Afinal o que faz brotar as manifestações biliares que desfilam nas telas dos nossos celulares, nas indistintas redes sociais? O que alimenta esse ódio que transforma em uma pessoa intransigente até o mais cordial dos amigos?
A liberdade de expressão catalisada pelo “empoderamento dado pelas redes sociais”, faz nascer pequenos fuhrer quase todos os dias, e eles jorram literalmente nas redes sociais seu veneno, delírio e versão desprezíveis de seres humanos, que desprezam a opinião, e avida do próximo, em plena crença de sua superioridade racial e ou social.
Pois exatamente, um dia antes das manifestações convocadas em seu apoio, o presidente Jair Bolsonaro assinou a medida provisória N°1.068, de 2021, que dificulta a retirada de conteúdos publicados nas redes sociais.
A Medida Provisória, que muda o Marco Civil da Internet (Lei 12.965, de 2014), determina que as plataformas de redes sociais estarão obrigadas a tornar públicos os critérios usados para a remoção de conteúdo, que só pode ocorrer “com justa causa e motivação”. Entre os motivos previstos, estão casos de violação de direitos autorais e publicações com “incitação de atos contra a segurança pública, defesa nacional ou segurança do Estado”, entre outros.
Ao mesmo tempo, o texto proíbe que as empresas diminuam o alcance de determinado usuário e prevê punições às plataformas. As novas regras, que não impedem os bloqueios feitos por determinação judicial, passam a valer imediatamente, mas precisam ser aprovadas pelo Congresso em até 120 dias.
Dessa maneira, plataformas como Youtube, Facebook ou Twitter terão mais dificuldades para excluir um perfil ou remover vídeos, mesmo que estas publicações violem políticas internas das empresas, o que por certo vai estimular a desinformação através de conteúdo falso e preconceituoso.
A MP ainda estipula uma série de punições às plataformas que excluam conteúdo de forma indevida. As sanções vão desde multa, que pode chegar a 10% do faturamento da empresa no Brasil, até a suspensão temporária do serviço no País.
Lembro que o Marco Civil da Internet, alterado pela MP, regula o uso da rede mundial de computadores no Brasil, interferindo em aspectos que vão desde o direito à privacidade até a relação comercial entre os usuários e os provedores de acesso.
Sem entrar na motivação política dessa Medida Provisória, o que pode ser feito em outro artigo, destaco o risco que a criação dessa burocracia, para as plataformas pode trazer.
Lembro que o conteúdo não necessariamente excluído terá conotações políticas, mas pode simplesmente ser o que chamamos de discurso do ódio, que acaba se beneficiando dessa medida provisória.
Afinal em que pese ser a liberdade de expressão um valor fundamental da democracia, a mesma não é absoluta, como acentuava o filósofo Karl Popper, “a tolerância contém um aparente paradoxo: para que uma sociedade se mantenha tolerante, ela não pode tolerar a intolerância.” Logo não há espaço para ofensas como calúnia, injúria e difamação até o mero insulto, toda e qualquer manifestação, e em qualquer meio, que incitem a violência.
É evidente que os discursos de ódio não são uma criação das redes sociais, elas apenas catalisaram ao dar voz e imagem aos ignóbeis, e que em tempos de economia de atenção são ampliadas pelos algoritmos de atenção, fazendo urrar milhares de bestas adormecidas no silêncio, que precisava de uma mera fagulha pra despertar.
Basta algumas “curtidas”, comentários de apoio, compartilhamentos, e pronto nasce um líder de bairro, de grupo que espelha a ignorância dos demais e que nele se identificam como a voz da minoria, e que em alguns processos chegam a maioria.
Por isso o trabalho das redes sociais na limitação e controle do discurso do ódio mais parece a tarefa de enxugar gelo, pois esbarra na lógica do negócio, onde toda curtida gera melhores posicionamento no feed de notícia dos amigos e todo comentário gera ressonância digital para mais e mais bestas que estavam adormecidas. E a medida provisória dificultou ainda mais essa tarefa.
Protegidos pela propriedade intelectual, muitos algoritmos das redes sociais cristalizam esse absurdo, e logo é na falta dessa transparência que a ignorância encontra seu fermento. Parte da genealogia desse problema em tempos redes sociais está na própria fonte dessas redes.
