Dizem que Deus inspirou o homem e ele criou a internet, e o diabo por inveja fez nascer as redes sociais.
Elas dentro da sua lógica de atenção dão vazão a tudo que possa ser multiplicado, gerando mais compartilhamentos, curtidas e comentários e assim toda mágoa que é despejada nela se multiplica, todo delírio ganha adesões e é por isso que as Fake News nela se multiplicam.
Por isso a pergunta é sempre pertinente, até onde algoritmos que regram a lógica comercial das redes sociais podem de forma legal regrar nossas relações pessoais?
Onde o Direito pode nesse universo de magoados e ofendidos nos proteger dessa interferência malévola de algoritmos que despreza estados de espíritos e mergulha a visão turva de magoados num mar de lama em busca de plateia, na lógica comercial da atenção?
Os dicionários, conceituam a mágoa, como uma reação provocada assim que outra pessoa nos ofende, decepciona ou pratica qualquer ação indelicada.
Logo quando alguém fala “você me magoou” significa que há uma mistura de sentimentos em ebulição. Em geral, dá origem para a raiva, o rancor e uma tristeza crescente, alimentando uma grande decepção. Em outros sentidos, pode indicar também que uma pessoa inveja algo que outra possui.
Por vezes segundo a psicologia, “Ter a nossa confiança em alguém abalada é um golpe duro demais para ser aguentado quando não é esperado. Com isso, nos sentimos vulneráveis e sem qualquer apoio físico ou emocional para nos estabelecer. Isso acaba por dar origem à raiva. Por hora, nada pior que alguém que te machucou de forma tão profunda.”
É nessa confusão de sentimentos que repousa o diabo das redes sociais, aquele que ao invés de nos aconselhar a conversar com quem verdadeiramente nos ama, nos leva a acreditar que a audiência de colegas, conhecidos e muitos desconhecidos pode de alguma forma nos ajudar.
Por isso entre os sentimentos que eu mais tenho medo está a mágoa, esse momento de inquietação da alma.
Eu tenho sim medo da mágoa, que reduz nosso espírito a um amontoado de dissabores, levando na boca o gosto amargo do fel.
A mágoa é um bicho traiçoeiro, que nos corrói por dentro, se alimentando dos mais belos sentimentos que já nutrimos pelo outro.
Ela tem a capacidade mágica de apagar os nossos melhores momentos vividos e transformar eles em um vídeo lá no fundo do corredor, quase que inacessível.
A danada da mágoa tem nas redes sociais um público fiel, digno dos apaixonados das novelas mexicanas, afinal desgraça pouca é bobagem, e tolo de quem pensa que a mágoa tem solidários, nada disso ela tem é expectadores.
Por isso eu tenho medo da mágoa, daquela que quando percebemos já tomou conto do nosso corpo da nossa alma, e assim acordamos e vamos dormir com ele dolorido, sem saber a causa, pois ela é sorrateira.
Estar doente de mágoa é o que existe de pior, afinal a mágoa não aparece em nenhuma ressonância, não se identifica em um eletrocardiograma nem mesmo em exames de sangue, ou no batimento cardíaco elevado, nada disso ao contrário das paixões que elevam o nosso batimento a mágoa se instala sorrateira no nosso coração, matando-o lentamente.
Eu tenho medo da mágoa, seja ela pequena ou grande, pois não importa o tamanho dela, no fim a única coisa que ela faz é reduzir os nossos mais belos sentimentos, nos tornando a sombra daquilo que mais odiamos.
A mágoa é um presente que não entregamos, e logo ela vira nossa propriedade, corroendo lentamente, sem pressa e com audiência certa, vendo definhar o belo e mágico espaço de onde nasce um novo amor.
A mágoa de um desentendimento sim, de uma decepção sim, mas quantas conversas poderíamos ter com quem nos magoou e mostrar que o diálogo é a melhor ponte entre duas pessoas e a melhor estrada pra fazer a mágoa partir?
Eu nunca vi nada de bom brotar da mágoa e muito menos da solidariedade dos expectadores das redes sociais que assistem aos magoados e ofendidos.
Eu tenho medo da mágoa, daquela que eu provoquei, ainda que involuntariamente, e por isso sempre estou aberto a escutar o ofendido, ofertando a ponte pra eliminar esse pobre sentimento. Afinal em determinado momento, por qualquer motivo, podemos ser a razão da mágoa de alguém. Querendo ou não, acabamos por ferir uma pessoa e atingir profundamente seus sentimentos. Como causadores do problema, talvez não tenhamos a real noção do que fizemos a ela.
Abrir-se ao diálogo fora das redes sociais, é o primeiro passo para uma reparação, devemos olhar para nós mesmos e entender o motivo de fazermos isso. Redimir-se poupa o desnecessário sofrimento alheio.
Agora se você se sente ofendido, ou injustiçado pela mágoa de outro, não revide, muito menos nas redes sociais, pois isso é como se jogar gasolina em um resquício de chama de um grande incêndio. Claramente a chama ganhará mais intensidade e tamanho e continuará a queimar de forma descontrolada.
Não existe fogueira mais descontrolada do que a pobreza de espírito que por muitas vezes habita as redes sociais, e isso só vai perpetuar ainda mais a mágoa do ressentido, ampliando-a para os mais próximos do magoado.
Infelizmente, algoritmos e grupos vão ajustando a nossa rede de forma cada vez mais homogênea, onde a mágoa atrai mais magoados e ressentidos, criando a nossa bolha de magoados.
E assim as redes sociais nos levam a sermos íntimos de quem não conhecemos bem, e a cada dia mais distante dos próximos fisicamente.
Eu tenho medo da mágoa, por tudo que ela soterra e pelo que ela nos transforma invertendo a ordem de prioridades, onde o amor vai pro fim da fila e a audiência de arena ganha o primeiro lugar na plateia.
Não de print, não curta e não compartilhe a mágoa, o mundo já tem notícias ruins o suficiente pra transformar o nosso dia.
Olhe na janela, veja tudo de bom que vivemos e tudo de maravilhoso que ainda podemos viver, a vida é feita de escolhas, logo escolha amar.
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