RPA, TRANSFORMAÇÃO DIGITAL E O DIREITO

A transformação digital ocorre pela aplicação conjunta das diversas tecnologias, nesse momento de forma isolada, nenhuma tecnologia produz efeito suficiente para realizar a transformação digital, seja na empresa ou em nossas residências.

Por isso que qualquer ajuste de ordem jurídico regulatória, tem de levar em consideração o conjunto das mais diversas tecnologias e a maneira com que elas atuam conjuntamente.

E isso aumenta o papel do consultor jurídico, seja na compreensão mínima dessas novas tecnologia, ou na criação e estruturação da governança necessária para implantação das mudanças que as empresas e a administração pública precisa.

Von Neumann, um matemático húngaro de origem judaica, posteriormente naturalizado estadunidense, contribuiu com seus estudos para muito do que vemos ser utilizado na transformação digital, pois seus estudos contribuíram na teoria dos conjuntos, análise funcional, teoria ergódica, mecânica quântica, ciência da computação, economia, teoria dos jogos, análise numérica, hidrodinâmica das explosões, estatística e muitas outras áreas da matemática. Von Neumann faz duas observações importantes: aceleração e singularidade. A primeira ideia é que o progresso humano é exponencial (se expande multiplicando-se repetidamente por uma constante) ao invés de linear (isto é, expandindo por meio da adição repetida de uma constante). Já a segunda é que o crescimento exponencial é insidioso, começando lentamente e praticamente imperceptível, mas além de certo ponto torna-se explosivo e profundamente transformador. Ou seja, o futuro é quase sempre mal compreendido, pois os nossos antepassados esperavam que fosse muito parecido com o presente deles, que tinha sido muito parecido com seu passado.

Isso é bem fácil de entender, veja sobre os mais diversos ramos, quando você vai a um fabricante de mobiliário escolar, ele sempre pensa o futuro com melhores cadeiras e carteiras escolares, de que maneira esse mobiliário pode evoluir e vem a pandemia e diz que as aulas podem ser vistas de casa, sem salas ou com bem menos salas de aula e logo, com muito menos móveis escolares.

Assim, ele fica distante de aproveitar as novas tendências, pois perde sempre muita energia querendo que o futuro seja apenas o seu presente com pequenas e melhorias no seu negócio, por isso que todas as tecnologias quando fica obsoletas quase sempre não são substituídas pelos mesmo atores.

Veja por exemplo alguns casos, por acaso algum fabricante de mimeógrafos fabrica máquinas de cópia? Por acaso algum fabricante de telefonia fixa virou referência na telefonia móvel? E assim poderíamos passar o dia inteiro dando exemplos.

O fato é que as tendências exponenciais já existiam há mil anos, mas nem sempre percebidas pelos observadores da época, pois sempre esses olham um futuro bem mais próximo.

Nesse momento antecipamos o progresso tecnológico contínuo e as repercussões sociais que se seguem como consequência dele.

Existe nessa trajetória aquilo que Nassim Taleb chama de “Um cisne negro” Para ele “coisas altamente improváveis que nunca aconteceram, mas que um dia podem acontecer e terão um impacto enorme.” Veja o impacto do 11 de setembro e o impacto da pandemia atual, todo mundo achava que cisnes negros não existiam porque nunca ninguém tinha visto um, até que um foi avistado. Torres não desabam sob o impacto intencional de aviões, isso nunca aconteceu até que aconteceu. Basta um evento para destruir a hipótese de que não existe “cisne negro”, assim bastará uma IA ficar consciente para que nossa autoestima evapore. O fato é que não há conhecimento estabelecido ou expert que possa ditar regras sobre riscos assim, pois eles não são computáveis, por isso muitos cientistas defendem regulações que impeçam o desenvolvimento de entidades físicas (robôs) que possam se auto replicar.

Na sua essência Robotic Process Automation – RPA, é um conjunto de “ferramentas” de software que podem ser usadas para automatizar as tarefas habitualmente efetuadas por utilizadores reais, imitando as ações realizadas por esses usuários e usando exatamente os mesmos sistemas e interfaces de utilizador já existentes.

Logo, o RPA é um software projetado para automatizar o ambiente operacional atual e para reduzir a intervenção humana em tarefas repetitivas. Basicamente, é um software que opera como uma força de trabalho virtual e reduz ou substitui a intervenção humana em tarefas repetitivas e recorrentes.

Para Sabharwal, RPA é uma ferramenta de software configurável que usa regras de negócio e sequências de ações para automatizar processos completos, usando várias aplicações diferentes da mesma forma que um humano faria. É uma tecnologia que tem por objetivos reduzir custo, tratar maior volume de tarefas de forma mais rápida, operar 24/7, fazer o mínimo de intervenção possível nos legados de TI, atender a requisitos de compliance e ter sua implementação feita em vários tipos de aplicações diferentes, da mesma forma que o humano faria com o auxílio de pessoas para o gerenciamento das exceções.

Muitas são as áreas com potencial para receber o RPA, como o backoffice das organizações, processos de recursos humanos como contratação e gerenciamento de postulantes, processos financeiros como ativação de cartão de crédito, identificação de fraudes, processamento de reclamações, processamento de pedido de crédito, aquisição de seguro, tratamento de sinistros, processos na área de saúde como reconciliação de contas e automação de relatórios, processos de manufatura como requisições de materiais, processos de serviços de telecom como gerenciamento de ordens de serviços e atendimento ao cliente, processos de distribuição de energia como validação de leituras de medidores.

Muitas das tarefas de trânsito nas “cidades mais inteligentes” devem utilizar essa tecnologia.

Cada vez mais não se trata apenas de tecnologia, mas de informação. A transformação digital produz como resultado empresas menores e com menos empregados, porém, elas serão muito mais eficientes e alcançarão muito mais mercados.

A pandemia já deu duros exemplos para isso, pois não só os empregos que vão se transformar mas os empregadores também vão, logo isso deve acabar com a noção de empresa que temos hoje.

Isso nos leva a outra pergunta:

Se robôs vão substituir pessoas, quem comprará o que eles fabricarão? Isso nos lembra Henry Ford II (neto do fundador) que quando era CEO da Ford, levou o líder do poderoso sindicato dos trabalhadores na época, Walter Reuther para visitar uma de suas fábricas que tinha sido recém-automatizada. “Walter, como você vai fazer esses robôs pagarem suas contribuições ao sindicato?” Dizem ter sido a provocação do chefe da Ford Motor Company, Reuther respondeu de imediato: “Henry, como você vai fazer que eles comprem seus carros?”.

Uma nova sociedade, com mais processos e mais robôs será uma sociedade com menos empregos e menos renda distribuída e logo menos consumidores, portanto, quem vai comprar os produtos e serviços nela?

E de que maneira o profissional do Direito se insere? Como será nessa nova sociedade a participação dos consultores jurídicos?

(Artigo publicado no site www.jusbrasil.com.br, em 14 de Outubro de 2021.)

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