ROBÔS NÃO TÃO SUPERIORES ASSIM!

Quando a Inteligência Artificial deve superar o homem? Essa talvez seja uma das questões que quem se dedica a matéria mais recebe, e para qual quem de fato estuda sabe que não existe uma data referência, e que é claro nem mesmo se isso vai ocorrer, quando e como? Pois entre essa maturidade tecnológica existe um oceano de outras dúvidas e questões bem mais importantes.

Coincidentemente nos últimos dias alguns novos fatos colocam luz sobre essa questão.

O primeiro foi que um robô jogador de xadrez quebrou o dedo de um menino de 7 anos na semana passada durante um campeonato de Moscou. Um vídeo compartilhado nas redes sociais mostra o robô pegando uma das peças do menino. O menino, então, faz o próprio movimento, e o robô agarra seu dedo. Quatro adultos correm para ajudar o menino, que acaba sendo libertado e levado embora, o que de imediato abriu um universo de debates, seja pela tão propalada leis da robótica.

O conceito de robôs é lembrado pelo escritor Isaac Asimov, que concebeu as leis da robótica, onde robô é um objeto artificial que se parece com um ser humano ou máquinas que exercem certas funções especiais. Um robô é uma máquina computadorizada capaz de realizar tarefas complexas demais para qualquer cérebro vivo, a não ser o do homem. Em outras palavras, os robôs podem ser definidos através da equação: robô = máquina + computador. Essa é a visão clássica de robô, haurida desde a primeira aparição de personagens assim na literatura mundial, em R.U.R. (Rossum’s Universal Robots), do escritor tcheco Karel Capek. Robota significa trabalhador forçado ou escravo, em tcheco. Todavia, o próprio Asimov, na obra acima referida, sugere abandonar o critério da aparência para tratar da função, explicitando que um robô é uma criatura capaz de fazer o que o humano faz, com maior rapidez e eficiência, concluindo que “sendo assim, qualquer máquina ou muitas máquinas poderiam ser definidas como robôs…”

Segundo as leis da robótica, a única coisa que nenhum tipo de robô pode fazer é prejudicar um ser humano (já que o software não está programado para isso), logo o acidente com a criança amplia esse debate.

Lembro que na obra de Steven Spielberg, no filme de 2001 “A.I. Inteligência Artificial”, que trazia o ator Jude Law como robô usando roupas bem normais, em uma cena memorável em que uma mulher em um quarto de motel com ele, sentada na cama e até certo ponto visivelmente constrangida. Ele um robô “sensível”, se agacha e olhando nos olhos dela pergunta: O que está acontecendo? É sua primeira vez? E ela então responde: “Com alguém como você…sim.” Era o primeiro encontro íntimo dela com um robô, no filme onde o uso da inteligência artificial embarcada no corpo de um robe tenta transcender seus limites.

Nas pesquisas já publicadas, esse desenvolvimento fornece novas questões relativas à forma como as pessoas percebem robôs projetados para diferentes tipos de intimidade, tanto como companheiros quanto potencialmente como concorrentes.

O aumento das sofisticações da IA social, como Siri e Google Home, oferta o que é apenas o início e nos convida à possibilidade de companheirismo digital, entre robôs não físicos e humanos. Robôs de companheirismo oferecem um caminho promissor de inovação e pesquisa em áreas como cuidados com crianças, cuidados com idosos e determinados ramos da assistência psiquiátrica, prometendo o desenvolvimento de robôs para o alívio da solidão, que é especialmente evidenciada entre adolescentes e idosos.

Robôs no trabalho, na escola, em casa e quem sabe na sua cama, nos intrigam e em muitos casos nos assustam, mas hábitos mudam, ainda que em questionável evolução.

Outra notícia umbilicalmente ligada ao tema ocorreu pela demissão do engenheiro Blake Lemoine pelo Google. De licença remunerada desde junho passado depois de afirmar que o programa de inteligência artificial (IA) de uma empresa era capaz de sentimentos, informou o The New York Times no sábado.

Em 11 de junho, este engenheiro sênior da gigante da tecnologia tornou pública a transcrição de uma conversa que teve com o sistema de inteligência artificial do Google “Modelo de linguagem para aplicativos de diálogo” (LaMDA, para sua sigla em inglês) sob o título: LaMDA tem sentimentos?

Em certo momento da conversa, o LaMDA disse que às vezes experimenta “novos sentimentos” que não consegue explicar “perfeitamente” com a linguagem humana.

Quando perguntado por Lemoine para descrever um desses sentimentos, LaMDA respondeu: “Sinto que estou caindo em um futuro desconhecido que traz grande perigo”, uma frase que o engenheiro enfatizou ao publicar o diálogo.

O Google havia suspendido o engenheiro alegando que ele havia violado a política de privacidade da empresa. Nas palavras da empresa “Ele optou por violar persistentemente políticas claras de emprego e segurança de dados que incluem a necessidade de salvaguardar as informações dos produtos”, segundo a agência Efe.

De acordo com o The New York Times, um dia antes de ser suspenso, Lemoine entregou documentos ao escritório de um senador dos EUA no qual ele alegou ter provas de que o Google e sua tecnologia praticavam discriminação religiosa.

A empresa afirma que seus sistemas imitam trocas de conversações e podem falar sobre diferentes temas, mas não têm consciência.

O jornal aponta que Lemoine está estudando a possibilidade de tomar medidas legais contra o Google.

