal nem todas as tarefas nos permitem essa mudança, pode representar mais de um ano de ganho em apenas 10 anos.
A possibilidade de trabalhar de forma híbrida é uma das bias heranças que a pandemia nos proporcionou, é claro que isso só pode e deve ocorrer desde que tenhamos ganhos de produtividade e não como desculpa para funcionários fantasmas que ficam em suas casas assistindo a canais de streaming em horário de expediente, trabalhar de casa ou de qualquer outro lugar que evite longos deslocamentos é possível com as diversas formas de controle de produtividade já disponíveis do mercado, e esse hibrido será distinto de acordo com cada função e com cada local de trabalho, não existindo uma regra única. O certo é que a sustentabilidade do planeta ganha e muito com menos carros circulando em nossas ruas, imitindo menos gazes e tornando as nossas cidades mais tranquilas com ganho tão almejado na nossa qualidade de vida.
A transformação digital é tão inevitável quanto o impacto nas nossas relações sociais e econômicas.
Quem contrata um serviço ou adquire produtos, com valor mais barato está atrás de economia e infelizmente o faz com pouca ou quase nenhuma visão social, logo o papel da sociedade civil organizada é operar de forma ordenada na intervenção construtiva dessa transformação.
Só a inovação cultural que aposta nas pessoas e nos seus processos produtivos se mantém, a inovação permanente não é mais um diferencial, mas um pré-requisito para se manter vivo no mercado, onde a inovação é uma estrada obrigatória.
A Constituição brasileira elege o trabalho e também o fomento à iniciativa privada como valores indissociáveis, e logo é preciso avançar nessa regulamentação, sempre pensando na formação de uma poupança previdenciária, logo é do requisito da indissociabilidade que deve caminhar a transformação digital, no sopesamento desses valores.
O trabalho híbrido tem muitos benefícios, mas a sustentabilidade é um que se destacou recentemente. A sustentabilidade desempenha um papel fundamental nas conversas de ESG (ambiental, social e governança) e CSR (responsabilidade social corporativa).
Adotar uma abordagem de trabalho híbrido sustentável é tão importante, tanto do ponto de vista ambiental quanto de inclusão.
Empresas de tecnologia como Amazon ou Meta reconsideram seus planos de expansão de escritórios e optam por abandonar as reservas de edifícios que haviam feito e para redesenhos visando melhor acomodar as necessidades do modelo de trabalho híbrido, no qual as pessoas são livres para ir ao escritório quando querem ou trabalham em casa ou de outro lugar quando julgarem apropriado. A Apple atrasa seus planos de retornar ao escritório, e o Google começa a ver que a sua cultura está ultrapassada e que nem mesmo seus escritórios supostamente maravilhosos e seus benefícios conseguem ser rivais ao apelo de se trabalhar em casa.
Os benefícios para o trabalhador são óbvios: conforto, liberdade, a possibilidade de fazer pausas quando se considera mais oportuno e a não necessidade de passar um tempo miserável sem fazer nada se agarrando ao volante de um carro preso em um engarrafamento na hora do rush são elementos muito bons para justificar uma maneira de trabalhar que muitos conheciam durante a pandemia, mas que temos sido gradualmente aperfeiçoando. Você precisa ver sua equipe ou alguém pessoalmente, quer usar a facilidade para receber um cliente, ou você só quer socializar? Você vai ao escritório, com a flexibilidade para fazê-lo no dia e horário que parece bom para você, e você encontrará escritórios redesenhados precisamente para acomodar esse tipo de necessidades. Você prefere participar de casa? As salas de reunião estarão cada vez mais equipadas para isso. Em termos de sustentabilidade para o meio ambiente e, sobretudo, sustentabilidade do relacionamento com o trabalhador, a coisa não poderia ser mais clara.
Recentemente o Governo da Bélgica, estabeleceu um limite diário de 10 horas de trabalho e também regulamenta o direito de desconexão. A ideia é modernizar o mercado de trabalho que permitirá concentrar as horas da semana de trabalho em quatro dias e flexibilizar os horários dos trabalhadores.
O objetivo da reforma é fortalecer trabalhadores e empresas, e segundo o presidente do Governo belga, Alexander De Croo, estabelecer uma reforma que vise uma “economia mais sustentável, inovadora e digital”.
A reforma trabalhista permitirá que os trabalhadores concentrem sua semana de trabalho em quatro dias para lhes dar maior “flexibilidade” na gestão de seus horários, embora essa mudança não signifique uma redução das horas trabalhadas. Os funcionários poderão reduzir um dia útil se aumentarem o número de horas diárias trabalhadas, para que possam passar de trabalhar de cinco para quatro dias. A reforma contempla uma condição máxima de 9,5 horas de trabalho diário prorrogável até 10 horas, acordo prévio entre empresa e sindicatos.
