O PÁSSARO VAI VOAR, TURBINADO POR MUSK

Podemos esperar o desenvolvimento de uma política verdadeira e eliminar contas falsas e incentivar contas de pagamento

A notícia é de que Elon Musk, o novo dono do Twitter, “chegou chegando” no velho estilo Musk de fazer da polêmica um espaço na mídia, e como sempre as aquisições são mais comentadas pelas particularidades midiáticas do que por sua importância estratégica. Demissão de executivos, entrada na sede da empresa com um lavabo nas mãos é tudo simbologia das mudanças que vem por ai.

Mas o que veremos nos próximos dias ou semanas? Mudanças aceleradas é claro, pois Musk não é uma pessoa lenta em seus processos de tomada de decisão, nem gosta de preâmbulos longos, o que implica que muitas das linhas gerais do que podemos esperar do Twitter serão comunicadas pelo fast track.

E quais são os desafios fundamentais a serem enfrentados? De imediato são três os que saltam aos olhos e que foram evidenciados durante as negociações? Lembro que Musk é um jogador de xadrez e não de truco, como já escrevi em outros artigos? Primeiro será quanto a política de conteúdo e moderação, o segundo a gestão de contas falsas e terceiro o modelo de negócio.

Na primeira área, podemos esperar o desenvolvimento de uma política verdadeira como tal, em vez da bondade de um Twitter que, até agora, tentou andar em um delicado equilíbrio supostamente garantidor que tinha como principal fruto ao longo do tempo a proliferação de trolls, insultos, assédio e todo tipo de barbaridades.

O Twitter, até agora, era praticamente um “vale tudo“, um ambiente no qual praticamente tudo era permitido, e no qual não havia nada mais frustrante do que relatar violações de sua política: nada aconteceu. Com Elon Musk no comando, espera-se que as políticas de interação sejam mais claras e, acima de tudo, mais executivas, mais eficazes, ele de cara já falou que liberdade de expressão tem seu preço e as pessoas devem andar de acordo com a Lei, ou seja devem ser responsáveis pelo que escrevem, logo cuidado terraplanistas, Elon Musk mais do que ninguém sabe que a terra é redonda.

As redes sociais são um paraíso para contas falsas

Por acaso então estamos diante de um defensor da moral e dos bons costumes? De um censor? Claro que não Musk sabe que a credibilidade será o divisor de águas das redes sociais, e que lugar de maluco é no hospício. Rede social sem credibilidade por conta de conteúdo falso será cada vez mais, ruim para os negócios.

Quando Musk batia nas contas falsas, ele atingia o Twitter sim, mas mirava em um alvo bem maior os seus concorrentes do Meta e de outras redes sociais, que cobram por anúncios que são vistos por contas falsas ou seja, são visualizados por robôs e logo não convertem. As redes sociais tem sido, historicamente, um paraíso para fábricas de contas falsas colocadas a serviço de influenciadores, diretores de comunicação, políticos, golpistas e qualquer um que quisesse simular uma relevância maior do que realmente tinha.

Protegido por políticas que permitem, e por vezes incentivam, cada usuário a gerenciar as contas que queria, logo o Twitter(e não só ele) se tornou um lugar cheio de fantasmas, entre contas abandonadas sem uso de qualquer tipo e contas falsas criadas por fazendas.

Quanto ao modelo de negócio, Musk nunca foi um entusiasta da publicidade, muito menos de publicidade hiper-segmentada com base na coleta de dados de usuários. Obviamente, eliminar a publicidade não parece viável: embora o Twitter nunca tenha sido particularmente eficiente em gerenciá-lo ou ganhar dinheiro com isso, alcançar e fechar a principal linha de negócios da empresa é irreal, mas as mudanças vão ocorrer no motor de pagamento da rede social os anúncios.

Contudo além da publicidade, Musk pode dirigir muitos de seus esforços para o desenvolvimento do modelo freemium além do que o Twitter Blue foi, no momento um simples experimento limitado aos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. A ideia de um Twitter convertido em um serviço pago e dotado de funcionalidades crescentes para evoluir para um super aplicativo já pode ser esperada.

Importância junto à sociedade

Eliminar contas falsas e incentivar contas de pagamento é algo que certamente significará uma redução temporária, porém significativa no número de usuários, algo que o Twitter não poderia enfrentar e antes do qual manteve uma atitude absurdamente tolerante para evitar uma punição do mercado de ações. Com o Twitter excluído do mercado e livre para tomar decisões, isso pode mudar em breve, ou seja tal qual a mitológica phoenix ele vai ressurgir completamente modificado.

Com Musk, o Twitter vai melhorar, mas fundamentalmente, porque era muito difícil piorar. E, sem dúvida, isso não será uma mudança silenciosa, nem uma evolução lenta: será, para o bem ou para o mal, uma revolução.

O Twitter tem um valor e importância para a sociedade muito superior ao que merece como ferramenta, principalmente por ter escolhido, em grande parte por acaso ou limitações técnicas, uma forma de comunicação que privilegia o breve, o sintético, o consumo de informações em pílulas. O resultado é uma relação sinal-ruído excepcionalmente boa: se você escolher as contas que deseja seguir bem, você pode descobrir o que lhe interessa rapidamente, e seguir tópicos de forma muito eficiente, mais do que em qualquer outra rede.

Um relatório digital interessante publicado pela We Are Social e Hootsuit, chamado de Relatório de Visão Global Digital, apresenta números bastante interessantes sobre a concentração das redes sociais nas mãos de poucos. O trabalho mostra uma população global atual de 7,91 bilhões com previsão para atingir 8 bilhões no início de 2023.

Desse total, a maioria (pouco mais de 67%) usa telefone celular e usuários de internet somam 4,95 bilhões de pessoas, com inclusão nos dez últimos anos de 2,18 bilhões de usuários. Já as redes sociais trazem 4,62 bilhões de usuários, representando 58,4% da população mundial, gerando um salto de 10% na adoção de redes sociais durante o ano passado, quando 424 milhões de pessoas passaram a usá-las, com destaque para forte crescimento de adeptos no YouTube, Instagram e TikTok.

Ao fechar o capital do Twitter, Musk diminui o número de pessoas para quem precisa prestar contas, amplia sua influência e faz as modificações que bem entender para melhoria do resultado financeiro do negócio no médio e longo prazo.

E se prepare: Musk vai criar outras redes sociais segmentadas, como o grupo Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp e Messenger) e claro, inserir diversos serviços nessas novas redes como wallet para pagamentos, afinal não se esqueça da origem dele, ele veio do Pay Pal, tudo por dois a três anos até reabrir o capital da empresa com mais usuários, serviços e novas linhas de receita.

Musk quer é dinheiro, e como ele já provou, nem o céu é o limite. Para o alto e avante Musk.

(Artigo publicado no site www.mistobrasilia.com, em 28 de Outubro de 2022).

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