OS CÉREBROS ESTÃO INDO EMBORA

Profissões transnacionais podem funcionar presencial ou remotamente em qualquer lugar do mundo, logo além da moeda, a qualidade de vida é o grande impulsionador, e logo profissionais das áreas de tecnologia e saúde, estão partindo dos seus lugares para qualquer lugar do mundo que oferte melhor remuneração e qualidade de vida.

Se sua empresa começa a experimentar uma fuga de cérebros devido a uma mudança nas características do ambiente, o que você vai notar geralmente é algo muito simples: que quem sai são justamente aqueles que podem considerá-lo, ou seja, aqueles que não têm muitos problemas quando se trata de encontrar uma alternativa. Um programador de computador pode trabalhar em qualquer lugar do mundo, e logo o valor da moeda vai falar mais alto.

Lembro que essas contrapartidas, em geral, geralmente não são apenas econômicas. Em muitos casos, o que geralmente está ficando claro é que o que esses trabalhadores estão procurando é poder continuar trabalhando como fizeram durante a pandemia, ou seja, em condições muito mais interessantes de independência e liberdade, como aconteceu durante os meses de confinamento quando fomos forçados a trabalhar em casa.

Após esse experimento, muitos trabalhadores consideraram não só que poderiam continuar trabalhando dessa forma, mas também que isso lhes permitiu uma maneira muito mais interessante de se organizar, ao mesmo tempo em que ainda agregavam valor às suas empresas.

Acelerado pela valorização cambial, que derrete o valor da moeda brasileira, resultante da nossa falta de credibilidade, jovens qualificados dedicados a ciências como engenharia, física, medicina, encontram nas áreas de embarque internacional dos aeroportos brasileiros, o melhor lugar do Brasil, ou vamos imaginar que a ciência tem espaço entre negacionistas?

Países como Canadá, são um destino dos mais disputados, pois o governo para enfrentar problemas de envelhecimento e baixas taxas de fertilidade da população, estabeleceu há dois anos a meta de receber mais de 1 milhão de imigrantes qualificados até 2021, chegando a promover, em várias cidades brasileiras, palestras sobre oportunidades profissionais.

Curiosamente, os jovens brasileiros atraídos por programas como esse são altamente qualificados, graças ao questionado ensino público brasileiro, que historicamente forma nossa mão de obra mais qualificada, logo os recursos públicos brasileiros são utilizados para qualificar uma mão de obra que depois de formada procura outras praças mais atrativas pelo mundo.

Para efeitos comparativos, no caso do pessoal formado em ciências exatas, biotecnologia e medicina, por exemplo, enquanto países como Japão, Coreia do Sul, Israel e Estados Unidos têm mais de 60% do total de seus pesquisadores nessas áreas trabalhando em empresas, no Brasil esse porcentual é de somente 18%, sendo claro que falta estímulo a pesquisa nas nossas empresas de forma mais efetiva.

Nossos instrumentos de incentivo a inovação pelas empresas brasileiras é falho em abraçar essa mão de obra, e logo o aeroporto parece o destino.
Segundo dados da Receita Federal, o número de brasileiros que apresentaram declaração de saída definitiva do País passou de 8.170, em 2011, para 23.271, em 2018 – um aumento de 184%.

E, segundo o relatório fiscal dos Estados Unidos, em 2020 aquele país registrou uma elevação de 36% nos vistos de permanência concedidos a brasileiros numa categoria específica, a dos chamados “profissionais excepcionais”. Ao todo, foram concedidos 1.899 vistos, o maior número em uma década. Já com relação à emissão dos demais vistos a concessão feita pelo governo americano teve uma queda de 48% no período, segundo reportagem do Estadão.

Todo esse êxodo em um momento em que para recuperação econômica pós pandemia seria fundamental, perdemos profissionais nas áreas de ciências exatas e biomédicas.

A política de não reter cérebros, apresenta rapidamente seus resultados, segundo um estudo da CNI, publicado nessa semana a indústria de transformação brasileira passa por uma desidratação cada vez mais acentuada que atinge, principalmente, o grupo de bens de consumo duráveis e bens de capital. Em uma década, a participação das empresas de produtos de alta e média tecnologia, como itens de informática e veículos, recuou de 23,8% para 18,7% no setor industrial. Justamente o segmento que mais investe em pesquisa e desenvolvimento, e que gera os empregos qualificados, com valor agregado e que distribui renda.

O mesmo estudo indica que, apesar de elevado em relação a vários outros países, o grau de diversificação da indústria brasileira vem diminuindo e se concentrando no setor de bens não duráveis e semiduráveis. O trabalho da CNI avaliou o período 2008 a 2018, com base na mais recente Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE, aquele mesmo que teve o censo cortado.

A indústria brasileira perde cérebros e caminha a passos largos para primarização, empregando apenas trabalhadores de baixa renda, seguimos assim abraçados as comodities.

(Artigo publicado no site www.mistobrasilia.com, em 09 de Dezembro de 2021.)

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