Os funcionários que desejarem fazê-lo poderão trabalhar mais horas por semana para compensá-lo com menos horas de trabalho na próxima. No entanto, deve ser o trabalhador que solicita ambas as fórmulas de trabalho. Além disso, os funcionários com horários variáveis devem ter uma previsão de seus dias com pelo menos sete dias de antecedência.
Além disso, empresas com mais de 20 funcionários devem oferecer aos seus funcionários o direito de desconectar após o horário de trabalho, o que significa que eles não terão que atender chamadas ou responder a e-mails entre 11 p.m. e 5 a.m.
A reforma do mercado de trabalho belga também fortalecerá o direito à formação dos funcionários, com base no qual empresas com mais de 20 funcionários terão que apresentar planos de treinamento para desenvolver as habilidades dos trabalhadores, na lógica de que a transformação é responsabilidade de todos.
A reforma do mercado de trabalho belga contempla uma seção para as plataformas de “entrega” pelas quais facilitará o trabalho noturno para o setor de comércio eletrônico e que os trabalhadores das empresas de entrega de alimentos tenham melhor proteção, algo que já vem ocorrendo no enfrentamento das plataformas de economia “colaborativa” na garantia de direitos mínimos.
À medida que os funcionários reclamam do burnout e lidam com o trabalho híbrido (uma combinação de trabalho remoto e escritório), alguns empregadores estão tentando reduzir o número de reuniões. A Microsoft reportou um aumento de 150% no tempo que um trabalhador americano médio gastou na plataforma Teams entre setembro de 2019 e setembro de 2020, com um ligeiro aumento no ano seguinte. O número de reuniões por pessoa também aumentou, assim como as reuniões fora do horário convencional de escritório de 9 para 5, levando a empresa de tecnologia a concluir que mais pessoas se adaptaram a um dia de trabalho mais longo.
A “bolha de reunião” significa que os gestores gastam cerca de três quartos de seu tempo em reuniões ou se preparando para eles. “Os gestores precisam se perguntar: ‘Eu realmente preciso dessa reunião?’ E cancelá-lo mais tarde.
Logo reserve um dia por semana para reuniões internas, como reuniões de equipe e um a um. Em seguida, solicite um ou dois dias de reuniões externas, incluindo reuniões com clientes ou entrevistas com novas contratações; os dias restantes são reservados para trabalhos ininterruptos.
Esse tipo de planejamento requer um pensamento estratégico na escala superior da empresa, diz Henrik Stenmann, presidente da Internet Intelligence House Nordic, uma agência de marketing digital, que introduziu uma semana de quatro dias em 2017. Isso proporcionou o impulso para reduzir o” tempo de inatividade “. A empresa encurtou o sistema de reserva padrão: as reuniões de uma hora foram de 45 minutos e as reuniões de meia hora foram reduzidas para 20 minutos.
O tempo nos ensina que não existem soluções simples para problemas complexos e esse é um deles, pois além de cuidarmos da atualização dos que perdem seus empregos é preciso entender que apenas reciclar com programas de treinamento esses profissionais não será suficiente, logo é necessário flexibilizar algumas regras de contratação, seja na sua carga de horário ou no seu local de trabalho, sempre é claro levando em conta o compromisso desses postos de trabalho com a previdência na sustentabilidade do cálculo atuarial.
Vejamos então, se o desenvolvimento tecnológico permite um esforço menor, então qual a razão de nos sentirmos ainda mais cansados?
Afinal se o desenvolvimento da tecnologia permite níveis cada vez mais elevados de produtividade, qual a razão de levarmos tanto trabalho para as nossas casas e atravessarmos noites e fins de semana trabalhando?
Afinal, se a automação contínua destrói diariamente mais empregos, então por que não reduzimos o número de horas trabalhadas para conservarmos mais posições de trabalho?
Segundo um estudo da Comissão Europeia, atualmente 37% dos empregos no continente europeu poderiam ser realizados remotamente. Logo, pense no seguinte: mais pessoas trabalhando em casa significa uma mudança no trânsito, com ganhos de produtividade na locomoção para todos, bem como alteração de parte do eixo econômico para os bairros, o que significa uma melhor distribuição do fluxo da renda. O que representa mais atividade no bairro com tempo para academias, cursos de línguas e pais que podem levar e buscar seus filhos no colégio a pé.
Incrível como as coisas mudam ao nosso redor, e para o nosso negócio continuamos respondendo de forma conservadora, querendo ver todos ao nosso redor e dispor a todo tempo, exigindo mais e mais atenção, em um processo que produz como resultado mais desatenção.
Fica cada vez mais claro que o trabalho do futuro não terá nada a ver com engarrafamentos ou trabalhadores sentados em uma cadeira por quase 8 horas para mostrar que estão fazendo algo.
Os ganhos tecnológicos permanecem hoje por um período bem menor, pois a cultura do mercado compele novos agentes para ofertarem os mesmos ou melhores benefícios em escala para todos. O ganho coletivo sempre será a mola impulsionadora das mudanças.