Afinal o que leva as pessoas a fazerem parte de uma rede social, ou até de diversas ao mesmo tempo? Afinal com o tempo a segmentação passou a ser o ingrediente maior na estratégia delas para se ajustarem aos diversos gostos, hábitos e faixas de idade. E é justamente esse movimento, que as pessoas fazem, de entrar em novas redes sociais na maioria absoluta das vezes sem ao menos ler os termos que regulam a política daquela rede, que por vezes causa muitos ruídos quando essas redes evidenciam suas compreensões de mundo, como no recente caso do Facebook. O descuido com as regras e políticas tem dado o tom do momento e não importa a idade ou grau de instrução, por hábito o que importa é entrar na rede movido pelo sentimento de pertencimento.
A ditadura da exposição das redes lembra os inúmeros modismos que em maior ou menor grau as pessoas passaram em sua adolescência, que vai da linguagem comunicacional, quando repetem bordões de novelas e agora de séries até o jeito do cabelo ou de se vestir .A história da humanidade é repleta desses exemplos que onde afinal o homem procura ao longo da vida estabelecer relações sociais com os inúmeros grupos, seja na escola, no trabalho, no clube ou na sua rua, ele é sempre movido pelo sentimento de pertencimento.
Lutamos para fazer parte de grupos e nos sujeitamos as regras desses grupos, a vida em sociedade é um exemplo disso por isso precisamos de normas jurídicas, para regrar essas inúmeras relações, afinal como os valores culturais e interpretativos são dotados de um conjunto ideológico experimental significativo, precisamos o tempo todo de ajustes, que caminham com o evoluir das relações econômicas e sociais, e logo o Direito vive em constante e nem sempre atual movimento.
Tempo e dados essa é a moeda do negócio, claro que para ter mais dados eles precisam de mais tempo seu, assim registram algoritmos que procuram ampliar seu tempo na rede por isso em sua linha do tempo, dão preferência aos vídeos, e as publicações de amigos que costumeiramente você curte, logo quanto mais curtidas mais informações sobre o que você gosta e o que tem em comum com a sua rede de amigos.
Ocorre que o que serve a você serve também aos robôs que atrás de perfis falsos, divulgam conteúdo quase sempre, igualmente falso, buscando na construção de mentiras o seu compartilhamento e a sua opinião para dar credibilidade aquela publicação. Logo tente imaginar o estrago que esses robôs podem agora fazer?
Assim ao compartilhar uma notícia falsa, você oferta a sua credibilidade a ela que por sua vez também é compartilhada por seus amigos. Como a quantidade de conteúdo é grande poucos conseguem checar a veracidade daquela notícia ou artigo. Logo ele é compartilhado em outras mídias sociais (WhatsApp, Instagram etc) ganhando força e relevância nos mais diversos grupos.
Por sua vez o algoritmo ao perceber os conteúdos não curtidos por você, não comentados e não compartilhados, vai tirando os mesmos da sua linha de tempo, afinal a radicalização do discurso e dos perfis gera um distanciamento virtual que em muitas das vezes muda do plano virtual para o físico e assim a intolerância vai sendo alimentada.
Onde as discussões não se aprofundam e onde procuramos as notícias, e o algoritmo encontra, que reforçam a nossa forma de ver o mundo, pois assim funciona cada dia mais as redes sociais, onde sempre encontramos quem dá vazão e ressonância para as nossas ideias.
E assim de mão dadas pertencimento e intransigência digital são o fermento para relações líquidas, explosivas e em boa parte das vezes rasas.
Nunca tivemos tanta informação e nunca a ignorância desfilou tão solta e reluzente aos olhos de incultos, maldosos e em uma parcela de inocentes.
Tudo leva a crer que as pessoas ficam mais suscetíveis a assimilar a desinformação quando esses três fatores entram em ação. Primeiramente, e talvez de maneira mais importante, isso acontece quando as condições na sociedade fazem as pessoas sentirem uma necessidade maior do que os cientistas sociais chamam de “endoagrupamento”, uma crença de que sua identidade social é uma fonte de força e superioridade – e que outros grupos podem ser culpados pelos seus problemas, a famosa “voz da minoria”.
E é evidente também que nesse instante de transformação social, e de muitos não encontram mais espaço nesse novo mercado de trabalho que se desenha, leva o mesmo a serem massas de manobra das mais despudoradas teorias da conspiração, onde loucura pouca é bobagem.
