Se somos feitos a imagem e semelhança de Deus qual o motivo para duvidarmos da nossa perfeição? Afinal em tempos de economia digital, onde a marcação do tempo parece sempre ser tão impiedosa, pois se não respondemos uma mensagem é porque não nos preocupamos com a pessoa ou pior devemos estar aborrecidos com ela!!! Que tempos são esses onde a medida da resposta imediata serve para parametrizar as relações e a importância das pessoas e dos assuntos?
Logo perfeccionistas sofrem em dobro, afinal esses seres feitos a imagem e semelhança de Deus se cobram sempre em demasia, cobrando dos outros na mesma na lógica torta de que eles são os portadores do parâmetro de eficiência e certeza.
O perfeccionismo como um valor de uma economia pode ser bem mensurado em muitas entrevistas de emprego, pois é só ver quantas vezes os entrevistados colocam o perfeccionismo como uma das suas principais qualidades, e claro, esse artigo não tenta classificar ele de forma isolada como um defeito, mas como uma característica que precisa ser calibrada pois fora da normalidade, em tempos digitais ele pode causar transtorno de ansiedade e até depressão.
O acirramento da competição na sociedade moderna, fruto do redesenho da economia onde postos de trabalho derretem, e onde tudo muda mas as pessoas não querem mudar, faz com que o conflito entre a medida da perfeição e as relações pessoais em casa ou no trabalho entrem em uma zona de guerra.
O hábito de se autointitular-se perfeccionista pode parecer um autoelogio, pois ao lado da “proatividade,” a cultura do discurso da eficiência e da meritocracia servem de anabolizante para o desenvolvimento dessa caraterística, a perfeição como resultado da pressão.
Em uma sociedade que supervaloriza o desempenho máximo e nos ensina a definir nosso valor pelo que produzimos, nos iludimos com a percepção de que o perfeccionismo possa parecer positivo ou valioso.
A parametrização dos padrões estereotipados, leva os perfeccionistas a lugares inalcançáveis, pois nas bolhas das redes sociais desfilam corpos perfeitos, profissionais perfeitos, com jantares perfeitos, encontros perfeitos, casamentos perfeitos, em empregos perfeitos e claro tudo metricamente postado de forma intensa assim em nossas vidas instagrameáveis onde likes, curtidas e compartilhamento contam mais do que a verdade que escutamos nas conversas frente a frente com amigos de carne e osso, essa busca pela audiência faz muitos esquecerem dos abraços apertados e corpos que se reúnem de forma cúmplice, com o propósito de apoiar e de estar ao nosso lado.
Nesse desfilar de novos parâmetros, os perfeccionistas cobram a si e aos outros na busca de um contentamento que não vem, de uma felicidade onde a régua subiu beirando o impossível.
E logo nos divãs dos consultórios se amontoam os problemas quase que insolúveis, ao ponto de poderem escolher os problemas de suas narrativas ao longo das consultas, preferencialmente colocando como problema o outro, afinal pessoas feitas a imagem e semelhança de Deus, tem sempre tão pouco por mudar, e assim é mais fácil ver o problema no outro, não por maldade, mas pelo simples fato de que assim o sofrimento do perfeccionista acaba sendo menor.
Segundo Yuri Busin, psicólogo e doutor em neurociência do comportamento, a pressão para sermos “perfeitos” começa ainda na infância. “No período escolar, as crianças são recompensadas por estarem ‘certas’ nas aulas e pelo bom desempenho em atividades extracurriculares. Elas ganham a atenção e a admiração dos outros quando conquistam algo de forma excepcional e sem cometer nenhum erro”, algo que em tempos de redes sociais só é amplificado na vida desses jovens, que se defrontam diariamente diante dos “famosinhos” das redes sociais.
A lógica dos algoritmos da economia da “desatenção” leva-nos a acreditar que existe um padrão de beleza e de comportamento que deve ser seguido à risca, um padrão de relações, um padrão imposto sempre pelo conjunto ideológico dominante.
