INTEL, DE PROTAGONISTA A COADJUVANTE NA GUERRA DOS CHIPS?

A Intel, já foi líder absoluta na fabricação de chips, e isso dava a primazia do coração dos computadores a empresa americana, porém ultimamente, houve uma rápida mudança na liderança na indústria de chips americana, o que pode representar o fim de quatro décadas onde a Intel reinava absoluta, exatamente no momento onde a internet das coisas, e a transformação digital transversal acaba por colocar novamente os chips no centro do mercado.

A fabricante de chips que já dominou o mercado está sendo ofuscada por rivais como Nvidia, Qualcomm e AMD.

Desde o início de outubro, as ações da Qualcomm, que tem surfado na onda 5G, subiram 50%, a ponto de na semana passada eclipsar a Intel. A AMD, rival perene da Intel no setor de processadores e servidores de PC, viu um aumento semelhante e está prestes a ultrapassar seu concorrente.

Isso vem pouco mais de um ano depois que a Nvidia, cujos chips facilitam a computação acelerada para tarefas como aprendizado de máquina, videogames e supercomputação, dominou a Intel. As ações da Nvidia também registraram um rali de quase 60% desde o início de outubro, o que fez com que seu valor de mercado excedesse o da Intel em quatro vezes.

Os problemas da Intel estão bem claros: ficou para trás no mercado de smartphones, perdeu sua longa liderança na tecnologia de fabricação de chips para a TSMC (gigante de Taiwan), e viu seu domínio em processadores de PC e servidores começarem a se deteriorar.

Mas a mudança mais recente no mercado aponta para uma perda muito mais acentuada de confiança na capacidade da empresa de recuperar seu equilíbrio. Em suma, Wall Street não acredita mais que os fatores que levaram à hegemonia da Intel por tanto tempo, uma amplitude incomparável de tecnologias, uma longa história de excelência operacional (até a recente queda da graça) e um motor financeiro que eclipsa os outros são suficientes para acertar a roda do navio.

Longos ciclos de capital e novas roadmaps de tecnologia para o setor de chips dificultam a recuperação da vantagem uma vez que a empresa perdeu competitividade.

Curiosamente, como característica dessa nova economia, ao mesmo tempo que temos uma concentração das plataformas, identificamos um ambiente ainda mais concentrado na produção dos chips, isso mesmo se não fazem parte das big techs, os fabricantes de chips estão novamente ganhando o protagonismo uma vez que estão ditando o ritmo das indústrias, seja de celular ou de automóveis.

Nesse momento, a guerra comercial entre EUA e China, vai desde a limitação da ação das plataformas como o TikTok, e vai para os semicondutores, atravessando o Estreito de Formosa e atingindo a maior fabricante de semicondutores do mundo.

Conhecida como TSMC, a Taiwan Semiconductor Manufacturig Company, que é atualmente responsável pela fundição de chips para as principais cadeias de suprimentos globais, tornou-se o mais recente cavalo de batalha na luta política e tecnológica entre essas duas potências, curiosamente justamente a empresa taiwanesa que tem relações pra lá de espinhosas com a China.

Num processo verticalizado, onde todos os grandes players são essencialmente montadoras, como a Apple, Qualcomm, Broadcom, Cisco Systems e Nvidia essas norte americanas.

A TSMC, foi fundada em 1987, a maior protagonista do momento no mercado de chips. foi a primeira empresa do mundo voltada para a fundição de semicondutores. Seu modelo de negócio foi pioneiro por se concentrar na fabricação de chips sob medida. Envolvida em 272 processos de produção tecnológica distintos e atendendo a uma rede de 499 parceiros na Ásia, Europa e América do Norte, em uma visão global com operações em todo mundo.

Por não ter produtos de consumo final como Intel e Samsung a TSMC se diferenciou das demais fabricantes de semicondutores como a Intel e a Samsung, que por hábito acabam reservando os melhores chips a seus próprios produtos. Sendo que muitos dos clientes da TSMC são fabricantes de semicondutores de circuitos integrados, mas não dispõem da capacidade para produzi-los em massa, acredita-se que seus maiores clientes sejam a Apple 23%, e um subsidiária da Huawei, HiSilicon com 14%.

Para termos ideia de alguns números dessa guerra o governo chinês planeja investir, nos próximos cinco anos, 1,4 trilhão de dólares (10 trilhões de yuans) em infraestrutura e inovação tecnológica de projetos que vão desde a construção de redes sem fio 5G a softwares de inteligência artificial (IA) para a automatização de fábricas e direção automática. Sendo que nessa projeção há o propósito de expandir a indústria doméstica de semicondutores, buscando assim elevar a taxa de autossuficiência no setor para 40% ainda este ano, chegando a 70% até 2025, é bom lembrar que Taiwan tem o domínio pleno dos chips de última geração sendo responsável por cerca de 90% deles.

