HIDROGÊNIO VERDE NO BRASIL

Se existe algo que a recente Invasão da Rússia a Ucrânia tem demostrado é a importância da autonomia energética de um país, e no caso da Europa de um continente, a possibilidade do não fornecimento de gás russo para Europa coloca todo um continente em alerta, e acelera investimentos pela conquista da segurança energética. E se essa energia for não poluente, como é o caso do hidrogênio verde o protagonismo é ainda maior. Por isso o atraso do Brasil na produção dessa matriz energética sustentável precisa ser uma página virada, como outras que devemos virar nos próximos tempos.

Nesse semana o grupo Unigel, dará início a sua fábrica de hidrogênio verde, que deve ficar pronta no fim do próximo ano e que deve se somar a outras iniciativas, na procura do tempo perdido.

Nesse momento o Brasil está fazendo um esforço para entrar no mapa global de produção de H2V (H2 de hidrogênio e V de verde), combustível limpo com potencial para atender demandas do setor elétrico e automotivo com baixo impacto ambiental. Até o final deste ano, a EDP Brasil, uma das empresas líderes do setor de energia no país, planeja iniciar as atividades em uma unidade-piloto de produção de H2V em São Gonçalo do Amarante, no Ceará. O hidrogênio será obtido por meio da eletrólise da água, um processo químico que utiliza corrente elétrica para decompor a água em seus constituintes, hidrogênio (H, formando H2) e oxigênio (O, formando O2) existentes na molécula de água (H2O). Quando o processo de eletrólise emprega fontes renováveis de energia, como eólica, solar ou biomassa, o hidrogênio é classificado como verde. A usina da EDP utilizará energia fotovoltaica e terá capacidade para produzir 22,5 quilos (kg) de hidrogênio por hora. O investimento previsto é de R$ 41,9 milhões.

Frequentemente apontado como o combustível do futuro, o hidrogênio tem alto poder calorífico, quase três vezes superior ao do diesel, da gasolina e do gás natural. Ao ser transformado em energia, alimentando um motor a combustão ou em qualquer outra aplicação, não emite gases de efeito estufa (GEE). O hidrogênio residual liberado na atmosfera, em contato com o oxigênio, resulta em vapor-d ’água.

Elemento mais abundante do Universo, o hidrogênio é raramente encontrado de forma isolada na Terra, mas está presente em inúmeros compostos, incluindo água, combustíveis fósseis e diferentes tipos de biomassa. A obtenção do gás, nesses casos, depende dos processos envolvidos. O mais comum deles é a reforma a vapor, uma reação química de hidrocarbonetos, comumente gás natural, com água. O hidrogênio produzido por essa via é denominado de cinza, uma vez que seu processo de conversão libera COna atmosfera, ou azul, quando o gás carbônico gerado durante sua produção é capturado e armazenado geologicamente.

Apenas o governo do Ceará já soma 14 memorandos de entendimento com grupos privados interessados em produzir o combustível no estado, apenas se a metade dos acordos se tornar efetivo, teremos o equivalente a uma Itaipu em operação no Ceará entre 2025 e 2030, afinal é apenas uma previsão considerando os memorandos.

O mundo soma 520 projetos de usinas de hidrogênio, segundo o Hydrogen Council, associação que reúne representantes dos maiores produtores do gás. Se confirmados, demandarão investimentos de US$ 160 bilhões. A estimativa da associação é que a produção do combustível ultrapasse 600 milhões de toneladas por ano (mt/ano) e responda por 22% da demanda mundial de energia em 2050, o que permitiria uma redução de 20% nas emissões de GEE no mundo. As projeções da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena) são mais modestas. Para ela, o setor irá produzir 409 mt/ano em 2050, o que responderá, nos cálculos da entidade, por 12% da demanda global de energia.

Atualmente, a contribuição do hidrogênio na matriz energética mundial é ínfima. Praticamente todo o hidrogênio produzido, pouco mais de 100 milhões de toneladas anuais, é utilizado com finalidades químicas em processos industriais, como o refino de petróleo, na produção de fertilizantes, em siderúrgicas e na indústria química.

Nesse momento, muita gente acredita que a energia de hidrogênio trará uma nova dimensão à geopolítica energética, o que deve impactar o mundo e as inúmeras tecnologias que tratam do hidrogênio e o seu crescente uso.

É obvio que a Guerra provocada pela Rússia ao invadir a Ucrânia catalisa um novo redesenhar da política energética mundial, onde o multifornecimento por um conjunto plural de fontes de energia com elemento de contingenciamento de preços e fornecimento (segurança energética) aceleram novas matizes energéticas, e esse é o caso do hidrogênio.

O último relatório de Irena prevê que a geopolítica do petróleo e gás, na qual os países produtores têm o poder de decidir os preços, desaparecerá à medida que novos combustíveis como o hidrogênio predominam. O relatório conclui que “um novo mapa geopolítico de energia” e uma nova “diplomacia do hidrogênio” surgirão, à medida que a produção aumenta em todo o mundo.

