Diariamente em sua rotina você já realiza diversas ações através de robôs, ainda que seja por softwares, no seu dia a dia seu trafegar é através de veículos, e eletrônicos onde a produção foi majoritariamente feita por robôs. Quando entra em contato com a empresa de telefonia, seu atendimento é feito por robôs e o mesmo ocorre com toda ligação para o SAC da maioria das empresas, sempre feito por robôs. Logo a discussão sobre a nossa substituição em parte de nossas tarefas por robôs é praticamente obsoleta. É obvio que sempre haverá incrédulos do inexorável futuro, principalmente quando não nos sentimos confortáveis nele.
Compreender esse futuro é requisito para pequenas intervenções no desenho dele, pois ele é para poucos, é desigual e exige ajustes para que não sejamos atropelados.
Em sua obra, O capital no século XXI, o economista francês Thomas Piketty analisou a crescente disparidade de posses entre uma minoria de muito ricos e o resto do mundo. Nos Estados Unidos, em 2014, o 0,01% mais rico, que consiste em apenas 16 mil famílias, controlava 11,2% de toda riqueza, o que pode ser comparado a 1916, época da maior desigualdade mundial. Hoje o mesmo 0,1% detêm cerca de 22% da riqueza total, o mesmo que 90% de toda população na base da pirâmide, sendo que igual distorção não é muito diferente na Europa.
Os números nos levam a uma inversão da ideia que se costuma ter de progresso, na qual o desenvolvimento social leva inexoravelmente à maior igualdade. Desde os anos 1950, como bem destaca, James Bridle, na obra “A nova idade das trevas: A tecnologia e o fim do futuro”, os economistas acreditam que, nas economias avançadas, o crescimento econômico reduz a disparidade entre ricos e pobres. Conhecida como Curva de Kuznets, o nome do inventor e vencedor do Nobel, essa doutrina afirma que a desigualdade econômica começa a crescer quando uma sociedade se industrializa, mas depois cai conforme a difusão da educação equilibra o jogo e resulta em maior participação política. E assim decorreu, pelo menos no Ocidente, durante boa parte do século XX. Mas não estamos mais na era industrial, e, segundo Piketty, a crença de que o progresso tecnológico levará ao “triunfo do capital humano sobre o capital financeiro e imobiliário, dos executivos mais habilidosos sobre os grandes acionistas, da competência sobre o nepotismo” é “em grande parte ilusão”. Na verdade, a tecnologia é a condutora elementar da desigualdade em vários setores. O progresso implacável da automação, de caixas de supermercado a algoritmos de transação financeira, de robôs em fábricas a carros com direção automática, cada vez mais ameaça a empregabilidade humana no panorama geral. Não existe rede de segurança para aqueles cujas habilidades são obsoletadas pelas máquinas, e nem aqueles que programam as máquinas estão imunes. Conforme a capacidade maquinal cresce, mais e mais profissões ficam sob ataque, e a inteligência artificial incrementa o processo.
Logo tente imaginar o quão um robô desiguala a relação de competitividade, gerando concentração de renda e desemprego?
A etimologia da palavra “robô”, é bastante interessante, pois ela surgiu pela primeira vez em 1920, numa peça teatral do escritor checo Karel Čapek, intitulada R.U.R.(sigla para Robôs Universais de Rossum). Seu neologismo era derivado da palavra checa robota, que significa “trabalho forçado” ou “servidão”. Čapek usou robô para se referir a uma raça de humanos artificiais que substituem os operários humanos numa distopia futurista.
Sempre bom lembrar que antes dos robôs surgiram os “autômatos”, que vem de raízes gregas e significa “aquilo que se move sozinho” Essa etimologia estava a par com a definição aristotélica dos seres vivos como coisas que podiam se movimentar por si mesmas à vontade. Máquinas semoventes eram objetos inanimados que pareciam tomar a característica definidora das criaturas vivas: o auto-movimento. Hero de Alexandria, engenheiro do século I d.C., descreveu vários autômatos. Muitos eram elaborados a partir de uma complicada rede de sifões que acionavam suas respectivas ações conforme a água passava por eles, como em pássaros capazes de beber, bater as asas ou piar, o que não é nada em termos funcionais se compararmos ao que eles podem fazer hoje.
