Gurgel o Professor de Elon Musk!

Uma matéria recente no jornal Estadão comparou, ao menos na aparência, o novíssimo Tesla Cybertruck ao Gurgel Itaipu, o primeiro carro elétrico brasileiro fabricado em escala por uma indústria nacional, fruto de um empreendedor visionário e que tinha naquela época autonomia de 80 kms.

Bem antes de Elon Musk, em 1974 João Conrado do Amaral Gurgel, fundador da montadora nacional Gurgel Motores S/A, lançou o Itaipu, o primeiro carro elétrico da América Latina, um feito e tanto considerando as limitações e desafios da nossa indústria nacional.

É claro que lamentavelmente a história parece ser sempre escrita pelos vencedores, e os inúmeros inventores e seus inventos, são muitas da vez obscurecidos pelos que lhes sucederam e conseguiram dar sucesso comercial aos inventos que lhe precederam.

Os primeiros carros elétricos surgiram bem antes do nascimento de Gurgel e Tesla, já em 1830 na Escócia, surgiram os primeiros modelos, isso mesmo, quando você olha em 2020 um moderno veículo movido a energia elétrica saiba que o primeiro deles já foi criado 190 anos atrás pelo escocês Robert Anderson, que criou a primeira carruagem elétrica do mundo. Somente em 1842 nos Estados Unidos surgia o primeiro carro elétrico. E acredite, eles tinham a preferência do público por serem mais fáceis de operar e por proporcionarem viagens bem mais confortáveis do que os motores a combustão da época.

O primeiro elétrico brasileiro, feito por Gurgel, tinha um formato trapezoidal, o veículo era movido por um motor elétrico de 3,2 kW, equivalente a 4,2 cv e alimentado por 10 baterias: três na frente, duas atrás dos bancos e mais cinco na traseira. A autonomia era de 60 a 80 km a uma velocidade máxima de 50 km/h, e a recarga completa levava 10 horas. Havia espaço para apenas motorista e passageiro, além de alguma bagagem em um vão atrás dos bancos, entre 1981 e 1982 sua montadora produziu em pequenas quantidades do Itaipu E-400, um furgão elétrico alimentado por oito baterias, velocidade máxima de 70 km/h e autonomia de até 100 km no “modo econômico”, que limitava a velocidade a 45 km/h, o que poderia ser interessante para diversos nichos de carros para uso fechado, como coleta de resíduos, e operações em locais fechados, como aeroportos e locais de carga.

A Fábrica que nasceu em 1969, produziu em 1980, há 40 anos, quando poucos falavam em carro elétrico o primeiro carro elétrico nacional, até a sua quebra em 1994, a Gurgel fabricou 40.000 carros nacionais, um senhor feito se compararmos as estruturas de financiamento disponíveis no Brasil para Gurgel e disponíveis para Elon Musk e sua Tesla.

Nascida em 2003, a Tesla foi criada pelos colegas Martin Eberhard e Marc Tarpenning, dois jovens que haviam vendido em 2000 NuvoMedia, empresa que lançou um dos primeiros eReaders do mercado, e que receberam 187 milhões de dólares pela venda, o que permitiu que eles fundassem a fabricante de carros elétricos. Pouco tempo depois, e claro depois de muito investimento a Tesla aceitou a entrada de Elon Musk, e foi dele o primeiro financiamento para a empresa, de 7,5 milhões de dólares em 2004, tornando-se o presidente do conselho, e fazendo outros investimentos na empresa de 2005 a 2007.

Em junho de 2008 a Tesla lança o modelo S, que custaria 50 mil dólares na versão mais básica e era o primeiro sedan feito do zero pra ser 100% elétrico, realizando assim o sonho começado por Gurgel.

Ao contrário de Gurgel, em junho de 2010 ocorre a oferta pública de ações da Tesla iniciando uma escala de valores que sobem mais rápido que seus foguetes. Apenas dois anos depois ela começa a instalar as charging stations em pontos estratégicos da Califórnia, os pontos de recarga e o peso de bateria sempre foram pontos frágeis dos carros elétricos, e assim com baterias leves, autonomia e potência maior, os carros viram um sucesso.

É claro que a evolução na qualidade das baterias, com redução de peso e tempo de recarga, somados a autonomia e velocidade dos carros, além do apelo ambiental cada dia maior transformou a Tesla na queridinha do mercado de capitais, que sempre lhe sorria com mais e maiores empréstimos.

Como toda montadora, em 2013 já em crise pelos resultados que não vinham, a Tesla quase foi vendida pra Google por 6 bilhões de dólares,

Em 2015, a tesla apresenta a Powerwall, um conjunto de baterias domésticas que pode ser grudadas na parede, que economizam energia e podem ser usadas como gerador alternativo em caso de apagão.

Agora em 2020, exatos sete anos após a oferta do Google, a Tesla se tornou a montadora de maior valor do mundo, ultrapassando a Toyota e valendo US$ 207,6 bilhões, e assim valendo três vezes o valor combinado de Ford e GM juntas. Uma valorização neste ano de 160% em meio a pandemia, quando no mesmo período as montadoras do mundo estão vendo suas vendas caírem acima de 30%. E isso para uma montadora que entregou apenas 367 mil carros no último ano fiscal, algo muito pequeno diante dos 10,5 milhões de carros vendidos pela lucrativa Toyota.

Ao contrário de Gurgel, que quebrou por falta de capital para investir em seus carros e dessa maneira enfrentar os importados em 1993, a Tesla nunca teve dificuldade para captar recursos no mercado de capitais, desde 2012 a empresa já fez ao menos 8 captações, que totalizam US$ 10 bilhões.

Gurgel até tentou uma forma alternativa de captar recursos, transformando os compradores do seu veículo BR 800 em sócios da empresa. Cada acionista pagou o equivalente a US$ 7 mil pelo carro mais US$ 1.500 pelas ações. O valor era inferior ao dos modelos mais baratos da concorrência, porque o governo havia concedido ao carro uma alíquota inferior de IPI. Por causa da baixa cilindrada do motor, o BR-800 recolhia 5% de imposto, contra pelo menos 25% dos demais. A campanha fazia um paralelo com o fundador da Ford dizendo: “Se Henry Ford o convidasse para ser seu sócio, você não aceitaria?”.

Com muitas dificuldades a empresa foi a falência, sendo a maior fábrica genuinamente brasileira que mais vendeu carros em nossa história, uma história que quando comparada a Tesla de Elon Musk e seus inúmeros empréstimos subsidiados e estruturas de capital sofisticadas dão a exata dimensão do trabalho de herói que é ser empresário no Brasil.

As startups brasileiras sempre tem um árduo caminho pela frente, pois o Brasil definitivamente é o país para os fortes e resilientes.

2 comentários em “Gurgel o Professor de Elon Musk!”

    1. Roberto DePaschoal

      Concordo plenamente com voce, meu Amigo e colega em criatividade; ainda tenho a esperança que nossos inventos também relacionados a EVs. ainda façam noticias como essas num futuro próximo.

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