Em pleno dia do advogado, essa certamente deveria ser uma das perguntas que muitos colegas deveriam estar formulando: “Eu posso ser substituído por um robô?
Na sociedade em que vivemos, a mortalidade e o obsoletismo são a regra, e logo objetos e pessoas, por mais doloroso que seja vão marcando uma trajetória por suas realizações e por sua imprescindibilidade na vida.
Logo converse com seus amigos e faça a eles a seguinte pergunta: Você acha que um robô pode lhe substituir?
Eu nem preciso estar por perto para saber que a maioria deles vai dizer que não….imagina…. se um robô vai conseguir fazer o que eu faço? Imagina se os meus clientes vão querer serem atendidos por um robô?
Sim, vão sim, se não hoje será muito em breve. Ufa pronto falei, confesso que estava receoso em lhe dar essa dura notícia.
Por certo ao ler esse artigo uma parte significativa continuará de forma incrédula imaginando que é apenas um exercício ficcional desse escriba. Não de forma alguma é a mais pura realidade, onde eu não preciso ser Nostradamus pra lhe dizer que quase tudo, “quase” que o homem faz pode ser feito e o será um dia feito por máquinas.
Quanto ao “quase” será tema de um próximo artigo, por hora quero lhe dizer que seremos substituídos por maquinas sim, por softwares sim, ou pelo simples fato do que fazemos não precisará mais de nós.
Pense no que acontece quando os robôs começam a enviar pessoas para o desemprego, e que antes de seu desenvolvimento viviam para dirigir um veículo, fazer hambúrgueres em um McDonalds ou mover pacotes em um armazém, e tente imaginar a transformação social que necessariamente terá que acontecer para gerar uma sociedade em que o trabalho tem um significado diferente, onde você trabalha sem dúvida menos e se move para valorizar mais outros tipos de ocupações e serviços. Um mundo onde só quem quer trabalhar e sente a necessidade de fazê-lo, em tarefas que realmente os motivam, e onde a identidade da pessoa é desfolhada do tipo de trabalho que faz, uma plena ressignificação da relação homem e trabalho.
A produtividade deve aumentar drasticamente com os robôs, mas apenas certos tipos de empregos devem ainda se manter, ainda que completamente redefinidos.
É fato de que o desenvolvimento de tecnologias relacionadas à robótica representa um paradoxo semelhante ao que deu origem à Internet na época da sua criação? Estamos diante de uma nova mudança drástica no conceito de sociedade, que altera muitas das regras que damos como essenciais em nossas vidas? Muito possivelmente sim. E que, além disso, está se aproximando a uma taxa muito mais rápida do que muitos acreditam.
A supremacia da máquina sobre o homem sobre um assunto como dirigir um veículo já é uma discussão completamente ultrapassada, e se você não pensa assim, é melhor ampliar seu horizonte de leituras.
Mas o que seria um robô advogado? Atualmente grandes escritórios já possuem um robô advogado, que é um dispositivo de inteligência artificial desenvolvido para executar atividades jurídicas de forma autônoma ou programada.
A maioria deles está programada para realizar tarefas de baixa complexidade, análise de grande volume de dados e até mesmo consultorias. A aplicação desse tipo de solução é ampla e pode atender tanto às necessidades de escritórios de advocacia como assistente em nosso judiciário.
Nas diversas experiências que já possuímos, eles são sempre programas que são adotados para trazer agilidade e eficiência a processos diários da área. Para isso, o mecanismo desempenha funções de suporte. Uma das atribuições possíveis é o apoio à pesquisa, o controle de prazos, a comunicação e atendimento aos clientes para comunicar as eventuais movimentações processuais ou produzir relatórios de processos.
Como sabemos em nossas rotinas o levantamento de casos, decisões e jurisprudências é uma atividade fundamental, e logo essa função exige tempo, o que pode simplesmente ser terceirizado para um robô (software).
O primeiro robô que surgiu, o ROSS, nasceu com essas funções, em 2016, aquele que é considerado o primeiro robô advogado do mundo.
Foi justamente em um escritório centenário, o americano Baker & Hosteler, que existe desde 1916, que adotou o ROSS, um robô-plataforma que pesquisa e coleta dados sobre leis e decisões judiciais.
Se notabilizando na área de falências, em que ele trabalha juntamente com mais de 50 advogados do Baker & Hosteler, e na análise e revisão de contratos, sobretudo para atender às demandas que surgiram durante a recente pandemia. Essa certamente é apenas uma atuação embrionária do que ainda iremos ver.
De forma plena, robôs já estão se aproximando de nossas vidas sem nenhum complexo, a ponto de já provocar discussões perfeitamente relevantes e apropriadas: centenas de pesquisadores e especialistas em inteligência artificial, juntamente com figuras como Elon Musk, Stephen Hawking ou Steve Wozniak que estão à frente, assinaram uma carta para instar que a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias militares baseadas na robótica fossem proibidas, na certa com medo de um eventual Exterminador, que sairia das telas para nossa realidade cotidiana.
Podemos assim entender que nossos medos serão mais que justificados?
A economia deixa bem claro, que a chegada dos robôs e o aumento que trarão em termos de produtividade serão a única possibilidade que teremos de financiar muitas dos atuais benefícios, como a previdência. E o desafio é como regrar isso?
