Em meio a tantas polêmicas, acentuadas por paixões políticas, esquecemos que a maioria do conteúdo publicado nas redes sociais não tem conteúdo político partidário, ou seja, nem tudo nessa vida se resume a eleições, e que existe sim um mundo de assuntos e ações delicadas que podem ser distorcidas pelas redes sociais.
Logo, a filtragem é, portanto, uma importante ferramenta para o acirramento de posições extremistas, onde fanáticos, sejam eles religiosos ou radicais político-ideológicos, estão sempre presentes.
Como destaca Martino “Uma pessoa não se torna necessariamente racista ou homofóbica na internet, mas racistas e homofóbicos podem se aproveitar da arquitetura das comunidades virtuais para encontrar quem compartilhe de sua visão da realidade”. (MARTINO, 2014, [p. 770]).
É evidente que através das redes sociais, com seus algoritmos de modulação, percebemos que consumir informações que se moldam às nossas ideias de mundo é fácil e prazeroso. Consumir informações que nos desafiam a pensar em novas formas ou questionar nossas suposições é frustrante e difícil, pois, nos tiram da nossa zona de conforto e por hábito, sair da zona de conforto é doloroso e quase sempre podemos responder com comentários pouco humorados.
Podemos identificar muitas vezes que o uso da internet pode ser feito de forma hierárquica, e dessa maneira acaba reproduzindo padrões autoritários de comunicação de grupos sectários, tratorando por termos e formas qualquer discussão que possa ser enriquecedora, afinal as formas de tratamento acabam desqualificando o crítico ao invés de se pensar na crítica.
Os diversos meios de compartilhamento de redes sociais, não deixam muito espaço para o aprofundamento e reflexão, e logo onde a velocidade e a forma tem mais peso que o conteúdo, acaba por preponderar a radicalidade e a educação pede licença pra sair. E assim com debates regados a muitas Fake News, perde-se o espaço para aprofundamento de qualquer assunto, afinal todos escolhem “verdades convenientes”.
Quantos são os exemplos de matérias compartilhadas pelo título e cujo conteúdo é distinto do título, afinal vivemos o momento onde compartilhamos as chamadas sem muitas vezes ler o texto na sua íntegra. Quase sempre a informação acaba sendo compartilhada ou retuitada pelo interagente, ainda que não haja o consumo completo do conteúdo relacionado.
E assim destaca-se a importância do que a doutrina chama de filtro-bolha, que muito contribui com a personalização do conteúdo, selecionando resultados que com uma maior probabilidade de o usuário visualizar, exibindo perfis e sites com temas de maior interesse e tornando a publicidade.
As políticas da página, raramente lidas por seus usuários, estabelecem a forma e o tipo de conteúdo que pode ser publicado e que muitas vezes através do controle dos seus robôs acabam distorcendo o propósito, visto que são muitos os casos de conteúdos excluídos ou “censurados” indevidamente pelo controle nem sempre perfeito dos algoritmos.
Considerando a quantidade de conteúdo, o controle na maioria das vezes é falho, pois os que pretendem driblar as restrições de conteúdo das páginas vivem diariamente buscando forma e escolhendo palavras para ficar de fora desse controle.
Sem o controle, a internet, nas redes sociais virariam terra de ninguém onde seus filhos poderiam dela saírem machucados.
É preciso sim fixar parâmetros e sistemas de controle, não pelo exercício de uma censura, mas para a construção da cidadania digital através de um conteúdo de qualidade que colabore para melhor informação e formação do usuário.
Ter filtros é a forma necessária para reduzir os milhões de crimes que podem ser produzidos nesse ambiente tão aberto quanto as redes sociais. Filtro sim, censura não.
As políticas e termos de privacidade são os mandamentos dessa cruzada que os usuários e as plataformas traçam para entregar conteúdo com qualidade, em meio a gigantesca produção de conteúdos por socialbots que tanto mal fazem a internet.