QUANDO O BRASIL VAI FABRICAR SEUS FOGUETES?

Em 2021 comemoramos 60 anos que o primeiro homem foi lançado no espaço, exatamente em 12 de abril de 1961. A bordo da nave Vostok 1, o soviético Yuri Gagarin, deu o primeiro grande passo da Corrida Espacial, protagonizada na época por Estados Unidos e União Soviética, que viviam em plena Guerra Fria.
Para estar ali e colocar seu nome na história, esse homem com apenas 1,57 m de altura e pesando 69kg, disputou a vaga com outros 19 pilotos previamente selecionados após testes físicos e psicológicos rigorosos, e foi escolhido por conta de seu excelente desempenho durante o treinamento, além de ter uma origem camponesa, o que por certo contou muito para o regime político comunista.
Ainda antes de embarcar, Gagarin disse algumas palavras. “Em poucos minutos, possivelmente uma nave espacial irá me levar para o espaço sideral. O que posso dizer sobre estes últimos minutos? Toda a minha vida parece se condensar neste momento único e belo. Tudo o que eu fiz e vivi foi para isso!”, declarou. Já no espaço, enquanto a Vostok 1 dava a sua única volta em órbita da Terra, Yuri, aos 27 anos de idade, não segurou a emoção e disse: “A Terra é azul! Como é maravilhosa. Ela é incrível!”. Frase que hoje povoa milhares de poemas, e letras de músicas.
Com apenas 108 minutos de duração, a uma altura de 315 km a partir da superfície, em uma velocidade de 28 mil km/h, o primeiro voo tripulado entrou para história. Com avanços tecnológicos bem mais simples, o cosmonauta se manteve em contato com a Terra usando diferentes canais via telefone e telégrafo. Fato curioso, é que em sua volta ao planeta, os cientistas soviéticos acabaram errando o cálculo da trajetória de aterrissagem da nave, fazendo com que Gagarin retornasse à Terra caindo no Cazaquistão, a cerca de 320 km do local da decolagem. Então, quando Yuri aterrissou de volta ao nosso planeta, ainda precisou esperar, sozinho, até que a equipe o resgatasse. Cá entre nós considerando o tamanho do feito, nem deveríamos chamar de erro.
A nave Vostok 1, media apenas 4,4 metros de comprimento por 2,4 m de diâmetro e pesava 4.725 quilos, ali haviam dois módulos, sendo um para acomodar os equipamentos e tanque de combustível, enquanto o outro era a cápsula onde o cosmonauta registrava a experiência.
Quase 60 anos depois, longe da guerra fria e fazendo parte de uma corrida comercial, a empresa SpaceX, de Elon Musk, permite que até quatro passageiros possam contratar a espaçonave Dragon para um passeio pela Terra, o mesmo passeio de Gagarin.
Apesar do custo desse passeio não ser divulgado, podemos usar como referência que o último voo de turismo orbital individual, feito em 2009 pelo fundador do Cirque du Soleil, Guy Laliberte, que teria custado US$ 30 milhões. Para os passageiros a experiência exigirá algumas semanas de treinamento antes de um lançamento da mesma plataforma no Centro Espacial Kennedy, onde os foguetes Apollo partiram para a lua.
Os passageiros experimentarão queda livre na microgravidade e quebrarão o recorde de maior altitude alcançada pelos turistas de voo espacial. A marca atual é a própria estação, que circula cerca de 409 km acima do planeta, o tempo que ficarão no espaço ainda não foi determinado.
Polêmica poderia ser o sobrenome de Elon Musk: um filho com nome de robô (X-AE A-XII), o apoio ao rapper Kanye West para a presidência dos EUA, a vontade de causar no Twitter e até a capacidade de negar a gravidade do coronavírus. Depois de amargar em 2019 o ceticismo do mercado sobre a sua capacidade de entregar tudo que promete nas suas diversas frentes de negócio, o ano de 2020, ele assistiu as ações de sua empresa subirem cerca de 500% em 12 meses, e de quebrar virar a maior montadora do mundo em valor. Louco ou gênio?
Quem sabe até um pouco dos dois, mas no momento em que a sua firma aeroespacial SpaceX se tornou a primeira empresa privada a enviar astronautas para a órbita terrestre em maio, numa parceria com a Nasa, Elon coloca mais uma vez seu nome na história e de quebra faz o mundo olhar para o setor de foguetes.
