O matemático Theodore Kaczynski, é considerado por muitos um prodígio da matemática, desde a sua infância seus dotes intelectuais eram reconhecidos por professores, amigos e vizinho. Depois obter 167 pontos em um teste de QI, Ted avançou diversas séries do ensino básico indo parar na sexta série, os vizinhos reconheciam o potencial dele desde criança e no ensino médio alguns amigos o retratavam como um cérebro ambulante, por assim dizer.
Quando criança se identificava com a matemática resolvendo problemas avançados, estando sempre à frente dos seus colegas, formou-se aos 15 anos e ficou entre os cinco finalistas do National Merit da escola e foi incentivado a se candidatar ao Harvard College, onde entrou aos 16 anos de idade.
Em 1962, Kaczynski obteve seu diploma de Bacharel em Artes, pela Universidade Harvard. Ele terminou com uma média de 3,12 GPA muito acima da média, e indo logo em seguida para a Universidade de Michigan, onde obteve seu mestrado e doutorado em matemática, onde iniciou sua atividade docente.
Foi na Universidade de Michigan, que ele especializou-se em análises complexas, especificamente na teoria das funções geométricas. Seu intelecto e impulso impressionaram seus professores.
Em 1967, a dissertação de Ted, Boundary Functions, ganhou o prêmio Sumner B. Myers para a melhor dissertação de matemática do Michigan. Allen Shields, seu orientador de doutorado, o chamou de “o melhor que já dirigi.” Aos 25 anos, tornou-se o mais jovem professor assistente de matemática na história da Universidade da Califórnia, Berkeley, onde lecionou cursos de graduação em geometria e cálculo, renunciando ao cargo sem nenhuma explicação em junho de 1969. Depois de se demitir de Berkeley, Kaczynski mudou-se para a casa de seus pais em Lombard, Illinois, e apenas dois anos depois, mudou-se para uma cabana remota que ele havia construído fora de Lincoln, Montana, onde ele poderia viver uma vida simples com pouco dinheiro e sem eletricidade ou água corrente.
O objetivo do matemático era tornar-se autossuficiente para que ele pudesse viver de forma autônoma, vivendo em harmonia com a natureza e sem depender do mundo moderno, preservando, assim, a sua liberdade.
Com o tempo ele entendeu que era impossível viver pacificamente na natureza devido a destruição da floresta ao redor de sua cabana por projetos imobiliários e industriais, passando a se dedicar a sociologia e a filosofia.
Com o tempo os pensamentos e escritos de Ted, passaram a seguir a linha de enfrentamento aos avanços tecnológicos, algo bastante curioso para um matemático, um homem da ciência.
Logo quando discutimos os impactos da Inteligência Artificial, seguimos na compreensão da necessidade de se estabelecer os parâmetros éticos do seu uso.
Lembro que em 1917, Orville Wright previu que “o aeroplano ajudará a paz de várias maneiras; acredito particularmente que ele terá a tendência de tornar a guerra impossível” o que vimos foi o uso intenso dos aviões como máquinas de guerra na legítima apropriação da tecnologia com a transgressão da lógica de mercado, onde o diferencial tecnológico serve ao propósito de domínio. A expectativa do uso da tecnologia para fins pacíficos também fez Júlio Verne anunciar: “O submarino pode vir a causar a interrupção absoluta das batalhas, pois as frotas se tornarão inúteis e, à medida que outros materiais bélicos continuarem a melhorar, a guerra se tornará impossível”. Uma bela demonstração do otimismo tecnológico.
Na história da evolução tecnológica não faltam exemplos de usos desvirtuados na perspectiva de dominação, Alfred Nobel que criou o prêmio Nobel, também foi o inventor da dinamite, e acreditava sinceramente que seus explosivos seriam instrumento de dissuasão das guerras. “Minha dinamite levará à paz antes de mil convenções mundiais.”
É evidente que muitas dessas invenções foram benéficas, o problema é que a lógica da maximização dos resultados sempre vai encontrar outros propósitos, a mesma universalização da comunicação pela internet é a que hoje permite o registro de bilhões de dados por segundo, anotando tudo que fazemos, os mesmos algoritmos que podem identificar pandemias e a sua evolução servem também para dominação eleitoral, ou para disseminar Fake News pela mesma lógica de fazer correr a sua intenção, ou a sua “verdade” ideológica.
O desvio de inventos tecnológicos, serve a necessidade de uma sociedade que concorre pelo domínio, e quando ambos os lados da disputa fazem uso, o que vemos é sempre mais barulho, é isso que assistimos nas redes sociais na disputa pela sua atenção.
Novas tecnologias sempre abrem novas perspectivas e criam dissonâncias, em períodos de compreensão do seu potencial e de apropriação plena desses novos recursos.
Falando sobre o dilema eterno da tecnologia, o cineasta George Lucas, já em 1997 quando perguntado sobre se entendia que a tecnologia estava deixando o mundo melhor ou pior, respondeu: “Se você analisar a curva da ciência e de tudo que sabemos, ela explode que nem um foguete. Estamos nesse foguete em uma ascensão perfeitamente vertical em direção as estrelas. Mas a inteligência emocional da humanidade é tão importante quanto, se não mais ainda, do que a nossa inteligência intelectual. Temos o mesmo analfabetismo emocional que 5.000 anos atrás; portanto, nossa linha emocional é totalmente horizontal. O problema é que o horizontal e o vertical estão se distanciando cada vez mais. E quanto maior essa distância, maiores as consequências.”
Como explicar melhor a crença nas Fake News se não pela distância das linhas evolutivas, como imaginar que pessoas com tanta informação de qualidade, disponível para pesquisa consigam acreditar em tantas besteiras, em tanta desinformação. É a linha emocional que faz com que acreditamos na maioria dos casos em mentiras cujo emocional gostaria que fosse verdade.
