Desde o início da tarde de segunda, as redes sociais do Facebook (WhatsApp, Face, Instagram e Messenger) ficaram fora do ar em muitos países mundo afora, como no caso brasileiro.
A plataforma ficou offline, deixando mensagens esperando para serem enviadas e incapazes de receber notificações de chats, tanto privados quanto em grupo.
Especificamente, a queda do Instagram significou a paralisia completa do aplicativo, impedindo que os usuários atualizem suas publicações, enviem novas fotos ou histórias ou comentem sobre os de outros usuários da rede.
Na conta oficial do Instagram no Twitter, a empresa pediu paciência aos usuários, lá também, um porta-voz do Facebook confirmou a falha e garantiu que estão trabalhando para resolvê-la, enquanto a conta oficial do Whatsapp na rede social do passarinho (que foi repleta de comentários sobre as quedas das redes sociais da competição), também pediu paciência aos seus usuários enquanto o serviço é restaurado no aplicativo de mensagens.
Pelas informações iniciais, embora a princípio o erro parecesse vir do DNS, “desta vez o DNS é a consequência e não a causa, já que o problema é ainda mais profundo: o roteamento do BGP”.
Mas o que é o BGP? Bem é o sistema postal da Internet. É um protocolo pelo qual roteadores de provedores de Internet sabem como enviar pacotes de rede para os segmentos de rede correspondentes e endereços IP específicos. “No início da tarde, do horário no Brasil, o Facebook retirou (por razões que até o momento em que escrevia esse artigo não se sabe) suas rotas do sistema de anúncios BGP, removendo-se assim da Internet. Isso fez com que os próprios servidores DNS do Facebook, que traduzem nomes de domínio em endereços IP, ficassem inacessíveis para o resto da rede, com a consequente queda de todos os seus serviços.
Imaginem só, se, um dia, por qualquer razão, o Facebook decidir sair da Internet, esse é o caminho que deve seguir.
Sobre a razão do desaparecimento dessas rotas, nada ainda é conhecido, mas as causas mais prováveis seriam que uma falha de configuração tenha causado um efeito dominó ou um ataque cibernético no sistema autônomo do Facebook, encarregado de manter essas rotas.
No momento, o Facebook não explicou a origem do problema ou quanto tempo a falha em suas redes será prolongada, mas os problemas de conexão das empresas de Mark Zuckerberg não são nenhuma novidade, para deleite dos mais críticos e os amantes de teorias da conspiração, que nunca dormem no plantão. Lembro que em março último, as redes sociais do Facebook sofreram outra queda global que durou cerca de uma hora e meia e afetou grande parte do mundo.
Desta vez o apagão afetou 90% dos usuários do WhatsApp, que tem cerca de 2 bilhões de usuários mensais ativos e é de longe o principal aplicativo de mensagens do planeta. A falha generalizada nos aplicativos de propriedade do Facebook pode ser encontrada em um problema de servidor.
Nesse momento, fico tentando imaginar qual o substituto você tem para o Facebook e para o Google, que tenham alguma relevância. Para que tenhamos a exata medida da sua importância, faça um teste e tente bloquear os serviços das Big techs e suas controladas por apenas um mês. Faça o bloqueio da Amazon, Facebook, Google, Apple e Microsoft ao longo de 30 dias.
Vamos começar pela Amazon e o Google. Na Amazon veja todos os sites hospedados pela Amazon Web Services, maior provedora de espaço na nuvem da internet, só lembrando que eles possuem o controle de hospedagem da maioria dos sites no Brasil, logo não seria apenas boicotar a Amazon, mas seus serviços de hospedagem, pois muitos aplicativos e boa parte da internet usam os servidores da Amazon para hospedar seu conteúdo digital, e dessa maneira, uma parte muito grande do seu mundo digital vai se tornar inalcançável.
Quanto ao seu serviço de filmes, lembre-se de desligar o Amazon Prime Video e ficar com o Netflix. Quanto as suas compras, é bom lembrar que no caso da Amazon que detém mais de 50% de todas as vendas por internet nos EUA, pense o que representaria, para os milhões de fornecedores que fazem suas vendas no marketplace da Amazon.
Ao bloquear o Google, o primeiro resultado é que a internet inteira deve ficar mais lenta, afinal quase todos os sites que você visita utilizam ele como fonte para rodas os comerciais, lembre-se Facebook e Google possuem cerca de 22% de toda publicidade digital, logo, veja também onde seus dados são armazenados, caso seja o Dropbox ao bloquear o Google, há o risco de você perder o acesso, pois o site pode pensar que você não é uma pessoa de verdade. Uber e Lyft devem parar de funcionar para você, pois, ambos dependem do Google Maps para navegação. Descobri que, na prática, o Google Maps exerce um monopólio no segmento dos mapas online. Visto isso, concluímos que esses dois hoje são aqui na américa os provedores da infraestrutura da internet, de tão misturadas que são às arquiteturas do mundo digital, que até mesmo suas concorrentes acabavam dependendo desses dois barões.
Quanto ao Facebook, lembre-se que ele é dono das suas redes sociais (Facebook, Instagram e WhatsApp), logo, registre como será voltar a fazer ligações via sua conta telefônica de celular ou fixo e como saber das novidades dos seus grupos, de amigos, trabalho e ou família?
Usei apenas esses poucos exemplos como ponto de partida, nem precisei me aprofundar, mas entenda que quando elas não te prestam seus serviços diretamente, acabam sendo a fornecedora de quem te presta serviço, ou seja, elas são onipresentes. É preciso repensar a concentração excessiva desse mercado, urgentemente.
lembro ainda que o MCI a lei que trata de aspectos gerais do uso da internet no Brasil, prevendo princípios e garantias, direitos e deveres para quem usa a rede e determinada diretrizes para a atuação do Estado. Qualquer empresa que atue na internet pode vir a ser considerada um provedor de aplicações, motivo suficiente para que se lhe aplique o MCI, fixando-se dessa forma regras basilares da nossa governança digital.
Hoje qualquer empresa que pretenda vender um produto ou serviço a consumidores na internet estará, necessariamente, abrangida pelos diplomas acima mencionadas.
Os oligopólios formados pelas empresas de tecnologia em momentos de pequenas falhas dão a dimensão da nossa dependência, é preciso combater isso.
Basta!
(Artigo publicado no site www.jusbrasil.com.br, em 05 de Outubro de 2021.)