Com o reaproveitamento de foguetes como estratégia, a empresa por muito tempo era vista como um negócio de risco, agora atrai investidores, podendo ser avaliada em US$ 44 bilhões após uma nova rodada de aportes, o que a coloca nesse momento com valor superior as 10 maiores empresas de aviação do mundo, mesmo considerando as milhares de aeronaves que essas empresas possuem.
Mas afinal que levou a NASA a escolher a SpaceX, uma empresa que para muitos ainda lembrava uma startup relativamente recente, em vez da venerável Boeing, startup fundada em 1916, com mais de 160.000 trabalhadores? É evidente que a SpaceX já está longe de ser uma startup, pois em seus 18 anos, seus mais de 8.000 funcionários conseguiram alcançar inúmeros marcos completamente inatingíveis para outras empresas, mas são números muito modestos comparados a gigante Boeing. Logo, o que fez a NASA os escolher para uma missão tão radicalmente estratégica como essa? O principal motivo segundo os analistas, foi a visão de seu fundador e especificamente sua idéia obsessiva em torno de economias de escala. Se alguém não entende o conceito, ele só tem que ver, se você ainda não o viu, o vídeo impressionante em que dois de seus foguetes pousam ao mesmo tempo no Centro Espacial Kennedy, porque há a verdadeira ideia de força: um design completamente orientado para a fabricação, e componentes reutilizáveis. Com essa ideia aparentemente simples, a de fabricar de forma totalmente automatizada e reutilizar o máximo possível, é com a qual a SpaceX pretende construir mais de um foguete por semana e nada menos do que colonizar Marte, ou com o qual foi capaz de colocar em órbita por uma fração do custo habitual de uma rede de satélites, a Starlink, que poderia até mesmo colocar as empresas de telecomunicações em sérios problemas. Ou seja, Elon Musk trouxe a cultura do mundo corporativo para um setor que não tinha compromisso com o resultado financeiro, mostrando ao mundo que existe uma oportunidade
Na verdade, é a obsessão de Elon Musk por economias de escala que caracteriza sua impressionante trajetória nos negócios. Sua empresa mais conhecida, a Tesla, baseia-se na fabricação de seus dois componentes mais importantes, baterias e células de geração de energia solar, sujeitas a fortes economias de escala, que permitem que sua fabricação seja significativamente mais barata à medida que vendem mais.
Usando como referência a Tesla, onde tudo é voltado para aumentar a eficiência do que Musk conhece como seu Alien Dreadnought, a máquina que faz as máquinas. Logo, veja o Elon Musk escreveu sobre sua estratégia e tente interpretá-la à luz de economias de escala: você pode entender muitas coisas e a melhor coisa sobre economias de escala é que elas são fáceis de entender, não são ciência de foguetes.
E como o Brasil entra nisso?
Colocar o Brasil no cenário espacial, mercado que movimenta cerca de US$ 350 bilhões (R$ 1,5 trilhão) ao ano, é algo fundamental e viável diante de toda indústria aeroespacial que o Brasil já possui.
Nesse momento o Brasil sonha com a possibilidade de lançar pela primeira vez um foguete fora da órbita da Terra em 2021 e conta com a participação da iniciativa privada. Tanto que a Agência Espacial Brasileira publicou em maio edital para que empresas nacionais e estrangeiras se candidatem para utilização do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, tornando possível a sua exploração comercial, nesse primeiro momento no nicho de envios dos pequenos satélites para órbitas baixas, onde o investimento é menor.
O Brasil realizou somente lançamentos suborbitais de sua base, mas já nos permitiu sermos referência na concorrência com Guiana Francesa e a Índia, que nesse momento já possuem portos espaciais.
A Base de Alcântara já está autorizada a realizar o lançamento de objetos espaciais de quaisquer países que tenham componentes americanos, contanto que garanta seus segredos tecnológicos. Mais de 80% dos satélites mundiais possuem componentes fabricados pelos EUA.
Indústria, Universidades, setor de serviços, um mundo de oportunidades aqui na terra, pra ver lá do espaço que a terra é azul e é linda.

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