Quantos de nós podemos criar um negócio pensando que um dia ele pode acabar? Quantos profissionais nesse exato momento estão pensando que podem ser substituídos por máquinas, softwares ou simplesmente que sua profissão pode deixar de existir?
Por hábito, pensamos que nós, nossas profissões e nosso negócio parecem ser eternos, uma sentença que diariamente tem se mostrado mais equivocada.
Por isso quando a Microsoft, resolve matar o seu Navegado “Internet Explorer”, muitas reflexões precisam ser feitas.
A aposentadoria, do “navegador” que já foi líder do mercado é um bom exemplo dos novos tempos, em que nem mesmo uma das maiores empresas de tecnologia da nossa história consegue ter um produto líder por muito tempo, justo ele que já foi até mesmo motivo de uma ação antitruste contra a Microsoft, e que conforme escrevemos em um outro artigo em 2020 vai dar espaço para o Edge, na sua batalha contra um forte concorrente, o Chrome, do concorrente Google.
Seria então o fim de uma era?
Lançado em 1995, o Internet Explorer se tornou o navegador dominante por mais de uma década, já que era fornecido com o sistema operacional Windows, da Microsoft, que vinha pré-instalado em bilhões de computadores. O navegador, porém perdeu para o Chrome, que já no fim dos anos 2000 assumiu a liderança.
Para concorrer o que fez a Microsoft, criou uma nova versão? Não simplesmente criou um novo produto, e assim lançou o navegador Edge em 2015, que roda na mesma tecnologia do navegador do Google. Em abril, o Chrome tinha uma participação de 65% no mercado global de navegadores, seguido pelo Safari, da Apple, com uma fatia de 18%, de acordo com a empresa de análise da web Statcounter. O Microsoft Edge tem uma participação de 3%, enquanto o Internet Explorer tem um domínio ainda menor, isso mesmo a poderosa Microsoft com dois produtos tem menos de 4%.
Curiosamente o Internet Explorer esteve no centro de um caso antitruste contra a Microsoft há mais de duas décadas, com um juiz dos EUA decidindo que a Microsoft violou a lei depois de combinar o Internet Explorer e o Windows. As violações mais graves foram mantidas em recurso, mas a empresa continuou a agrupar seu sistema operacional e navegador.
A descontinuidade de um produto e serviço líder não implica em fim da empresa ou sua morte, desde que é claro ela saiba se reinventar e não depender exclusivamente de um negócio, o que no caso da Microsoft está muito longe disso. E vai ai a primeira grande lição, pois nem sempre você vai ter tempo para se reinventar no mesmo ramo de negócio, afinal, não é todo dia que uma empresa como a Microsoft, uma das 5 empresas mais valiosas do mundo, anuncia que vai descontinuar seu navegador que já foi líder absoluto do mercado.
Mas se você acha, que ela esta contente com o desempenho do Edge e seus 3% de mercado, nada disso, a empresa confirmou o navegador totalmente reformulado, que será lançado com o Windows 10 e atualmente é conhecido como Project Spartan, adotará uma nova marca, ainda não revelada.
Todos os usuários, tiveram tempo, pois tudo foi feito de forma gradual. Em novembro, a ferramenta para comunicação do pacote Office 365 já não era mais compatível com o Explorer 11 e em agosto de 2021, a medida será estendida a todos os aplicativos da Microsoft.
Esse ato explica muito sobre a nova economia e a instrumentalização jurídica dessas relações, afinal a empresa que já vem promovendo o Edge, criado a cerca de 5 anos para substituir o Explorer gradualmente, o prepara com muita calma, para dessa maneira criar uma nova cultura, afinal, apesar desse período o produto apresenta apenas 2,8% de participação no mercado.
O browser continuará funcionando e seguirá recebendo atualizações de segurança junto ao Windows durante os próximos anos, afinal, em informática se vende mais do que um simples produto, se vende cultura e isso requer tempo de adaptação.
Em que pese todo cuidado da Microsoft em comunicar como ocorrerá, não faltam chamadas sensacionalistas como: “Internet Explorer, que dominou web por duas décadas, chega ao fim”, “Microsoft anuncia a aposentadoria do Internet Explorer”, “Microsoft anuncia fim do Internet Explorer para agosto de 2021”, entre tantos outros títulos chamativos.
