Dizem que “O tempo perguntou pro tempo qual é o tempo que o tempo tem. O tempo respondeu pro tempo que não tem tempo pra dizer pro tempo que o tempo do tempo é o tempo que o tempo tem.” Se na escola a rima era rica e curiosa, nos dias atuais a métrica de entender que o tempo mudou, e ainda que a sua medida seja à mesma, a nossa relação com o tempo mudo, acelerados que estamos pela profusão de dados e interações que o universo digital nos exige.
Estar nas redes sociais, independentemente do uso que damos a elas é sempre um desafiar constante nas nossas relações e interações onde os outros parecem imaginar que o celular é a extensão dos nossos corpos e que precisamos responder no mesmo instante à toda e qualquer mensagem ou comentário de uma publicação.
O conceito da atenção plena faz com que amigos, parentes, parceiros comerciais ou enamorados passam a relativizar a relação de acordo com o tempo do nosso retorno. E assim participamos de redes sociais e elas são ampliadas através dos grupos onde a desocupação pode dar o tom da intromissão da rotina dos mais ocupados, e assim sem cerimônia as telas dos nossos celulares são o dia inteiro invadidas pelas publicações “amigas” que compartilham tudo e para todos o que vem na telha.
Logo é impossível dar atenção a tudo e a todos nessa imensa proliferação de informações, e assim ficamos atentos muitas das vezes aos distantes, e muito distantes dos que estão próximos, onde a tela dos nossos celulares parece ter virado o confessionário permanente dos que tudo compartilham.
Nesse momento os cientistas preparam uma medição mais precisa para os segundos, algo bem interessante, e que deve implicar em uma nova métrica para esse padrão, criado pelos gregos, uma ideia revolucionária que dividiu nosso dia em 24 horas e que já tem mais de 2 mil anos, e que até hoje segue e guia toda civilização moderna.
A métrica do tempo ganhou música, poesia, foi tema de livros, de novelas, de filmes e serve para referência de eficiência ou de atrasos. Tente imaginar a civilização de hoje sem a métrica do tempo e as suas relações?
Como destaca, em recente artigo de Alanna Mitchell, destacando a métrica do tempo e a adoção por toda humanidade da mesma métrica: “ a medição seria inútil se não estivéssemos todos usando as mesmas unidades. Assim, por quase 150 anos os metrologistas do mundo todo concordaram com definições estritas para as unidades de medida por meio do Escritório Internacional de Pesos e Medidas, conhecido por sua sigla francesa, BIPM, com sede nos arredores de Paris. Hoje, a agência regula as sete unidades básicas que governam tempo, comprimento, massa, corrente elétrica, temperatura, intensidade da luz e quantidade de determinada substância.
Os cientistas estão sempre refinando esses padrões. Em 2018, eles aprovaram novas definições para quilograma (massa), Ampére (corrente elétrica), kelvin (temperatura) e mol (quantidade de substância). Com exceção do mol, todos os padrões são subservientes a um: o tempo.
O metro, por exemplo, é definido como a distância que a luz percorre no vácuo durante 1/299.792.458 de segundo. Da mesma forma, a nova definição do quilograma se baseia no segundo, de uma maneira que é complicada demais para explicar em menos de vários parágrafos. Isso significa que conceitualmente – ainda que desajeitadamente – você pode expressar as outras unidades, como peso ou comprimento, em segundos.
Mas agora, pela primeira vez em mais de meio século, os cientistas estão prestes a mudar a definição do segundo, porque uma nova geração de relógios consegue medi-lo com mais precisão. Em junho, os metrologistas do BIPM terão uma lista final de critérios que devem ser atendidos para estabelecer a nova definição. Noël C. Dimarcq, presidente do comitê consultivo sobre o tempo do BIPM, espera que a maior parte seja cumprida até 2026 e a aprovação formal aconteça até 2030.
No passado, os humanos contavam o tempo olhando para os céus. Mas, desde 1967, os metrologistas definiram o tempo medindo o que acontece dentro do átomo, marcando, por assim dizer, o eterno batimento cardíaco do universo. Mas o tempo ainda tem suas raízes e até sua nomenclatura na cronometragem astronômica. Originalmente, o tempo se baseava no caminho da Terra em seu giro diário, do dia para a noite e vice-versa. Então, os antigos astrônomos egípcios que usavam o sistema de contagem duodecimal, baseado no 12, dividiram o dia e a noite em 12 horas cada, dando-nos as 24 horas do dia.
