Quantos aplicativos de redes sociais estão instalados no seu celular? Quantas dessas redes você acessa diariamente? E se você for em seu celular no tempo de uso, quantas horas semanais do seu tempo você dedica as redes sociais? Certamente o menor levantamento de horas que você apure vai lhe deixar chocado, pelo tempo que a maioria das pessoas se dedica a elas.
Quando as primeiras redes sociais surgiram, seja por sua limitação ou pela pouca atratividade como no caso do Orkut se desenhava ali um novo modelo de economia na disputa pela sua atenção.
Uma economia que vive notadamente do seu tempo e dos seus dados, mas que recentemente começa a dar seus sinais de esgotamento de modelo de negócio, o que é evidenciado por seus números.
As redes sociais mudam, sim, são verdadeiros camaleões, se adaptam de acordo com a preferência da audiência e estão cada vez mais nichadas, focadas em públicos (tribos) cada vez mais segmentados, e não é a toa que a maioria das pessoas encontra-se presente em diversas redes com propósitos e uso distintos.
Em 2012, a adoção de celulares começou a se popularizar, Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, decidiu comprar o Instagram por um bilhão de dólares para se adaptar a essa nova tendência. Logo depois, em 2016, quando o Snapchat se tornou um grande rival com seus vídeos curtos, a rede social decidiu lançar o Instagram Stories, uma cópia da ferramenta do Snap.
Agora, com o TikTok como o principal rival capaz de roubar usuários, Zuckerberg, que de bobo não tem nada, começa a se concentrar em Reels, vídeos curtos que imitam os da empresa chinesa. Mas a situação é muito diferente e o agora chamado Meta (Facebook, Instagram, Messenger e WhatsApp) está longe de viver o melhor momento.
Na semana passada, a empresa anunciou uma queda de 1% na receita no segundo trimestre do ano, marcando a primeira queda de sua receita em sua história, o que coloca uma questão importante, estamos diante de uma queda das redes sociais? O modelo está esgotado?
Na lógica da atenção, onde todos querem sua atenção gerando muito barulho e pouca atenção, os anunciantes embalados pela atual crise econômica do mundo, despertaram para redução dos investimentos na publicidade digital dessas redes, que tem pouca transparência na quantidade e na qualidade da audiência, quando muitos das empresas que anunciam já tem claro que parte significativa da audiência é feita por robôs, que não compram nenhum produto ou serviço, mas que estão contando como número de visualizações desses anúncios.
Acompanhando a economia a desaceleração no negócio de publicidade digital e a forte concorrência entre as plataformas, especialmente com o TikTok, são as principais causas dessa queda, afinal anunciante quer atenção e o crescimento do TikTok disputa a atenção das pessoas que dedicam seu tempo a rede social chinesa. Segundo a Meta, os preços dos anúncios, que já caíram 8% no primeiro trimestre, diminuíram 14% no período abril-junho. Há um ano, a empresa reportou um aumento anual de 47% no preço médio por anúncio, ou seja o mercado é rei quando a concorrência se abre.
O Facebook é um bom exemplo do que ocorre nesse momento com as redes sociais, o que se evidencia com a publicação dos resultados financeiros das demais redes.
O Snap, pai do Snapchat, foi o primeiro a soar o alarme anunciando receita bem abaixo do esperado e perdendo US$ 442 milhões no segundo trimestre, logo em seguida o Twitter surpreendeu analistas com perdas de US$ 270 milhões, bem acima das expectativas. Logo o público está se mudando para novas redes, que mudaram as regras do jogo, como TikTok ou Twicth, onde a criação de conteúdo foi liberalizada e colocou o usuário no centro, deixando para trás práticas mais comercializáveis. É bom destacar que existe diferenças gritantes no algoritmo do Facebook e do TikTok, mas isso é assunto para um outro artigo.
Tanto o Twitter ou Meta, a guerra na Ucrânia está tendo um forte impacto, já que ambos suspenderam seus serviços na Rússia. Além disso, as três empresas sofreram uma queda na receita de publicidade devido à atual situação econômica e também devido às políticas de privacidade da Apple, que já havíamos destacado em outros artigos.
A Apple implementou uma série de novos recursos em 2021 para dar aos usuários mais controle sobre sua privacidade, ferramentas que estão custando às empresas que vivem muito dinheiro com a venda de anúncios.
Alguns estudos consideram que o impacto dessa media representa uma queda de quase US$ 16 bilhões para as redes sociais, desse valor a maior fatia seria da Meta, por ser a líder com suas quatro redes sociais, perdendo quase US$ 12,8 bilhões em receita. A Snap deixará de ganhar US$ 46 milhões, o Twitter US$ 323 milhões e o YouTube US$ 2,2 bilhões.
Outro sinal, de ajuste nas redes sociais, é que tanto o Twitter quanto a Meta anunciaram cortes em suas forças de trabalho. O primeiro, no meio de uma batalha judicial com Elon Musk sobre a possível compra da empresa, demitiu 100 trabalhadores e anunciou que iria pausar seus processos de contratação. Por sua vez, o Facebook teria pedido aos líderes de sua equipe que relatassem quem são os trabalhadores menos rentáveis para demiti-los.
Enquanto isso a chinesa TikTok ultrapassou um bilhão de usuários ativos mensais já em setembro de 2021, e seu uso superou o do Instagram entre adolescentes em novembro de 2021, de acordo com a Forrester Research.
Os números indicam isso, as mídias sociais não parecem estar passando por seu melhor momento. Após a ascensão do Olimpo do Facebook, a única rede que conseguiu transcender o conceito de “novidade” e se estabelecer por algum tempo como a rede praticamente onipresente em quase todo o mundo, a fadiga chegou, em parte devido a fatores geracionais, nenhum jovem quer se relacionar nos mesmos lugares, físicos ou virtuais, como seus pais, ou seja quem quer ficar na rede social do Tiozão? Seu filho pode estar no Facebook, mas veja quantas vezes ele interage? As redes ficaram pra lá de segmentadas, tem rede social pra tudo e isso só aumenta a dispersão no foco das nossas atenções.