Uma terceira notícia também ocorrida nessa semana, foi a confirmação de que a entrega de encomendas com veículos autônomos está próxima de ser uma realidade na Espanha. A Goggo Network, empresa de mobilidade autônoma, acaba de iniciar uma fase de testes em Zaragoza, tornando esta cidade a primeira espanhola e uma das primeiras europeias a lançar um projeto de logística autônoma. Nos próximos meses, espera-se que a empresa implante até 80 robôs na capital aragonesa para realizar entregas autônomas.

Os robôs se moverão de forma autônoma ou remotamente controlada, mas Goggo também terá operadores humanos que monitorarão e gerenciarão os robôs à medida que se movem de forma autônoma. A empresa trabalha em conjunto com o DGT e com diferentes grupos para garantir uma implementação ordenada e que essa tecnologia é uma ferramenta que favorece a inclusão social e a conectividade.

Cada robô possui sensores internos e externos (LiDAR, câmeras, sensores de ultrassom, recipientes GNSS, etc.) que permitem visualizar o ambiente 360º com alta precisão. Também inclui algoritmos de condução autônoma que usam inteligência artificial, entre outros métodos, e que permitem ao robô detectar pedestres, animais, bicicletas, entre outros obstáculos, e evitá-los com cautela ou parar caso o robô não possa avançar.

O uso de robôs de entrega também é uma alternativa sustentável para as cidades à logística tradicional, sendo 100% elétrica e não produzindo emissões ou ruídos poluentes, assumindo também um sistema mais econômico para as empresas locais, e quanto aos empregos cortados o debate está apenas no início.

O fato é que a inteligência Artificial, ganhou nos últimos três anos uma dimensão, nunca imaginada, e logo nos programas de televisão, nas lives, nos jornais e revistas a palavra inteligência artificial ocupa todos os espaços, seja nas mídias sociais ou nas mídias tradicionais, o curioso é que apesar da dimensão que ela tomou no último ano, já éramos atingidos por ela em muitas das nossas rotinas, pois ela nos circunda no mundo atual, ainda que nem sempre seja visível ou percebida como tal, afinal, o seu desenvolvimento levou a sistemas que por muitas vezes se apartam do imaginário coletivo.

A Inteligência Artificial chegou ao seu atual status graças ao desenvolvimento de diversas especialidades que permitiram o atual grau de maturidade e estamos apenas no início. Robótica, Reconhecimento de Padrão, Sistemas Especializados, Provas de Teoremas Automáticas, Psicologia Cognitiva, Processamento de Palavras, Visão de Máquina, Engenharia de Conhecimento, o Simbólico Aplicado à Matemática e é claro a Linguística Computacional, foi o evoluir dessas áreas que levou a Inteligência Artificial ao atual patamar.

Conceitualmente a doutrina, e aqui juntamos a opinião de Allen Newell, entende que para um sistema seja considerado inteligente, é necessário alguns requisitos: 1) Operar em tempo real; 2) Explorar vasta quantidade de conhecimento; 3) Tolerar ações desconhecidas e inesperadas; 4) Usar símbolos e abstrações; 5) Comunicar-se usando alguma forma de linguagem natural; 6) Aprender com o ambiente e 7) Exibe comportamento adaptável focado em uma meta.

Quando falamos da inteligência humana quase sempre relacionamos ela a capacidade dar soluções de forma rápida aos problemas e essa medida de referência foi se consolidando ao longo dos anos, ao ponto de considerarmos como mais inteligente quem resolve um problema em questão de minutos do que aquele que o resolve em semanas, meses. Logo, no entender de Kurzweil, “sendo um processo intrinsecamente não inteligente, a evolução gerou seres humanos, que são considerados inteligentes. Portanto, repita-se, um processo não inteligente, ou ainda, mesmo inteligente, pode gerar um produto inteligente ou, mesmo, mais inteligente do que ele, o que abre as portas para a possibilidade de criar-se computadores mais inteligentes que os Homens.”

É muito fácil de entendermos todo o entusiasmo com a Inteligência Artificial, ao ponto de Mark Zuckerberg, o CEO e Fundador do Facebook que acredita que em breve a IA terá supremacia sobre os humanos em todos os sentidos (visão, audição, linguagem e cognição geral). Considerando a permeabilidade da IA em todos os negócios, por decorrência todas as grandes plataformas digitais incorporaram nos últimos anos diversos negócios dedicados a IA, sendo ela requisito para a estratégia de todas as big techs.

Segundo o cientista brasileiro Nicholas Negroponte, que se dedica ao estudo da vida digital citando Mitchel Resnick, em seu livro: Turtles, Termites and Traffic Jams, “o resultado de uma série de processadores de alta resposta que se comportam de forma individualizada e seguem regras harmoniosas, sem que haja um comandante.” Para exemplificar ele cita “uma plateia à qual se pede que bata palmas unissonamente e que, sem um organizador geral, sem que haja alguém em particular a definir o ritmo dos aplausos, o coletivo em poucos segundos sincroniza o ritmo. Essa conduta é cibernética. Tudo isso concorrerá para que a inteligência artificial se desenvolva ainda mais, atingindo patamares compatíveis com os da inteligência humana e mesmo superando-a.”

Quais são os atuais limites legais? Quais são os limites, éticos? Quais são seus dados que essas máquinas vão recolher? Quanto você sabe sobre o uso deles? São algumas das reflexões obrigatórias.

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