A participação dos robôs é fato, e logo de que maneira podemos contingenciar os prejuízos sociais que eles podem causar para os milhões de desempregados?
Para ter a dimensão da participação deles, recomendo pesquisar na internet, alguns vídeos sobre as linhas de montagem da Foxconn e seus famosos Foxbots já presente em quase todas as etapas de produção.
Na China, um Estado antidemocrático e fortemente controlado, o governo está lançando uma transição em uma escala sem precedentes que busca ter milhões de trabalhadores da linha de montagem manual substituídos por robôs sem suicídio econômico e social, tentando colocar em prática as medidas corretas de treinamento e retreinamento para permitir que a economia continue a crescer. A taxa de reconversão que não estamos vendo em praticamente nenhuma das economias ocidentais, e definitivamente não no Brasil. A reconversão implica mudanças radicais nas estruturas educacionais e na própria natureza do trabalho que são difíceis de assumir, mas que, de uma forma ou de outra, acabarão sendo necessárias.
Enquanto perdemos tempo, os demais países avançam, e o mais triste é que acabamos nos acostumando com esse período de trevas onde toda semana temos um novo factoide. Porém independentemente do voto ser impresso ou não, os robôs vão ocupar o nosso lugar em maior ou menor grau, amais cedo ou mais tarde, só mudando o tempo e a aplicação.
Logo é preciso abrir uma discussão sobre a criação de uma renda básica mínima, abrirmos a discussão sobre a empregabilidade em massa apara mão de obra que não terá espaço em uma sociedade que vai substituir o homem por robôs.
Ou você consegue imaginar que nossas polícias vão continuar rondando nossas ruas com homens correndo risco de vida? Certamente o robocop não será nada parecido com o Arnold Schwarzenegger, mas eles virão, mais cedo ou mais tarde.
A Espanha já tem muitas discussões avançadas sobre esse assunto, e logo recomendo os trabalhos do professor Manuel Castells, ou alguém imagina que teremos cidades inteligentes com milhares de desempregados e desocupados?
A renda mínima é um dos conceitos sociopolíticos cuja evolução se mostra mais interessante, principalmente quando a acompanhamos com reflexões sobre o componente exponencial do progresso tecnológico e de uma robótica cada vez mais preparada para substituir uma parte cada vez mais significativa do trabalho humano, uma tecnologia capaz de destruir muito mais empregos do que é capaz de gerar.
Os números da concentração exponencial de renda não de poucos, muito poucos (0,1%), eleva a nossa preocupação, pois os ganhos da tecnologia não implicam como os números provam em distribuição de renda, muito pelo contrário, tente somar o valor das empresas de tecnologia, para ter a dimensão do que estamos falando.
Como foi descrita por Ray Kurzweil, a “lei de retornos acelerados”, parece manter sua força total. Segundo a qual:
À Medida que a ordem aumenta exponencialmente, o tempo acelera exponencialmente (isto é, o intervalo de tempo entre eventos relevantes fica menor com o passar do tempo). Logo quando aplicamos ela a um “Processo Evolucionário” e percebemos que um processo evolucionário não é um sistema fechado, portanto, a evolução se alimenta dos caos no sistema maior no qual acontece por suas opções por diversidade. Tente imaginar isso no regramento jurídico das plataformas digitais e você perceberá que a velocidade evolutiva delas é maior do que possa acompanhar nossos sistemas legais.
Logo diante de uma evolução que acontece em sua própria ordem crescente, tempo e processo acabam acelerando exponencialmente.
O avanço da tecnologia é inerente um processo evolucionário. De fato, é uma continuação do mesmo processo evolucionário que deu margem ao surgimento da espécie criadora de tecnologia. Portanto, de acordo com a Lei dos Retornos Acelerados, o intervalo de tempo entre eventos relevantes fica cada vez mais curto com o passar do tempo. Os “retornos” (ou seja, o valor) da tecnologia aumentaram exponencialmente com o passar do tempo, e junto com ele a sua concentração.
O que existe de mais preocupante em substituir as pessoas por máquinas não é o fato em si, mas a evidência óbvia de que essas máquinas não estão apenas nos substituindo, mas também fazendo nosso trabalho muito melhor do que fazemos. A coisa mais provocativa sobre a condução autônoma surge quando olhamos para as estatísticas do Google e vemos que seus veículos não se limitam a se mover com alguma destreza no tráfego aparentemente imprevisível de uma cidade grande, mas também, eles dirigem infinitamente melhor do que os humanos, e que os únicos acidentes em que eles estão envolvidos ocorrem porque um motorista humano acabou causando.