As redes colhem alguns erros de gestão, onde a despreocupação com a qualidade do conteúdo fez nascer um mar de lunáticos apaixonados por mentiras.
Encontramos um quadro no mínimo curioso, onde a funcionalidade das redes sociais, originalmente projetadas para saber o que nossos amigos e conhecidos estavam fazendo, praticamente desapareceu.
Onde essa funcionalidade foi perdida? Basicamente, quando as redes sociais passaram de ser isso, o lugar que você foi para descobrir o que seus amigos e conhecidos tinham feito, para se tornar uma suposta plataforma para uma espécie de “salto para a fama”, para tentar se tornar um “influenciador”, uma carreira sem sentido na qual, é claro, muitos eram chamados, e onde raros e poucos destes eram eleitos. Em pouco tempo, e incentivadas pelas próprias redes sociais, as pessoas pararam de compartilhar sua vida, sua atividade ou o conteúdo que criaram, e passaram a compartilhar outras coisas: memes copiados de qualquer site, notícias, comentários com aspirações virais, GIFs animados ou coisas semelhantes, tudo na única disputa da sua atenção, e ficam contentes com os likes protocolares. De compartilhar nosso dia a dia, nem sempre interessante, para se tornar um concurso de popularidade absurdo e constante.
Estar nas redes sociais, independentemente do uso que damos a elas é sempre um desafiar constante nas nossas relações e interações onde os outros parecem imaginar que o celular é a extensão dos nossos corpos e que precisamos responder no mesmo instante à toda e qualquer mensagem ou comentário de uma publicação, num aprisionamento dos nossos tempos e das imagens que nossos avatares sociais criaram.
O conceito da atenção plena faz com que amigos, parentes, parceiros comerciais ou enamorados passam a relativizar a relação de acordo com o tempo do nosso retorno. E assim participamos de redes sociais e elas são ampliadas através dos grupos onde a desocupação pode dar o tom da intromissão da rotina dos mais ocupados, e assim sem cerimônia as telas dos nossos celulares são o dia inteiro invadidas pelas publicações “amigas” que compartilham tudo e para todos o que vem na telha.
Logo é impossível dar atenção a tudo e a todos nessa imensa proliferação de informações, e assim ficamos atentos muitas das vezes aos distantes, e muito distantes dos que estão próximos, onde a tela dos nossos celulares parece ter virado o confessionário permanente dos que tudo compartilham.
O tempo também não é constante, apesar do que possa sugerir a existência de um padrão internacional. A teoria da relatividade geral de Albert Einstein, por exemplo, prevê que o tempo se move mais lentamente quando está perto de um corpo de massa considerável, como um planeta, porque é retardado pela força da gravidade.
Isso significa que, quando o tique-taque de um relógio muda, mesmo que levemente, as condições físicas nas quais o relógio está situado também podem ter mudado.
Curiosamente o elemento ideológico de uma sociedade acelerada e abundante em informação e canais de comunicação, alterou a nossa percepção do tempo e das relações, e as redes sociais foram o maior instrumento dessa necessidade de estarmos de plantão 4 horas por dia para ver comentários, curtidas e novas fotos e vídeos. Tudo sempre dentro de um design meticulosamente estudado para prender a sua atenção.
Logo em que pese a ditadura dos novos hábitos digitais o nosso evoluir precisa muito disso, de trocarmos a visualização das telas de celulares por nossos olhares apaixonados, por filhos, amigos, pais e pela pessoa amada, presente ou distante, hoje ou amanhã. Seja no revigorar dos nossos sentimentos ou na ressignificação da saudade, a desintoxicação digital deve ganhar espaço na valoração do tempo.
O tempo esse ativo intangível, um presente de nossa existência terrena, que precisa ser ressignificado. O tempo é igualmente dividido de forma cartesiana para você ou para o seu vizinho, o valor dele sempre será na escolha das suas atenções, ou das suas desatenções.
Por isso nasce a importância do controle do tempo que dedicamos as redes sociais e outros usos que fazemos de celulares, tablets e outros dispositivos, que são consumidores vorazes das nossas preciosas horas, minutos e segundos, de onde trocamos o olhar de amados, de paisagens e memórias afetivas para saber o que o distante amigo digital resolveu almoçar no dia de domingo, em qual praia foi ou qual vinho escolheu para beber. A vida é o caminhar das escolhas e da valoração dessa commoditie chamada tempo.
O tempo dispendido, em muitos casos gera dependência e dependentes patológicos manifestam sintomas de ansiedade, angústia e nervosismo, como suor e tremores, quando percebem que estão impossibilitados de usar a tecnologia e necessitam de tratamento com medicamentos e terapias.
Logo quanto mais tempo nesse universo digital, mais distante nos colocamos no plano físico, a assepsia das relações digitais ergue um muro no mundo real com relações cada vez mais distantes e mais vazias, onde curtidas são confundidas com aceitação e comentários com concordância, alimentando sua bolha.
A vida com o uso cada vez maiores dos nossos aparelhos e seus aplicativos passa a cada um de nós a necessidade de sermos multitarefas, e ai que reside um grande perigo no uso do seu tempo na tentativa de se multiplicar, dedicando cada vez menos atenção, naquilo que eu chamo de “Sociedade da Desatenção”.
O que me faz lembrar de Macbeth personagem de William Shakespeare “Aconteça o que acontecer, o tempo e as horas sempre chegam ao fim, mesmo do dia mais duro dentre todos os dias.”