Para o matemático Ted Kaczynski, a tecnologia tem seus próprios planos. Ela é egoísta. Para ele o técnico não é inerte nem passivo, ele é um sistema dinâmico, e holístico que se apropria dos recursos para própria expansão.
No seu manifesto, com cerca 35.000 palavras Ted escreveu: “O sistema não existe e não pode existir para satisfazer as necessidades humanas. Em vez disso, é o comportamento humano que deve se adaptar as necessidades do sistema. Isso não tem relação com a ideologia política ou social que pode fingir orientar o sistema tecnológico. É culpa da tecnologia, pois o sistema não é guiado pela ideologia, mas sim pela necessidade técnica.” Do que discordamos pois é o capital e a sua necessidade de maximização dos resultados quem determina qual a tecnologia será a vencedora, tecnologia sem investimento sempre será patente esquecida no armário. Muitos são os exemplos em que tecnologias superiores foram vencidas por estratégias de mercado.
Em uma entrevista que Ted concedeu em 1999, ele descreveu sua perda de fé no potencial de reforma. Ele decidiu que a “tendência humana … a tomar o caminho da menor resistência” significava que o colapso violento era a única maneira de derrubar o sistema industrial-tecnológico. Ainda em seu manifesto ele declara:
“ 1. O progresso tecnológico está nos levando para um desastre inevitável. Pode haver desastre físico (por exemplo, alguma forma de catástrofe ambiental), ou pode haver desastre em termos de dignidade humana (redução da raça humana para uma condição de degradação e servidão). Mas desastre de um tipo ou outro irá certamente resultar do progresso tecnológico contínuo.
Isto não é uma opinião excêntrica. Entre aqueles assustados pelas prováveis consequências do progresso tecnológico estão Bill Joy, cujo artigo “Porque o futuro não precisa de nós” está famoso agora, Martin Rees, autor do livro Nosso século final, e Richard A. Posner, autor de Catástrofe: Risco e Responsabilidade. Nenhum destes três é por qualquer esforço de imaginação radical ou predisposto a encontrar erros na estrutura existente da sociedade. RIchard Posner é um juiz conservador da Corte de Apelações para o Sétimo Circuito dos Estados Unidos. Bill Joy é um conhecido mago de computador, e Martin Rees é o Astrônomo Real da Inglaterra. Estes últimos dois homens, tendo dedicado suas vidas para a tecnologia, dificilmente iriam ficar com medo da tecnologia sem terem boas razões para isso.
Joy, Rees, e Posner estão preocupados principalmente com o desastre físico e com a possibilidade e de fato a probabilidade de que seres humanos serão suplantados por máquinas. O desastre que o progresso tecnológico implica para a dignidade humana tem sido discutidos por homens como Jacques Ellul e Lewis Mumford, cujos livros são largamente lidos e respeitados. Nenhum dos dois é considerado como à margem ou mesmo perto disso.
2. Só um colapso da civilização tecnológica moderna poderá evitar o desastre.
É claro, o colapso da civilização vai ele mesmo trazer desastres. Mas quanto mais o sistema tecnoindustrial continuar a expandir, pior será o eventual desastre. Um desastre menor agora irá evitar um maior depois.
O desenvolvimento do sistema tecnoindustrial não pode ser controlado, moderado ou guiado, nem podem seus efeitos serem moderados em qualquer grau substancial. Isto, novamente, não é uma opinião excêntrica. Muitos escritores, começando por Karl Marx, tem notado a fundamental importância da tecnologia em determinar o curso do desenvolvimento da sociedade. Na realidade, eles tem reconhecido que é a tecnologia que rege a sociedade, não o contrário. Ellul especialmente tem enfatizado a autonomia da tecnologia, ou seja, o fato de que a tecnologia moderna assumiu uma vida própria e não está sujeita ao controle humano. Ellul, além disso, não foi o primeiro a formular esta conclusão.”
Ted, encontrou na violência a forma de expressar o seu descontentamento com as evoluções da tecnologia, só pra lembrar o que ele fez, entre 1978 e 1995, ele matou três pessoas e feriu outras 23, em uma tentativa de iniciar uma revolução a partir de uma campanha nacional de atentados à bomba direcionados a pessoas envolvidas com tecnologia moderna. Em conjunto, ele emitiu uma crítica social que se opunha à industrialização, favorecendo o avanço de uma forma de anarquismo centrada na Natureza.
Em 1995, ele enviou uma carta ao The New York Times e prometeu “desistir do terrorismo” se o NYT ou o Washington Post publicasse seu manifesto: “Sociedade Industrial e Seu Futuro”, no qual argumentou que seus atentados a bomba eram extremos, mas necessários para atrair a atenção para a erosão da liberdade e da dignidade humanas por tecnologias modernas que exigem organização em grande escala.
Ao todo, 16 bombas foram atribuídas a Kaczynski. Embora os dispositivos tenham variado muito ao longo dos anos, todos, exceto os primeiros, continham a sigla “FC” em algum componente do dispositivo, correspondendo a “Freedom Club”, segundo Kaczynski. No cinema sua história ganhou uma série no Netflix, e recentemente um filme, que narra sua trajetória sobre a sua perspectiva de ver o mundo.
A caçada a Ted Kaczynski é uma das mais longas na história do FBI, e só conseguiu ter seu fim após a publicação do seu manifesto, intitulado Sociedade Industrial e Seu Futuro, que foi publicado pelo The New York Times e The Washington Post em 19 de setembro de 1995. Em 3 de abril de 1996 finalmente o FBI prendeu o Unabomber.