PANDEMIA, EVASÃO ESCOLAR E A GERAÇÃO PERDIDA.

Você já pensou que nesse momento milhões de brasileiros da rede pública escolar não está tendo nenhum tipo de aula? Estamos caminhando para o quinto mês sem nenhuma solução ou remediação desse problema e considerando a volta da pandemia nas cidades brasileiras, estamos muito longe de resolver essa lacuna.

Com honrosas exceções de algumas instituições públicas de ensino superior, em sua maioria e por iniciativa majoritária do seu corpo docente, milhões de jovens brasileiros pararam no tempo. Do outro lado, premido por seus clientes, o ensino privado mantém suas aulas à distância e se prepara para retomar as aulas presenciais, com as restrições que o período impõe.

Esse quadro pandêmico só agrava os nossos péssimos números, a paralisação das aulas de braços dados com o recorde de desemprego, funciona como catalisador da nossa já calamitosa evasão escolar.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) no Brasil feita pelo IBGE, temos dez milhões de jovens que não concluíram ensino médio, na pesquisa a realidade retratada conta que metade dos jovens homens que abandonaram a escola precisava trabalhar.

São 10,1 milhões de jovens, de 14 a 29 anos, que não frequentam a escola nem concluíram o ensino médio, some esse número aos nossos 11 milhões de analfabetos e entenda como se desenha uma nação de famélicos em sua maioria, pois baixa ou nenhuma instrução representa desemprego ou empregos pessimamente remunerados, os números explicam ainda o nosso apagão de mão de obra qualificada para as novas posições de trabalho, demandada pela nova economia.

O maior abandono é registrado durante o ensino médio, o que impõe a necessidade estrutural do governo estimular e tornar mais atraente o ensino médio, com programas que de um lado estimulem as empresas na contratação desses jovens e de outro qualifiquem desde mais cedo esses futuros profissionais, com conteúdo mais adequado às suas necessidades.

A inclusão digital desses jovens pelas inúmeras ferramentas hoje disponíveis é fundamental na qualificação, seja pela sua dinâmica e flexibilidade quanto ao local e o horário, seja pela possibilidade de estar constantemente sendo atualizada.

Uma geração que já nasce com pressa e que tem na crise gerada pela pandemia um acelerador das suas carências e urgências.

É sempre bom lembrar o trabalho do autor coreano Byung Chul Han que diz que vivemos hoje a sociedade do cansaço, para ele existiu uma utopia de que a revolução digital traria mais tempo para o ócio. O que houve foi o contrário, as redes sociais não só não trouxeram mais tempo como também o achataram, piorando as relações humanas. Por isso o ensino precisa acompanhar essa transformação e se adequar a essa nova dinâmica, por mais que não gostemos dela.

É por demais elevado o custo dessa evasão, segundo matéria publicada no jornal Estadão (16/07) o prejuízo total causado pela evasão escolar é de R$ 214 bilhões por ano, o que equivale a 3% do Produto Interno Bruto. Depois de cruzar os dados do Censo Escolar de 2018 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), segundo os quais 25% dos estudantes do ensino fundamental estão atrasados em sua formação e 1 em cada 4 alunos do ensino médio abandona o curso, os pesquisadores chegaram a uma constatação trágica. Se esse ritmo não for detido, 17,5% dos jovens que hoje estão na faixa etária dos 16 anos não conseguirão concluir a educação básica até os 25 anos. Na prática, isso representa o ingresso no mercado de trabalho de 575 mil pessoas sem escolaridade completa a cada ano, justamente num período em que o avanço da tecnologia vem obrigando as empresas a exigir mão de obra cada vez mais qualificada.

No mesmo artigo destaca-se que “a evasão escolar influencia a expectativa de vida, pois quem conclui o ensino básico, por exemplo, tem, em média, quatro anos a mais de vida do que quem abandonou a sala de aula. A defasagem e a evasão escolar também têm reflexos no aumento dos índices de violência urbana. Segundo o estudo da FRM, cada ponto porcentual de redução nos índices de evasão escolar equivale a 550 homicídios a menos por ano.”

Todos os dados acima foram feitos em período anterior ao período de pandemia, logo, ainda não conseguimos aferir o tamanho da evasão escolar durante e após o covid-19.

Algumas pesquisas já indicam que 28% desses jovens já pensam em não voltar para a escola quando acabar o confinamento e 49% dos estudantes que planejam fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) cogitam desistir da prova.

São números assustadores que ampliam um buraco na formação dos nossos jovens, criando uma geração perdida, o que só demonstra a importância de termos bons profissionais no MEC nesse delicado momento, onde a tecnologia disponível precisa ser aliada no combate a essa catástrofe anunciada.

A tecnologia como ferramenta e a vontade política como impulsionador podem minimizar os efeitos desse desastroso quadro que pinta a vida desses jovens com as duras cores da miséria.

O direito à educação pública de qualidade é um direito de todos e um dever do Estado brasileiro em fornecê-lo.

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