Nos últimos anos é comum lermos em diversos textos que “os dados são o novo petróleo”, para poucas empresas do mundo esse ditado tem tanto significado quanto para a Palantir, por muitos considerada uma das empresas mais sinistras do mundo.
O ultraconservador, Peter Thiel, fundou a empresa após a sua saída da revolucionária PayPal, e dirige a mesma há 17 anos acumulando a maior coleção de dados pessoais de cidadãos em todo o mundo prestando seus serviços para governos, agências de imigração e departamentos de polícia em todo o mundo e até mesmo com as Nações Unidas em projetos que quase sempre têm efeitos prejudiciais sobre aqueles sujeitos à sua espionagem.
A empresa de tecnologia norte-americana fez sua estreia na bolsa de valores de Nova York em outubro de 2020, com alta de 38%, tendo valor de mercado avaliado em quase atualmente em US$ 45 bilhões, além do seu elevador valor a Palatir chama a atenção por manter uma relação no mínimo controversa com o governo dos Estados Unidos, prestando serviços de análise de dados para agências de defesa e inteligência do país.
Para muitos, a empresa, incorpora tudo de ruim e contrário à ética da ciência de dados, e acredite seu resultado até hoje nunca foi positivo, em que peses seus milionários contratos com todos os tipos de entidades com acesso aos dados dos cidadãos, no que parece ser a maior tentativa de criar uma macro-banco de dados planetária na história nas mãos de uma empresa privada e ética muito duvidosa, dessa forma se George Orwell ainda estivesse escrevendo, poderia dizer que a Palatir é o cérebro do “grande irmão.”
Após seu IPO, outubro de 2020, foi possível saber, através do seu livro de oferta, muitos dos serviços prestados, que a empresa sempre tentou manter em sigilo, entre outras coisas que contratos com governos e agências governamentais (CIA, DoD, ICE, etc.) constituem 53% de seu volume de negócios.
Uma curiosidade da Palantir Technologies, está no fato dela ter esse nome em homenagem ao livro “O Senhor dos Anéis”, de J. R. R. Tolkien. No universo ficcional criado por Tolkien, os Palantír são artefatos mágicos que permitem ao detentor enxergar o que se passa em lugares distantes (no tempo ou no espaço), o que permite uma definição dos objetivos da empresa.
A empresa teve a In-Q-Tel, braço investidor da CIA (acredite a CIA tem um braço investidor), como um de seus principais investidores. O propósito da In-Q-Tel é apoiar o desenvolvimento e prover sempre o que há de mais avançado em tecnologia de informação para as agências de inteligência norte-americana. Seria o equivalente a nossa Abin ter empresas investidas.
A empresa fornece software e serviços de mineração de dados que ajudam empresas a lidarem com um gigantesco volume de informações. E mais que isso: a empresa conta com engenheiros que mesclam todas as informações obtidas nos mais diversos formatos em uma única plataforma de forma incrivelmente rápida e eficiente.
De acordo com a própria companhia, sua tecnologia seria ideal para rastrear terroristas, algo que contribui para o rumor de que ela estaria envolvida nas buscas por Osama Bin Laden, o que não se sabe se é especulação ou apenas mais uma lenda.
Por conta da participação indireta da Cia, em seu livro de ofertas, a Palantir esclarece que o seu objetivo é “apoiar o Ocidente”, logo por decorrência a empresas não faz negócios em países adversários aos Estados Unidos (e aliados), como China e Rússia.
Apenas em 2019, a Palantir conseguiu gerar aumento de 25% em receita, e registrou em 2020 uma subida de 49% no primeiro semestre, contra o mesmo período no ano anterior, ainda que tenha no exercício de 2019 um prejuízo líquido de cerca de US$ 580 milhões, que se somam a mais US$ 164,7 milhões nos primeiros seis meses de 2020.
Palantir, por sua vez, está embarcando na luta contra a epidemia de Covid-19. Um compromisso que pode não ser desprovido de motivos ocultos, enquanto a empresa de Peter Thiel, especializada em Big Data e análise de dados, está de acordo com a Bloomberg atualmente em negociações com as autoridades francesas, alemãs, austríacas e suíças para fornecer serviços de exploração de dados aos hospitais europeus, a fim de ajudá-los a melhorar seu funcionamento e controlar a disseminação da pandemia.
Seu software gotham, é usado para combater o terrorismo, fraude e crimes cibernéticos. No entanto, a empresa não para de prestar serviços às autoridades, mas também comercializa outro software, chamado Fundição e usado principalmente pelo setor privado.
O interesse de Palantir pelas autoridades sanitárias não é novo. Já concluiu um acordo com as autoridades sanitárias britânicas para a exploração de dados com o objetivo de combater a epidemia de Covid-19 que está atualmente em fúria em ambos os lados do Canal da Mancha. A empresa americana indicou que seus serviços podem ajudar a localizar e analisar a propagação do vírus, mas também gerenciar a escassez de estoque em hospitais ou ajudar as autoridades a planejar saídas da crise para pensar sobre o período pós-confinamento, seus dados são ofertados para o mundo inteiro através de seus 150 escritórios espalhados pelo mundo.
Segundo a BBC, no Reino Unido, a Palantir foi uma das empresas acionadas pelas autoridades para ajudar no controle da pandemia da COVID-19, o que inclui serviços de ciberespionagem prestados para o departamento de inteligência britânico.
De acordo com um relatório emitido pela Anistia Internacional, a Palantir estaria desrespeitando fundamentos de direitos humanos ao faltar com transparência sobre como gerencia os dados obtidos por meio do trabalho com clientes distintos. No caso de sua cooperação ativa no processo de deportação dos EUA, a empresa poderia estar contribuindo para graves violações dos direitos humanos de migrantes.
Em resposta à Anistia Internacional, a Palantir garantiu que recusou algumas demandas com autoridades fronteiriças dos EUA justamente para evitar o uso cruzado de informações. Mas ainda assim, a companhia jogou a responsabilidade pelas políticas de proteção de dados para o governo.
Para o terror de Alex Karp, que se descreve como socialista e progressista, A Palantir esteve extremamente (e perigosamente) próxima ao governo de Donald Trump, sendo considerada uma “facilitadora” para o presidente dos Estados Unidos, o que acentuou uma má reputação aos olhos de muitos progressistas. Nesse cenário, a empresa enfrenta agora preocupações quanto às suas perspectivas durante o governo Biden
Sua polêmica atuação vem ganhando adversários, fora do mercado, no Reino Unido, por exemplo, diversos movimentos protestaram com a palavra de ordem: ‘Não Palantir em nosso NHS‘, no qual eles estão buscando a saída da empresa sinistra do órgão público, algo que presumivelmente seria de pouca utilidade. Não é o primeiro protesto que a empresa está enfrentando: no final de 2019, após o escândalo da atividade da empresa para alcançar a expulsão de milhares de imigrantes nos Estados Unidos e a separação de crianças de suas famílias, pessoas do mundo da tecnologia encheram fóruns do GitHub com mensagens relacionadas direcionadas aos seus trabalhadores.
Diante do RGPD, e da LGPD, muito se questiona sobre os limites legais de atuação de empresas de mineração de dados contratadas por governos.
Afinal o que podemos concluir quando um governo dá acesso à exploração dos dados que possui de seus cidadãos a uma empresa com tal perfil, histórico e reputação?
Onde estão os direitos dos cidadãos que tem seus dados tratados por particulares, ainda que os mesmos tenham sido dados para governos?
Qual os limites de empresas como a Palantir na atuação e mineração de dados sensíveis em bases estatais?