Tanto o Governo Trump como o Governo Bidem, sabem da importância de se controlar esse mercado de componentes de tecnologia, de onde se baseia toda cadeia da nova indústria. Por isso o fazem com o mesmo rigor que controlam as transações financeiras. O que só é possível graças ao domínio dos EUA sobre a produção de semicondutores à base de silício. Esses microeletrônicos foram inventados no próprio país e, no contexto da guerra comercial entre EUA e China, Washington tem a opção de simplesmente interromper o acesso das empresas chinesas à compra de chips. Foi assim que as campeãs de inteligência artificial chinesas Sensetime e iFlyTek, as empresas de reconhecimento facial Megvii e HikVision e a fabricante de supercomputadores Sugon foram colocadas na “lista de entidades”, onde são consideradas como “atuando contra os interesses exteriores dos Estados Unidos”, como destacado em recente artigo de Pepe Escobar.

Mesmo com os investimentos a TSMC continua sendo a maior fabricante de chips por contrato do mundo, e a China ainda ocupa apenas a quinta colocação nesse estratégico mercado. Ao mesmo tempo enquanto a TSMC fabrica produtos de ponta com a tecnologia de 5 nanômetros, a SMIC pode estar atrasada quase uma década. Só sua última geração de chips de 14 nanômetros está cerca de quatro anos atrás da Qualcomm e da Intel, de acordo com analistas da Fitch Solutions, o que na guerra tecnológica parece ser uma eternidade.

Todos os movimentos indicam que os Estados Unidos temem a influência da China em Taiwan e sua capacidade de invadir ou sabotar as cadeias produtivas que passam pelo país insular. Os semicondutores da TSMC também têm aplicações militares e são utilizados em aeronaves, satélites e drones.

O fato é que sejam quais forem as provações e tribulações da guerra dos chips, a tendência inevitável à frente coloca a China como o núcleo tecnológico indispensável da Ásia Oriental, ligando a ASEAN, o nordeste asiático e a Sibéria Oriental a ambas as Coréias.

A consequência natural, entre outros fatores, dos pedidos de patentes do Leste Asiático a um múltiplo de 3,46 vezes a taxa dos EUA, está sendo vista agora e é o elemento catalizador dessa guerra, os orientais fizeram o seu dever de casa.

A história da humanidade é essencialmente a história dos avanços tecnológicos, e curiosamente os chips, com sua produção concentrada na mão de poucos, e com domínio absoluto na mão de um só fabricante na ilha de 23 milhões de habitantes, de frente pra China e de péssimas relações com os chineses, é mais um curioso ingrediente nessa guerra de patentes, chips e muita tecnologia para o fundo principal que é definir quem vai ganhar a guerra no mundo regrado pela Inteligência Artificial e pela Internet das Coisas.

E diante desse cenário, alguns fatores podem nos ajudar a entender o atual momento da Intel, visto a perda de protagonismo. No mercado de data centers, por exemplo, a Intel deve ter em breve um novo produto que pode começar a mudar as coisas. Ainda que as informações sobre seu desempenho bruto ainda não tenham sido divulgados, o chip que estará disponível no início do próximo ano — pode dar à Intel uma vantagem.

No entanto, não parece que vai durar muito. A AMD anunciou a próxima geração de chips baseados em sua microarquitetura Zen até o final do ano. Produzidos nas fábricas mais avançadas da TSMC, eles incluirão mais recursos em muito menos espaço, que será o dobro da densidade de seus antecessores. Isso se traduz em mais poder de computação com menos energia. A menos que a Intel possa recuperar o terreno que perdeu para a TSMC na tecnologia de processo de fabricação, será difícil competir com ela.

Enquanto isso, a Nvidia também tem corrido para ultrapassar a Intel no mercado de data centers. Independentemente de sua controversa aquisição da empresa britânica de design de chips Arm obter aprovação dos reguladores, a Nvidia está adicionando processadores baseados em Arm em seus produtos de data center. Também não devemos esquecer as incursões da AMD no mercado de PCs e o desempenho impressionante dos novos Macs da Apple desde que começou a substituir os processadores da Intel por seus próprios chips.

São números dinâmicos, que destacam a importância dos Chips, com o 5G e a internet das coisas, todas tecnologias que devem impulsionar ainda mais o mercado de chips.

O que exige uma legislação flexível no registro de patentes para quem pretende ser protagonista. Um mundo definitivamente em transformação.

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