Antes de se desesperar, lembre-se que o fato da empresa citar explicitamente que uma versão específica do Windows 10 possui o Internet Explorer pode significar que apenas edições corporativas virão de fábrica com o navegador antigo.
Quais são as principais lições desse movimento da empresa de Bill Gates?
Primeiro, mesmo grandes conglomerados erram, logo não se desmotive com as experiências traumáticas que a sua empresa pode enfrentar.
Segundo, mesmo grandes empresas podem insistir no erro, no caso da Microsoft, foram 25 anos, a grande diferença sobre isso é que pequenas e médias empresas nem sempre tem todo esse tempo para se fazer uma correção de rota.
Terceiro, que mesmo produtos que não são bons podem por um período ser líder absoluto por completa incompetência da concorrência.
Quarto, se você já tentou reposicionar e ajustar o produto e a sua participação no mercado não se alterou, que tal começar o projeto do zero para um outro produto?
É evidente que a Microsoft por muito tempo, equivocadamente errou sobre a importância da Internet, e pagou um elevado preço por isso, pois é sempre bom relembrar.
Se primeiro a referência era o Mosaic, depois Netscape, com a chegada do Internet Explorer a Microsoft fazia sua aposta, uma tentativa de ganhar o mercado de uma empresa que tinha subestimado completamente a importância da internet, que tinha visto o fenômeno Netscape surgir, e que usou um truque tão sujo quanto o agrupamento, a integração ao sistema operacional que então dominou a computação, para obter uma posição de mercado, daí nasceu o processo antitruste na venda casada.
A Netscape sentiu a força da concorrência, e sucumbiu, mesmo diante de um navegador que nunca foi particularmente interessante ou particularmente bom, aos olhos de muitos especialistas. A participação do Explorer com a força da Microsoft chegou a absurdos 95%, em total exercício de monopólio. O caso sempre foi uma referência nas aulas de direito, na venda casada de produtos (agrupamento) como exemplo de prática anticoncorrencial.
Assim a Microsoft, uma empresa que tinha desempenhado um papel importante na expansão da computação, se dedicou a atacar a própria essência da internet, sua abertura e sua compatibilidade, com um navegador que tentou usar constantemente para impor padrões e proprietários fechados. O Internet Explorer foi o navegador que mais tentou atacar a universalidade da internet, de uma forma que refletia como a Microsoft acreditava que estava acima de tudo e capaz de fazer o que quisesse sem medo de qualquer consequência.
Com a chegada do Firefox em 2004, de forma retumbante, com um anúncio de duas páginas no The New York Times, os defensores de uma internet livre sentiram uma brisa para arejar o pouco competitivo mercado, e assim e com a força dos tribunais demonstrando a insustentabilidade daquela estratégia.
Com o tempo o Internet Explorer virou um claro exemplo de obsoletismo e principalmente daquilo que jamais poderia ter acontecido no livre ambiente da internet.
Recuperar o rumo da Microsoft, é um claro exemplo do seu Ceo, Satya Nadella, de virar uma empresa, endireitar seu curso e entender a paisagem tecnológica.
O fato é que a realidade de empresas como a Microsoft é diferente de 99% das demais empresas no mercado, porém, tem diversas formas legais quando você tem dificuldade de inovar com a próprias empresas que é sempre bom olhar e aprender com o erro dos outros, pois, o nosso muito nos custa.
A inovação e os diversos instrumentos legais disponíveis para inovação de produtos e serviços é um caminho sem volta e cabe ao poder público em todos os canais e áreas de comunicação fomentar e dotar de créditos e produtos jurídicos que permitam reconstruir a empresa, sempre com a perspectiva da urgência que a pandemia nos trouxe.
O universo jurídico brasileiro está cheio de instrumentos legais a começar pela Lei 10.973 de 2004, além de muitos editais de fomento.
Tempos de crise, são oportunidades para reflexão de construção não apenas de novos caminhos, mas de novos destinos, por vezes não é a estrada que está difícil, mas o destino é que não se justifica.