Assim manter ideais de perfeição sobre o que quer que seja resulta em muito mais ansiedade e dificuldade em lidar com as frustrações inerentes à realidade, em reconhecer um desempenho suficientemente bom e em se contentar com o que é possível, e logo aumentamos o auto criticismo para níveis intoleráveis, o que nos afasta de sermos empáticos e compassivos conosco e com os outros prejudicando as nossas interações sociais.
No geral os perfeccionistas possuem estratégias para alcançar o sucesso, mas possuem poucas habilidades para lidar com o fracasso, e por isso por medo, ele procrastinam as relações que poderiam ser mais profundas, projetos de trabalho, projetos pessoais como filhos e casamentos, com o medo de fracassarem, como se fracassar não fizesse parte da vida.
Segundo os especialistas, algumas atitudes podem ajudar a vencer o perfeccionismo. A primeira é dar a si mesmo a permissão para errar. Alguns de nossos aprendizados valiosos vêm de um olhar não julgador sobre erros que cometemos. Por isso, errar é um excelente mecanismo de aprendizado.
Outra medida é valorizar as próprias conquistas. Em vez de se culpar pelas falhas, foque nas suas habilidades, nas vitórias, no seu potencial. Devemos lembrar dos desafios que já vencemos e usá-los para seguir evoluindo, não por servir de contentamento mas para lembrar que já evoluímos sim.
Para um perfeccionista, pode ser duro pensar em fazer algo em que ele não é bom, mas é o indicado para exercitar o “músculo” do anti perfeccionismo, segundo os especialistas nada nos faz evoluir mais do que a certeza da nossa imperfeição.
Em 1950, o psicanalista britânico Donald Winnicott, especializado em relações entre pais e filhos, em contraposição a uma idealização da suposta mãe perfeita, elaborou o conceito, de que podemos ser “suficientemente bom”, que bem pode ser aplicado à vida em geral, para ele “manter ideais de perfeição resulta em dificuldade em lidar com as frustrações e em reconhecer um desempenho bom.”
Perfeccionistas comumente sofrem de burnout, curiosamente quando as pessoas pensam em burnout, geralmente vêm à cabeça sintomas mentais e emocionais, mas o burnout pode levar a sintomas físicos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) o descreve como um fenômeno próprio do trabalho, caracterizado por sentimentos de exaustão, descrença e redução de eficiência. “Você começa a funcionar mal e a perder prazos, fica frustrado e talvez até irritado com seus colegas”, imagine catalisado pelo perfeccionismo.
Quando a pessoa está sob estresse, o corpo sofre alterações que incluem níveis mais altos de hormônios do estresse, como cortisol, adrenalina, epinefrina e norepinefrina.
Um sintoma comum do burnout é a insônia. Pesquisas sugerem que o estresse crônico interfere no sistema neurológico e hormonal que regula o sono. É um círculo vicioso, porque não dormir deixa esse sistema mais fora de controle. É importante observar que ele pode desenvolver-se juntamente com depressão ou ansiedade, que levam a sintomas físicos. A depressão pode dar dores musculares e de estômago, problemas de sono e alterações de apetite. A ansiedade está ligada a dores de cabeça, náuseas e até mesmo falta de ar.
O evoluir das nossas relações sempre estará ligado ao reconhecimento dos nossos limites e das cobranças em demasias que nos fazem mal, a sabedoria que se conquista ao caminhar, é não permitir que os novos padrões digitais representem o alcance da felicidade ou a parametrização do que serve ou não para nós.
O tempo sempre vai nos ensinar que é preciso de tão pouco para sermos felizes, logo não desperdice seus dias com assuntos e padrões pouco relevantes, ser e fazer quem está do nosso lado feliz, é e sempre será a melhor forma de registrar a nossa trajetória aqui na terra, e por certo vale bem mais que livros, certificados e palestras.
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