RIVIAN, TESLA, BOLHA OU FUTURO?

Com apenas três veículos na sua grade de produtos: um SUV (chamado de R1S) e uma picape (modelo chamado R1T), além do furgão elétrico, e produzindo em 2020 apenas dois carros por dia a Rivian Automotive, abriu o seu capital na Nasdaq nessa semana avaliada em US$ 100 bilhões. Isso mesmo a montadora que em 2020 teve um prejuízo de cerca de US$ 1 bilhão, foi precificada pelos investidores por um valor maior do que GM e Fiat Crysler juntas, sendo que a primeira com toda crise do mundo produziu em 2020 6,26 milhões de veículos e a segunda 4,5 milhões.

Como explicar que uma empresa criada em 2009, que em 2020 produziu menos de 700 veículos, que apresenta um prejuízo bilionário, seja precificada pelo mercado como a terceira montadora em valor, atrás apena da Tesla e Toyota.

Qual a fórmula de Valuation para justificar essa avaliação?

Bem você pode dizer que ter a Amazon como dona de 20% da empresa seja uma boa referência, ok, pode também dizer que ter a FORD entre os seus sócios minoritários também ajuda, mas qual a possibilidade dessa empresa concorrer com as montadoras gigantescas em sua capacidade de produzir e distribuir se elas resolverem em 5 anos destinar 5% das suas plantas industriais para produção de carros elétricos?

Definitivamente o mercado de capitais também se alimenta de crenças, afinal entre um bom projeto e a execução deles tem muita coisa no meio do caminho, entre elas é que o jogo precisa ser combinado com os adversários, ou as montadoras irão esperar em silêncio a toda de investimentos por startups de carros elétricos?

Apesar de ter acabado de começar a vender veículos e ter pouca receita, a Rivian ficou à frente do valor de mercado de US$ 86 bilhões da General Motors e dos US$ 77 bilhões da Ford, sua sócia.

A estreia na Nasdaq permitiu à Rivian levantar cerca de US$ 12 bilhões para financiar seu crescimento e o número pode subir para US$ 13,7 bilhões se lotes adicionais de papéis forem exercidos.

A Amazon.com é a maior acionista da Rivian, com uma participação de 20%.

A Rivian tem investido pesado para aumentar a produção de sua picape elétrica R1T, lançada em setembro. A empresa pretende lançar na sequência um utilitário esportivo e uma van comercial, explorando os segmentos mais aquecidos do mercado.

A montadora planeja fabricar pelo menos 1 milhão de veículos por ano até o fim da década. A empresa tem fábrica no Estado norte-americano de Illinois e já anunciou planos para abrir uma segunda instalação nos EUA.

A Rivian conseguiu reunir Amazon (que tem 20% da empresa hoje e já investiu mais de US$ 1 bilhão na companhia), BlackRock, Fidelity T. Rowe Price e Ford Motor (que tem, aproximadamente 12% do capital da empresa, segundo a CNBC).

A picape da empresa, inclusive, apareceu na transmissão do lançamento da cápsula “New Shepard” por parte da Blue Origin, companhia também fundada por Jeff Bezos. Ao todo, a Amazon já encomendou 100 mil unidades do furgão elétrico da Rivian.

Outro fator, para “tentar “justificar esse valor, está na falta de competição direta com a Tesla, já que a companhia de Elon Musk parece mais dedicada a fabricar carros para a cidade, mesmo com a previsão do Cybertuck, enquanto a Rivian quer atingir um público que precise de veículos com tração 4×4 e que não sejam atendidos atualmente por, aparentemente, nenhum fabricante.

Nesse momento, a produção está longe da larga escala, e um dos fatores para a lentidão pode estar no fato de que, hoje, tudo isso é produzido em apenas uma fábrica, comprada da Mistsubishi e reformulada para produzir veículos elétricos.

Para completar a lista de desafios, a companhia enfrenta uma dificuldade compartilhada por grande parte das montadoras que querem entrar na onda dos elétricos, a tecnologia para produção de baterias em preços competitivos. Nesse caminho, a Rivian sofreu acusações por parte da Tesla de estar roubando informações sobre a tecnologia de baterias da companhia de Elon Musk, em julho de 2020.

Em resposta, a startup afirmou que a empresa de Musk não detalhou de forma suficiente os supostos “segredos comerciais” que teriam sido roubados.

A euforia dos investidores busca justificativa, no fato de que as picapes devem responder por um quinto do mercado de carros novos ao longo dos próximos anos, segundo estimativas da IHS Markit.

Nesse mercado, a concorrência tem crescido ao longo dos últimos anos. Considerando o mercado norte-americano, alguns dos veículos semelhantes seriam: o novo GMC Hummer (que vai de zero a 100 km/h em três segundos e foi anunciada por US$ 110,5 mil em abril deste ano) e a picape F-150 Lightning, da Ford, anunciada em maio com preço de US$ 40 mil a US$ 90 mil, isso é claro sem falar na já mencionada Cybertruck.

Pensando em startups, outros nomes importantes nos Estados Unidos incluem a Fisker, Lordstown Motors e a fabricante chinesa de veículos Nio, como aponta a CNBC.

A Rivian, segue uma estratégia de duas vias: montar vans elétricas para a Amazon e desenvolver uma picape elétrica para público de mais alto padrão.

A Ford já havia dito, que tem mais de 160 mil pedidos de sua picape elétrica F-150 Lightning e que uma versão elétrica de sua van comercial Transit está toda esgotada. A GM está preparando a produção de vans, SUVs e picapes elétricas. Como eu havia alertado as montadoras não vão esperar sentadas, mas mesmo com todos os seus projetos e facilidade, qual o motivo para esse diferencial não estar refletido nas suas ações?