Por mais eficiente que seja um motorista humano, ele não será capaz de alcançar visão periférica em 360º, visão noturna, reflexos muito rápidos, ou uma resistência à fadiga como a da máquina, por muitas gerações e anos de evolução que passam, sem mencionar outros imprevistos como seu temperamento e problemas particulares que seguem com ele em nossas estradas.
Estamos em um caminho sem volta das flexibilizações das relações, o que não é bom para todos, mas é inevitável. Logo é fundamental nesse caminho, gerenciar a transição em termos de flexibilidade e segurança para pessoas e organizações. Nesse sentido, o modelo dinamarquês de flexibilização foi copiado por outros países da União Europeia para criar modelos mais resilientes, adaptativos e eficazes para o emprego e a recuperação econômica: a colaboração público-privada para criar um mercado de trabalho mais eficiente e inclusivo, um modelo de cobertura social para grupos em situação de vulnerabilidade e um marco regulatório flexível que favoreça o empreendedorismo, o investimento e a criação de empregos.
Logo fique longe dos extremos eles ficam ótimo para discursos inflamados e péssimos na realidade, liberais que acreditam que o mercado resolve tudo, existem apenas pela fé ou pela inocência em imaginar que os fortes quando podem não exercem sua força, exercem sim e maximizam suas posições não importando quem vai sangrar, se é o seu bolso ou o seu emprego.
É evidente que o emprego é cada vez mais diverso, e isso implica que as políticas devem ser melhor adaptadas a esse cenário. O progresso em direção a uma maior flexibilidade está nos mostrando que o compromisso dos trabalhadores aumentou, dissipando o mito de que a flexibilidade prejudica os resultados, o que pode ser visto nos trabalhos executados em casa ao longo da pandemia. Os colaboradores, em sua maioria, concordaram em trabalhar de forma flexível, e na experiência de teletransporte, as pessoas identificam maior agilidade do trabalho em equipe, a eliminação dos tempos de viagem e esforços e uma melhor capacidade de se concentrar em tarefas de maior concentração e conteúdo intelectual, como principais razões para melhorar a produtividade.”
Tudo nos leva ao fato de que no processo, a equação entre mais tecnologia, mais flexibilidade e melhor resposta às adversidades extremas tornou-se aparente. É a flexibilidade, especialmente a flexibilidade facilitada pela tecnologia, que nos permitiu responder à pandemia, pois tente imaginar as respostas das organizações à pandemia sem as flexibilizações?
A robotização nos leva a necessidade de se refundar nosso sistema social, diante da nova economia que surge, é preciso termos soluções para as necessidades básicas, pois esses não conseguem esperar, não se trata de cortar o yogurt, mas resolver como comprar o arroz e o feijão.
Trabalhar meio período, se tornar empreendedores, ou procurar empregos tradicionais entre aqueles que permanecem como tal, tarefas para as quais é interpretada que a participação humana, não a robótica, continua a fornecer um certo valor agregado.
Porque, basicamente, o que estamos falando é de uma sociedade na qual a grande maioria das tarefas, desde a colheita do campo até a colocação de óculos ou transporte de mercadorias, será realizada por robôs de todos os tipos: versáteis, hiper producentes… e infalível. Nessa situação, a renda básica é abordada a partir de dois pontos de vista fundamentais: evitar uma revolução que levaria à classe média em declínio tentando obter os rendimentos crescentes da classe dominante, ou preservar a capacidade de consumo daqueles que, sem essa renda, seriam condenados à pobreza.
Infelizmente a renda básica ainda não está na agenda do nosso governo, nem na maioria absoluta deles, e a evolução de uma sociedade na qual o conceito de trabalho será completamente redefinido através da substituição progressiva de pessoas por máquinas em um número crescente de tarefas de todos os tipos.
Quem vive nesses dias vai estar assistindo a mudança social mais importante vivenciada na história da humanidade, com uma amplitude maior do que da primeira revolução industrial, e bem mais veloz. Agora não são os empregados da linha de produção que tem seus postos ameaçados, mas os de colarinho branco no escritório também.