Essas horas variavam em duração, dependendo de onde a Terra estava em sua órbita em torno do Sol. Há pouco mais de 2 mil anos, os astrônomos gregos, que precisavam de horas fixas para calcular coisas como os movimentos da Lua, desenvolveram a ideia revolucionária de que um único dia deveria ser dividido em 24 horas de mesma duração. Esse mesmo pensamento astronômico os levou a reaproveitar o antigo método babilônico de contar com base no número 60, o sistema sexagesimal, para definir a hora. E, assim como tinham dividido o círculo ou a esfera da Terra em 60 partes e, depois, mais uma vez em 60, constituindo os 360 graus, eles dividiram a hora.
A primeira divisão das 24 horas do dia (conhecida em latim como partes minutae primae) lhes deu a duração do minuto, que era 1/1.440 de um dia solar médio. A segunda divisão (partes minutae secundae) lhes forneceu a duração – e o nome – do segundo, que era 1/86.400 de um dia. Essa definição permaneceu até 1967. Mas a definição tinha problemas. A Terra está diminuindo gradualmente sua rotação diária: os dias estão ficando um pouco mais longos e, portanto, o segundo astronômico também. Essas pequenas diferenças se somam. Com base em extrapolações, a partir de eclipses históricos e outras observações, a Terra perdeu mais de três horas nos últimos 2 mil anos.
Então, a unidade de tempo padrão, baseada em cálculos astronômicos, não é constante, uma realidade que se tornou cada vez mais intolerável para os metrologistas durante as primeiras décadas do século 20, quando se descobriu como a rotação da Terra era irregular. A ciência exige constância, confiabilidade e replicabilidade. O mesmo acontece com o tempo – e no final da década de 1960 a sociedade estava se tornando cada vez mais dependente das frequências dos sinais de rádio, que exigiam tempos extremamente precisos. Os metrologistas se voltaram para o movimento muito mais previsível das partículas atômicas. Os átomos nunca se desgastam nem desaceleram. Suas propriedades não mudam com o tempo. São relógios perfeitos.
Em meados do século 20, os cientistas conseguiram que átomos de césio 133 mostrassem seus tiques secretos. A frequência é de quase 9,2 bilhões de tiques por segundo – 9.192.631.770, para ser mais preciso. O comprimento do segundo usado no experimento se baseou na duração do dia em 1957, quando estavam ocorrendo os experimentos científicos originais, e derivou de medições da Terra, da Lua e das estrelas. Em 1967, metrologistas do BIPM estabeleceram a ressonância de frequência natural do césio 133 como o comprimento oficial do segundo.
Apesar dessa definição baseada no césio, o tempo astronômico e o tempo atômico ainda estão inextricavelmente unidos. O tempo atômico precisa ser ajustado ocasionalmente para corresponder ao tempo astronômico porque a Terra continua a mudar seu ritmo a um compasso irregular, enquanto o tempo atômico permanece constante. Quando o tempo atômico fica quase um segundo mais rápido que o tempo astronômico, os cronometristas o param por um momento, permitindo que a Terra o alcance – inserem um segundo bissexto. Assim, mesmo que a duração do segundo não mude, a duração do minuto às vezes muda. Após uma inserção inicial de 10 segundos bissextos em 1972, os cronometristas agora adicionam um segundo bissexto ao tempo atômico a cada ano e meio, aproximadamente.
Além disso, por mais estranho que pareça, ainda contamos os segundos da era de 1957, mesmo com nossos relógios atômicos modernos. Isso porque a ressonância de frequência natural do césio 133 foi medida em 1957 e vinculada à duração do segundo astronômico naquele ano, fato que não mudará mesmo quando o segundo for redefinido mais uma vez.”
O fato é que a redefinição está em marcha porque os cientistas desenvolveram novos instrumentos chamados relógios atômicos ópticos. Estes operam com princípios semelhantes aos relógios de césio, mas medem átomos que têm uma ressonância de frequência natural muito mais rápida, ou seja, um tique.