A geopolítica da energia em 2050 será menos importante do que é agora, porque reduzirá a dependência de pequenos mercados que agora são capazes de influenciar os mercados globais de energia de forma imprevisível.

O hidrogênio poderia cobrir 12% das necessidades energéticas mundiais até 2050 se as emissões globais forem drasticamente reduzidas para limitar o aquecimento a 1,5ºC.

Aproximadamente US$ 65 bilhões foram destinados à produção de hidrogênio na próxima década. Alemanha, França e Japão estão entre os principais investidores. Embora o gás seja difícil de transportar, ele pode ser convertido em amônia para transporte de longa distância, ou transportado através de gasodutos atuais de gás natural.

Atualmente existem dois métodos de fabricação de hidrogênio: hidrogênio verde que é produzido usando eletricidade renovável, e hidrogênio azul, que é feito a partir de gás natural.

Para alcançar as metas climáticas, o hidrogênio azul deve ser combinado com a captura de carbono para limitar o impacto das emissões de dióxido de carbono e metano.

O mesmo estudo, prevê que o hidrogênio verde atingirá a paridade de preços com o hidrogênio azul em 2030 em muitos países, embora outros estudos sugiram que será em 2040. Atualmente, o preço dos eletílmos, os dispositivos usados para produzir hidrogênio verde, torna sua produção mais cara.

Evidente que essa transformação nos faz recordar o conceito do funil de Danny Hillis, um cientista e inventor contemporâneo, que diz o seguinte: “Num certo momento, pode haver dezenas de milhares de pessoas pensando na possibilidade de uma certa invenção, mas menos de uma em 10 delas vão conseguir imaginar Como aquilo poderia ser feito. Das que conseguem imaginar como fazer, só um décimo chegará a pensar nos detalhes práticos de soluções específicas. Dessas, apenas um décimo conseguirá fazer um protótipo que funcionará por tempo suficiente. E finalmente, só um dos vários milhares de pessoas que tiveram a ideia conseguirão fazê-la se tornar vencedora”. Nos estágios conceituais (mais abstratos) toda ideia tem muitos pais, mas a cada estágio o número de pais possíveis diminui. Pense em coisas que estão em intensa experimentação hoje, plataformas de ensino à distância, o carro sem motorista, energias solar e eólica, pilhas a hidrogênio.

Sendo o elemento mais abundante do universo, o hidrogênio virou a última fronteira energética para um futuro neutro em gás carbônico, e logo o crescente compromisso com o hidrogênio é uma tendência ascendente entre as grandes empresas europeias, com o propósito de alcançar uma exposição significativa a médio e longo prazo nesta área de negócios. Mas se o investidor prefere uma exposição muito maior ao hidrogênio, as possibilidades de alternativas disponíveis no mundo são reduzidas bem como também o tamanho das empresas diminui.

Com inúmeros projetos já em andamento, o Brasil tem todas as capacidades necessárias para estar na vanguarda deste desenvolvimento em larga escala: terras de qualidade abundante para a geração de recursos renováveis, uma infraestrutura elétrica altamente desenvolvida e um tecido industrial com alta especialização em energias renováveis. Para isso, é essencial superar questões pendentes como competitividade de custos e regulação.

Se esse potencial for explorado, o Brasil tem a oportunidade de ser exportador de tecnologia nas próximas décadas, mas é preciso haver uma colaboração entre o setor público e privado para responder aos desafios que devemos empreender. O sucesso da penetração do hidrogênio verde no Brasil dependerá diretamente da evolução da tecnologia, dos impactos econômicos e da capacidade de criar um modelo operacional sustentável e escalável, como já fizemos com o etanol.

Apesar de ser encontrado em grande quantidade, o hidrogênio na Terra só existe na combinação com outros elementos. Ele está na água e nos hidrocarbonetos, como gás, carvão e petróleo. Para consegui-lo na forma pura, é preciso separá-lo. Esse processo já é conhecido no mundo na produção do hidrogênio marrom, cinza e azul, que usam combustíveis fósseis, as cores indicam o combustível usado

Se o hidrogênio pode ser verde, azul ou marrom qual a razão da veemente defesa da indústria petrolífera (ao menos grande parte dela) pelo hidrogênio azul?

Um recente estudo publicado na Energy Science & Engineering por dois dos importantes cientistas climáticos, Robert Howarth e Mark Jacobson, procura encerrar o mito (mais um mito que deve encerrar) do chamado “hidrogênio azul” e prova a sua verdadeira natureza, ou o que os mais radicais chamam de “mais uma mentira da indústria petrolífera”.

Durante anos, a indústria vem alimentando a mentira de sua suposta sustentabilidade na produção de hidrogênio como subproduto para obter com ele bilhões em subsídios, o que nos faz lembrar q quantidade de besteiras que a indústria do cigarro publicou por um tempo, com estudos assinados por profissionais inescrupulosos, mais preocupados com a sua conta bancária do que com a saúde de bilhões de fumantes, ativos ou passivos. Assim o Logo o hidrogênio produzido do etanol ganha destaque e preferência dentro de uma economia sustentável.

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