Para termos ideia da importância dessa captação lembro que o Alibaba captou recorde de US$ 25 bilhões em 2014, a Meta, nome novo do Facebook, captou 16 bilhões em 2012, enquanto o Uber levantou 8,1 bilhões em 2019. Esse valores dão a magnitude dessa captação e ao mesmo tempo a dimensão do que o mercado de capitais projeta para os carros elétricos.

Para se ter uma dimensão da euforia pela eletrificação da frota mundial, no mês passado o anúncio de um acordo com a Tesla para a aquisição de cem mil veículos Tesla Model 3 pela Hertz tornou-se uma das notícias mais importantes nos mercados, causando o aumento de ambos os valores e, com ele, elevando a capitalização de mercado da Tesla acima  do mítico trilhão de dólares.  Nada mal para todos aqueles que disseram que a empresa era financeiramente inviável, que era uma bolha ou que seu valor evaporaria assim que os fabricantes tradicionais começassem a fabricar veículos elétricos. As montadoras tradicionais já começaram a produzir veículos elétricos e isso não se reflete no seu valor.

Parece claro o compromisso com a descarbonização, independente da rentabilidade ou outras considerações financeiras. Ou isso, ou nada. Eletrificar 20% da sua frota de veículos de um curso e instalar carregadores em todos os seus locais é uma decisão muito importante, mas também faz parte da definição de um contexto diferente: os veículos elétricos, com sua maior robustez mecânica devido ao menor número de peças móveis, têm custos de manutenção muito menores, e geralmente valores de recompra significativamente mais elevados do que veículos com uma faixa de combustão interna equivalente. Dada a rápida rotatividade de capital das locadoras de automóveis, estamos falando de uma decisão que não só levará a uma popularização mais rápida dos veículos elétricos, mas também trará muitos mais veículos de segunda mão para o mercado, e mudará o dimensionamento da estrutura de fluxo de caixa da Hertz. Na realidade, a empresa está entrando em uma onda muito interessante: os veículos que adquire têm menos problemas mecânicos e, além disso, depreciam menos, com tudo o que isso implica.

O que hertz anuncia dando este passo? Basicamente, chega de bobagens. Que os veículos elétricos são o único futuro que a indústria tem, que eles já são a tendência mais importante no mercado automotivo, que 40% dos consumidores norte-americanos dizem que provavelmente considerarão um veículo elétrico na próxima vez que procurarem um novo veículo no mercado, que as vendas globais de veículos elétricos subiram 200% no último ano, e que eles provavelmente continuarão a crescer, dado os compromissos das montadoras em aumentar as vendas de veículos elétricos. Só em agosto, três montadoras norte-americanas prometeram aumentar as vendas de veículos elétricos em até 40-50% até 2030. Esse crescimento também é impulsionado pela alta eficiência dos veículos elétricos, pela experiência indubitavelmente positiva de seus usuários e pelos benefícios de aliviar a emergência climática, juntamente com os avanços na tecnologia das baterias e a rápida expansão das redes de carregamento.

E qual o significado da Tesla superar a barreira de trilhões de dólares? O seleto clube de trilhões de dólares é composto inteiramente por empresas de tecnologia: Apple, Microsoft, Amazon e Alphabet. Agora, eles se juntam a Tesla, que muitos de nós vêm dizendo há muito tempo, não é uma empresa automotiva, mas simplesmente outra empresa de tecnologia, com os padrões de gestão, investimento em P & D e desenvolvimento de produtos característicos disso. Quem quiser continuar a valorizar a Tesla como uma empresa automotiva e compará-la com eles, já sabe o que está sendo perdido. E vamos esperar e ver o que acontece quando seus outros produtos, painéis solares e baterias, também entram em sua fase de popularização em massa.

E ai nasce um valor para quem como esse escriba trabalha com a avaliação de negócios, a Tesla é vertical, com investimento em pesquisa e desenvolvimento tecnológico maior do que todas as empresas do setor, e pergunta que fazemos é como serão avaliadas as empresas que passarem pela transformação digital?

Os investidores esperam surfar nessa onda de otimismo em torno das empresas dos setores automotivo e de mobilidade eletrônica, dispostos a invadir uma empresa que alguns dizem que poderia emular o sucesso da Tesla, que ultrapassou um trilhão de dólares em capitalização de mercado em outubro.

Nesse momento, em nosso planeta, há mais de um bilhão de veículos que precisam ser substituídos por carros elétricos durante os próximos 10 a 15 anos, junto com a substituição desses veículos, o Direito vai precisar evoluir com esses novos problemas.

Qual o destino dessa baterias, maiores e em maior escala? De quem será a responsabilidade legal dessas baterias quando deixarem de funcionar?

Os dados gerados pelo trafegar desses carros, cada dia mais digitais, são das montadoras, dos seus proprietários, das locadoras ou dos locatários, visto que muito do nosso tempo passamos dentro deles e com isso geramos muitas informações de caráter sensível, desde a nossa rota até o que conversamos com os assistentes de voz desses veículos.

O mercado é muito mais generoso com os números das empresas de tecnologia do que com a velha economia, imagine que Rivian, teve perdas de quase US$ 1 bilhão no primeiro semestre do ano, e estima que pode perder mais US$ 1,28 bilhão no terceiro trimestre.

Um mundo novo com muito por entender e regrar, como a responsabilidade pelos postos de reabastecimento elétrico, ou a comercialização de excedentes de energia nesses pontos alternativos de cogeração.

Desafios sim, mas muita oportunidade para quem olhar o futuro presente nas nossas rotinas.

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