É claro que para muitos a substituição do homem pela máquina, seja ela um robô ou software mais parece as trombetas de Jericó lhe avisando que o desemprego bate a porta.
Mas volte ao início do artigo, sobre a ideia de imortalidade e o conceito de insubstituível e pense em algumas profissões que já passaram por isso, e você poderá olhar pra elas com o famoso “Efeito Orloff” Cobradores de ônibus, ascensoristas, operador de mimeógrafo, datilógrafos, digitadores, frentistas de postos em muitos países, uma lista gigante.
Tente imaginar que no Brasil possuímos mais de 1.200.000 advogados, e como eles devem funcionar com a inteligência artificial que pode criar assistentes legais por telefone? Procedimentos judiciais automatizados que demandam menos profissionais. Por um instante imagine
Podemos ir além veja que no Brasil existem cerca de 320.000 contadores registrados, isso mesmo uma cidade quase com o mesmo número de habitantes de Blumenau, e isso falando apenas dos registrados. Onde vai trabalhar todo esse contingente de profissionais com a digitalização plena das contas e registros das empresas? Quando os sistemas automatizados estiverem fazendo o balanço, deixando as guias de recolhimento prontas, registrando e dando baixa nos colaboradores?
A automatização, ou seja, a substituição do homem por máquinas e softwares, tem nesse instante a China como líder, aquele mesmo lugar que mal informados diziam que o diferencial era o preço da mão de obra. Acorda Alice esse mundo que você e seus amigos de grupo atrasado falam já não existe mais.
Pense nos milhões de motoristas de taxi, caminhoneiros, motoristas particulares de frota ou de aplicativos? Isso mesmo, aplicativos, aquele mesmo que oferta aos profissionais desempregados uma das poucas oportunidades de ganho.
Sim pois nesse instante, os veículos autônomos da Waymo já obtiveram a licença para se deslocar sem motoristas e com segurança através do estado da California, nesse primeiro período em testes de calibragem fina e ajustes no preço à ser cobrado.
Lembro que em 2012, a NTHSA dos EUA estimou que 31% dos acidentes fatais no país estavam relacionados ao abuso de álcool, 30% à velocidade excessiva e 21% a distrações. Veículos autônomos nunca beberão, nunca correrão mais do que é seguro e nunca se distrairão, e embora alguns acidentes sejam inevitáveis, estima-se que substituir todos os motoristas humanos por computadores será capaz de reduzir as mortes e ferimentos nas estradas em 90%, um milhão de pessoas por ano.
Para todos esses profissionais o desemprego é uma certeza, restando apenas saber quando?
E o que fazer? A ideia de bloquear ou atrasar a automação para salvaguardar alguns empregos é simplesmente estupidez irresponsável, porque o que precisamos proteger, claramente, são os seres humanos, não seus empregos.
As consequências da automação são inevitáveis e, além disso, não são totalmente ruins. Obviamente, as coisas não são tão simples, pois é essencial trabalhar para encontrar um novo modelo social que não se baseia em horas de trabalho e que, acima de tudo, evita o aumento progressivo e já insustentável da desigualdade.
A disputa não será entre homens e máquinas, mas entre empresas que tem máquinas contra empresas que não tem. Portanto pensar em desestimular a tecnologia, renunciar ao seu desenvolvimento ou legislar para que ela não seja usada é simplesmente perda de tempo, irresponsável e retrógrado, e que vai lhe trazer apenas uma posição mais atrasada diante de um outro colega.
Os dilemas da automação exigem um novo modelo de pensamento: não é ter a tecnologia, mas a visão necessária para adotá-la. Não é um problema tecnológico, é um problema de design de modelo social. E não está claro para mim que temos maturidade para desenvolvê-la.
Pense nos bancos, onde hoje muitos dos gerentes, já foram substituídos por um chatbot, gostemos ou não, será o fim do cafezinho na agência, e logo as agências e todas a sua estrutura será diminuída, por sinal o que já ocorre à passos largo.
Logo é apenas uma questão de tempo para evolução da inteligência artificial que usa seus dados, nem sempre com consentimento nos termos da LGPD, e da evolução de interfaces amigáveis que serão cada dia mais personalizadas de acordo com o grau cultural do cliente, e também considerando as suas características físicas e assim as telas terão letras e cores de acordo com a característica já estudada de cada cliente.
Com isso, ao ligarmos a TV pela manhã o apresentador será um holograma, e a sequência de notícias será personalizada e customizadas de acordo com a nossa política de atenção, logo adeus jornalistas apresentadores.
Estaremos preparados para falar com robôs de forma sistemática e regular? Certamente uns mais outros menos, mas é apenas uma questão de tempo.
Pense nas transações que você realiza regularmente, em mecanismos com os quais você tem familiaridade, seja em sua indústria, ou que você usa em sua vida privada. Agora, tente imaginá-los realizados com a precisão na definição e precisão que um robô permite: como a ideia de ” um robô em sua vida” começa a se tornar mais lógica e simples, existem muitos mecanismos transacionais que consideramos totalmente estabelecidos que, certamente, terão que começar a considerar uma redefinição. Logo, use esse artigo para pensar o seu futuro, o do seu filho e de seus netos, pois o futuro nunca esteve tão presente.
(Publicado anteriormente no site www.jusbrasil.com.br, em 11 de Agosto de 2021)