Nesse momento de absoluta carência, em meio a abrupta transformação as pessoas buscam segurança em grupos, por se identificam em redes sociais. Logo a sede por informações, verdadeiras ou não, que nos permitem ver o mundo como um conflito que opõe nosso virtuoso endogrupo com um nefasto exogrupo, e logo está armado o conflito.
Tanto no Brasil como nos EUA, a hostilidade e a polaridade alimentam essa crescente desconfiança na sociedade, e logo os extremos se assemelham na narrativa construída com o único propósitos de destruir o discurso contrário, sem muito se preocupara com a verdade dos fatos, mas exclusivamente com o reforço da versão extrema. E como dito na matéria acima “o nosso cérebro passa para o modo conflito entre identidades”, ficamos desesperadamente famintos por informações que afirmem esse senso de nós contra eles e muito menos preocupados com fatores como verdade ou autenticidade.
O segundo elemento que motiva a desinformação é a emergência de figuras no alto escalão da política que encorajam seus seguidores a se entregar a um desejo por desinformação que afirme uma identidade. Afinal, uma atmosfera de conflito político franco com frequência beneficia esses líderes, pelo menos no curto prazo, por lhes arrebanhar o apoio dessas pessoas.
E então há um terceiro fator: a migração para as redes sociais, que são poderosas plataformas para autores de mentiras, vetores de difusão de desinformação em sua essência e multiplicadoras de outros fatores de risco.
“A mídia mudou, o ambiente mudou, e isso tem potencialmente um grande impacto no nosso comportamento natural”, afirmou William Brady, psicólogo social da Universidade Yale. “Quando você posta, fica bastante atento à resposta que recebe, ao feedback social em termos de likes e compartilhamentos”, afirmou Brady. Então, quando a desinformação dialoga com mais impulsos sociais do que a verdade, ela obtém mais atenção na internet, o que significa que as pessoas se sentem recompensadas e encorajadas a disseminar mentiras nesse ambiente.
Logo passamos a ser viciados em mentiras que nos projetam em nosso grupo, na bolha que vivemos, o filtro deixa de estar preocupado com a construção da verdade e vira prisioneiro da narrativa que fortalece os extremos em um hábito viciante.
Em 2016, as pesquisadoras de mídia Jieun Shin e Kjerstin Thorson analisaram uma base de dados com 300 milhões de tuítes a respeito da eleição de 2012. Elas descobriram que os usuários do Twitter “compartilham seletivamente mensagens de checagem de informações que favorecem seu próprio candidato e difamam o candidato do partido opositor”. E quando esses usuários encontravam uma checagem de informações revelando que seu próprio candidato fez algo errado, sua resposta não era se enfurecer com o político por ter mentido. Foi atacar quem checou as informações. Quando a notícia é ruim matamos o carteiro, algo que se repete na história de ocasos.
No início da mais famosa das redes sociais, o Facebook, Steve Jobs, com sua acidez peculiar deu um maldoso apelido ao Face, quase que predestinando o conflito atual entre Mark Zuckerberg e Tim Cook, no debate que envolve o cuidado com a privacidade na internet. O fundador da Apple, já tratava com desdém seus concorrentes no Vale do Silício, chamando em 2011, a rede social de Zuckerberg, então com menos de 900 milhões de usuários (ante os 2,5 bilhões de hoje) de “Fezesbook” (no inglês, Fecebook). A palavra foi encontrada em um e-mail que está sendo utilizado na batalha legal entre a Apple e a Epic Games, conforme revelado pelo canal americano CNBC. A crítica de Jobs aconteceu pelo fato de o Facebook não haver lançado um aplicativo dedicado para o ipad até então, ná época a rede social não comentou o assunto.
O fato é que a lógica comercial na economia de atenção é o maior fermento para o discurso do ódio, pois dele vive, e é fundamental a aplicação da LGPD, e no caso europeu do RGPD na defesa de uma internet neutra, onde nossas vontades desejos e relações tenham livre arbítrio.
É preciso entender que a internet tem seu papel no desenvolvimento humano e na inclusão das pessoas, e não na sua massificação, servindo apenas como massa de manobra para o extremismo político, que escraviza e perpetua as desigualdades em uma lógica de somos números e não pessoas.
A LGPD, e todos os diplomas equivalentes surgem para lembra que somos pessoas antes de sermos dados manipuláveis aos interesses corporativos ou de governos conforme a matiz ideológica vigente.
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