JANTANDO NO METAVERSO POR APENAS R$8.350.00. VAMOS?

O restaurante mais caro do mundo, fica no metaverso, esse ao menos é o conceito gastronômico e de lazer Sublimotion, em Ibiza, onde o preço do almoço de uma pessoa é de cerca de 1.650 euros. Vamos fazer a nossa reserva para uma “refeição” instragramável?

Na cozinha deste cyberchef você só pode entrar com óculos virtuais e depois de pagar os 1.650 euros por pessoa, para viver a experiência de Sublimotion.

Este caro e suculento metaverso será o lar daqueles que embarcam na Sublimotion até 30 de setembro, a última parada de uma jornada pela tecnologia que começou há nove anos. Tudo começou com o uso da realidade aumentada, para oferecer ao restaurante a possibilidade de obter, em tempo real, todas as informações sobre o prato. Há cerca de três anos, deu-se um salto para a realidade mista, propondo uma experiência em grupo virtual, em vez de individual, onde os comensais apareciam exatamente na mesma sala em que estavam sentados na realidade, mas se desenvolveram virtualmente em 3D e onde seus colegas de mesa eram avatares. Agora as possibilidades oferecidas pela nossa cápsula são infinitas e a equipe criativa e de engenharia do restaurante, nos faz imaginar um futuro próximo onde muito em breve será possível jantar com alguém que não está no mesmo espaço físico.

Mas o que o mercado já está disponibilizando pode realmente ser chamado de metaverso? O que Mark Zuckerberg vem apresentando recentemente, na França e na Espanha, e que chama de Horizon Worlds, pode ser definido como metaverso? Ou seria apenas um vídeo game que deixa muito a desejar?

Não se trata de ter uma plataforma e abri-la para desenvolvedores, nem de convencer empresas ignorantes com gestores que querem se tornar modernos para adquirir dispositivos de realidade virtual. A estratégia da plataforma funcionou para Zuckerberg na época em que ele conseguiu fazer com que o Facebook se enchesse de pequenos jogos como FarmVille ou Mafia Wars e para os usuários multiplicarem o tempo gasto em sua rede social(mais tempo/mais dados/mais monetização), mas o metaverso, como tal, é outra coisa, e o ardil de mudar o nome de sua empresa para Meta não vai servir para monopolizá-lo.

O metaverso supõe um agnosticismo em seu desenvolvimento muito semelhante ao que vivemos com a popularização do uso da internet: um conjunto de protocolos que permitem a descentralização de tudo, da identidade à atividade, através das informações geradas, em que contexto qualquer empresa pode desenvolver a presença e a atividade que deseja, sem ter que assinar um termo de contrato de serviço ou com Zuckerberg,  ou com qualquer um. Ele pressupõe sim, um mundo de dúvidas e de questões entre as mais simples, como se ele vai dar certou ou qual o seu uso? Até as mais complexas como quem vai cuidar da nossa segurança nesse ambiente digital ou se avatares tem personalidade jurídica?

Se alguma empresa quiser acreditar que “estar no metaverso” é ter assinado um contrato com a Meta para vender um lote na Horizon Worlds, não se preocupe: tempo e realidade farão você perceber seu erro, o metaverso na sua complexidade e maturidade está ainda muito longe.

Pensar que o metaverso é simplesmente um conjunto de avatares que se movem através de um mundo virtual é não ter ideia da tecnologia, mas do que se espera dela nos próximos anos: uma mudança que nos permite repensar os equilíbrios de forças entre usuários, empresas e governos, uma redefinição da internet baseada na criptografia e com consequências que nem podemos imaginar.

Existem características impares no metaverso, como a descentralização, transparência, e código aberto o que seria impossível tendo a Meta como protagonista, o que não implica em reduzir o seu papel como impulsionadora, mas cujo protagonismo será sempre um desafio. Definição mínima de regras,  distribuição de energia, meios de pagamento e hardware necessário com os seus respectivos padrões, todas consolidações que devem demorar e certamente levar muitas empresas focadas nela à quebra no curto prazo devido a distância entre realidade e projeção de receita nesse primeiro momento que exige fôlego de escafandrista.

É fato que as inovações tecnológicas que transformam radicalmente a sociedade, são chamadas de disruptivas, pois causam uma “ruptura” na lógica de funcionamento dos modelos de mundo, alterando completamente as regras sociais e econômicas. Tenhamos a escrita como exemplo, e veja quanto de interessante ocorreu a partir da padronização da escrita e a evolução humana no processo de integração e avanço tecnológico ocorrido desde a escrita?

Notadamente as revoluções tecnológicas caracterizam-se quando muitas tecnologias disruptivas emergem e passam a atuar simultaneamente no mundo–esses períodos transformam e impactam todas as dimensões da humanidade: ambiente, escassezes, relacionamentos, saúde, cultura etc. Novas tecnologias já existentes não são apenas tendências, elas já são uma realidade, como o 5G.

Uma adição importantíssima as novas tecnologias é a Computação Quântica, que em 2019 passou de promessa a produto, e traz o potencial de acelerar a capacidade de processamento computacional nos próximos anos, em um nível tal que pode solucionar uma gama inédita de problemas complexos.

Até que o metaverso e as tecnologias que dele fazem parte sejam uma realidade presente em nossas rotinas, o que veremos serão experiências muitos distantes do que ele de fato pode ser.

Aos efeitos técnicos do som, projeção, sistema de levitação, vibração, ventilação ou aromaterapia, elementos do teatro clássico, kabukis, polias, espelhos etc. Dentro de alguns anos, muitos desses recursos cênicos poderão ser replicados em ambientes virtuais e apreciados da mesma forma, no metaverso.

Quanto ao almoço no metaverso, ele ainda é pra poucos, o que para os brasileiros não é novidade considerando o preço atual dos alimentos, e claro tudo é culpa do petróleo e da guerra da ucrânia. Santa inocência Batman.

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