O tempo também não é constante, apesar do que possa sugerir a existência de um padrão internacional. A teoria da relatividade geral de Albert Einstein, por exemplo, prevê que o tempo se move mais lentamente quando está perto de um corpo de massa considerável, como um planeta, porque é retardado pela força da gravidade.
Isso significa que, quando o tique-taque de um relógio muda, mesmo que levemente, as condições físicas nas quais o relógio está situado também podem ter mudado.
A mudança do sistema métrico, será uma mudança de padrão e deve arrastar uma série de outras alterações.
Curiosamente o elemento ideológico de uma sociedade acelerada e abundante em informação e canais de comunicação, alterou a nossa percepção.
O que me faz lembrar de Macbeth personagem de William Shakespeare “Aconteça o que acontecer, o tempo e as horas sempre chegam ao fim, mesmo do dia mais duro dentre todos os dias.”
Logo em que pese a ditadura dos novos hábitos digitais o nosso evoluir precisa muito disso, de trocarmos a visualização das telas de celulares por nossos olhares apaixonados, por filhos, amigos, pais e pela pessoa amada, presente ou distante, hoje ou amanhã. Seja no revigorar dos nossos sentimentos ou na ressignificação da saudade, a desintoxicação digital deve ganhar espaço na valoração do tempo.
O tempo esse ativo intangível, um presente de nossa existência terrena, que precisa ser ressignificado. O tempo é igualmente dividido de forma cartesiana para você ou para o seu vizinho, o valor dele sempre será na escolha das suas atenções, ou das suas desatenções.
Por isso nasce a importância do controle do tempo que dedicamos as redes sociais e outros usos que fazemos de celulares, tablets e outros dispositivos, que são consumidores vorazes das nossas preciosas horas, minutos e segundos, de onde trocamos o olhar de amados, de paisagens e memórias afetivas para saber o que o distante amigo digital resolveu almoçar no dia de domingo, em qual praia foi ou qual vinho escolheu para beber. A vida é o caminhar das escolhas e da valoração dessa comoditie chamada tempo.
O tempo dispendido, em muitos casos gera dependência e dependentes patológicos manifestam sintomas de ansiedade, angústia e nervosismo, como suor e tremores, quando percebem que estão impossibilitados de usar a tecnologia e necessitam de tratamento com medicamentos e terapias.
Logo quanto mais tempo nesse universo digital, mais distante nos colocamos no plano físico, a assepsia das relações digitais ergue um muro no mundo real com relações cada vez mais distantes e mais vazias, onde curtidas são confundidas com aceitação e comentários com concordância, alimentando sua bolha.
A vida com o uso cada vez maiores dos nossos aparelhos e seus aplicativos passa a cada um de nós a necessidade de sermos multitarefas, e ai que reside um grande perigo no uso do seu tempo na tentativa de se multiplicar, dedicando cada vez menos atenção, naquilo que eu chamo de “Sociedade da Desatenção”.
Nesse momento, nossos telefones nos enganam a acreditar que tudo é urgente, que nunca temos que ficar entediados e que somos bons em multitarefa. Eles nos dão afirmação positiva suficiente para que não possamos sair na rua sem eles, por isso em frente ao belo mar acabamos vendo pessoas contemplando a ‘natureza da sua tela de celular”.
Distância desses dispositivos é uma boa maneira de ressignificar seu tempo, pois se você o tem por perto, você dorme mais tarde porque você se distrai olhando para ele e a luz azul que ele emite torna difícil dormir. Além disso, se você olhar para ele no meio da noite, você pode acabar sendo perturbado pelas coisas que você vê.
Seja feliz, nas escolhas do que tocar, o que falar e como dedicar seu tempo, afinal invariavelmente o design inteligente das telas não quer sua felicidade, mas apenas seu tempo.
Gosto desse texto de William Shakespeare, para os corações apressados, dedos nervosos e mentes aguçadas pelas telas digitais: “Amor que é amor não se transforma porem durante o tempo se dilata!
Se isso for um erro ou meu engano for provado, eu jamais terei escrito
ou alguém terá amado!”