Quase sempre o ponto de partida desse assunto seria o que é sandbox regulatório? Por que empresas nos mais diversos mercados, que querem inovar, devem considerar sua participação?
Antes de responder a essa questão, é preciso pontuar o momento de transformação, o instante em que vivemos, com tudo mudando ao mesmo tempo, naquilo que Kurzweil chamou de “A Lei do Retorno Acelerado”. No atual momento algumas empresas modernas, com estilo de gestão diferente e resultados espetaculares, estão desafiando tudo o que sabemos sobre estratégia e execução, redesenhando formas de trabalho e de produtos. Kurzweil em seu ensaio de 2001 “A Teoria das Mudanças Aceleradas” estende a lei de Moore para descrever um crescimento exponencial do progresso tecnológico. A lei de Moore descreve um padrão de crescimento exponencial na complexidade dos circuitos integrados de semicondutores. Kurzweil estende para incluir as tecnologías de longe, antes do circuito integrado a novas formas de tecnologia. Sempre que uma tecnologia encontra algum tipo de barreira, segundo Kurzweil, uma nova tecnologia vai ser inventada para que possamos atravessar essa barreira, naquilo que Marx identificava também como a dinâmica do capitalismo.
Kurzweil cita vários exemplos do passado para fundamentar suas afirmações, prevendo mudanças de paradigma, como têm sido e continuarão a se tornar cada vez mais comum, levando a “mudanças tecnológicas tão rápidas e profundas que representa uma ruptura no tecido da história humana”. Ele acredita que a teoria das mudanças aceleradas implica que uma singularidade tecnológica irá ocorrer na primeira metade do século XXI, em 2045.
O que percebemos é que a sua teoria da mudanças aceleradas evidencia o que se preconizava na “Lei de Moore”. É um erro bastante comum a compreensão de que a Lei de Moore faz previsões sobre todas as formas de tecnologia, quando na verdade ele apenas se refere a circuitos de semicondutores. Sendo que muitos futuristas ainda usam o termo “Lei de Moore” para descrever ideias como as apresentadas por Kurzweil e outros.
Segundo Kurzweil, desde o início da nossa evolução, formas de vida mais complexas foram evoluindo exponencialmente mais rápido, com intervalos mais curtos entre o surgimento de novas formas de vida radicalmente, como seres humanos, que têm a capacidade de engenheiro (intencionalmente projetar com eficiência), uma nova característica que substitui relativamente cegos mecanismos evolutivos da seleção para a eficiência. Logo, por extensão, a taxa do progresso técnico entre os seres humanos também foi aumentando exponencialmente à medida que descobrimos maneiras mais eficazes de fazer as coisas, nós também descobrimos formas mais eficazes de aprender e assim, os instrumentos de observação, os dispositivos de computação, calculadoras mecânicas, computadores, cada um destes grandes avanços em nossa capacidade para dar conta de informações, ocorrem cada vez mais próximas entre si e logo, cada dia mais sincronizados.
Se anteriormente a “Lei de Moore” preconizava um aumento de 100% do poder de hardware a cada curto espaço de tempo, o tempo fortaleceu e estendeu, para além dos circuitos.
A transformação dos nossos telefones para smartphones e a compreensão deles como plataforma digital acelerou essa transformação em diversos setores.
Hoje temos a Uber, Airbnb, Alibaba, SpaceX, Tesla, Spotify, Waze, Instagram, Netflix, etc. Só para citar algumas empresas que estão impactando e transformando o mundo nos seus serviços e relações e que foram aceleradas desde 2007 após o lançamento do Iphone.
Hospedagem, transporte, entretenimento, serviços financeiros e comunicação mudaram para sempre, logo tudo, ou quase tudo passa por nossas telas de telefone.
Se Moore afirmava que a capacidade de processamento dos computadores duplicaria a cada 18 meses (crescimento exponencial). Raymond Kurzweil percebeu que esse fenômeno não está restrito a computadores, mas também a modelos de negócio baseados na economia digital.
Trata-se da lei do Retorno Acelerado (a mesma ideia de Moore para processadores, só que generalizada), e assim os negócios, baseados em digital, desde que tenham potencial para performar de forma equivalente às abordagens convencionais, mesmo que com um começo mais tímido, crescem de forma exponencial e, por isso, serão dominantes.
Para Christensen, as empresas continuam evoluindo seus produtos tornando-os mais qualificados e consequentemente mais caros, até que fiquem pouco competitivos em faixas importantes do mercado, isso ocorre até que um entrante, aproveitando a demanda reprimida de faixas com menor poder aquisitivo, consegue formar uma proposta original relevante ofertando um produto que evolui (de forma mais barata) até tornar sem sentido a proposta original.
Para Christensen, o ofertante tradicional não reconhece a ameaça por ela começar em uma faixa de mercado que este não atende. Quando, finalmente, a nova proposta se torna mais atrativa, não há tempo, é o que acontece com as inúmeras empresas de tecnologia que invadiram o mercado mundial, logo, é possível de entender o temor ao TikTok entre outros aplicativos chineses.
Assim para dar velocidade a inovação nascem os sandbox regulatório, ambiente no qual é possível criar, desenvolver e testar novos produtos e serviços nos mais diversos segmentos.
No Brasil o destaque ocorre para os produtos financeiros que sejam inovadores que podem ser testados antes de serem lançados no mercado.O sandbox regulatório tem como uma de suas principais vantagens a liberação à necessidade de atendimento de diversas regulamentações, dessa maneira os players interessados em participar podem se dedicar apenas ao desenvolvimento das inovações, o que torna o processo menos demorado e com custos menores.
No entanto, destacamos que os órgãos reguladores também se beneficiam com o sandbox regulatório independentemente do setor da economia ao qual ele se destina.
Logo, a sociedade como um todo nos seus segmentos organizados afins passam a ter melhor consciência das inovações que estão chegando ao mercado, permitindo que ajustem suas normas e regulamentos se necessário.
E quais são os requisitos para implementar o sandbox regulatório no Brasil? Quais regras devem ser cumpridas por quem tem interesse em participar?
Se interessa por serviços financeiros, mas não sabe ainda o que é sandbox regulatório?
Notadamente o sandbox é um termo bastante utilizado na informática, que consiste em um ambiente próprio para criação e teste de softwares, o sandbox regulatório, por sua vez, tem a mesma proposta, ou seja, a utilização por tempo determinado de ambiente seguro para testes de novos produtos, que no caso brasileiro se destaca no segmento financeiro, com um pequeno número de clientes no primeiro momento, antes de disponibilizá-los para o grande público.
No caso brasileiro, em julho de 2019, o Banco Central – Bacen, informou que estava estudando formas de implementar o sandbox regulatório para serviços financeiros no Brasil.
Esse modelo de desenvolvimento de serviços financeiros inéditos já vem sendo utilizado no Reino Unido desde 2014. Singapura é outro local onde os testes com Sandbox também passaram a ser utilizados, a partir de 2015. Em ambos o objetivo foi similar ao brasileiro, estimular a competitividade entre as empresas que atuam no setor e trazer novas soluções.
Estender para o transporte, telefonia, saúde, segurança é uma decorrência de uma sociedade moderna preocupada em dar resposta as demandas sociais e logo, o poder legislativo deve estar atento, iniciando o compliance pelo sandbox e sendo assim um controle inicial de conformidade.