FRANCIS BACON E A GUERRA DA DESINFORMAÇÃO

Sir Francis Bacon, afirmava que: “conhecimento é poder”, a frase continua atual e desde sempre o uso e controle da informação, que fosse conhecimento e não apenas barulho pode sedimentar o controle de muitas gerações.

Ao deter e manipular de forma conveniente a informação muitas guerras foram vencidas e eleições levaram aos governos governantes despreparados com o falso ar da mudança.

Para Viktor Mayer-Schonberger, um defensor da privacidade, estamos vivenciando agora nada menos do que uma “redistribuição do poder da informação dos fracos para os poderosos”. Se todos soubéssemos tudo sobre todos os outros, seria uma coisa; no entanto, algo muito diferente ocorre quando entidades centralizadas sabem muito mais sobre nós do que nós sabemos uns sobre os outros–e, às vezes, mais do que sabemos sobre nós mesmos. Se conhecimento é poder, assimetrias de conhecimento são assimetrias de poder. Logo o controle dos instrumentos digitais de propagação de conteúdo, é um grande aliado para construção da desinformação que rouba tempo e conduz inocentes entre outros.

Como se sabe, o uso de táticas de guerra psicológica para obter informações aos cidadãos de um país inimigo durante as guerras é muito antigo. Na verdade, há até aqueles que afirmam que o termo que define esses folhetos em inglês, panfletos (folhetins), vem do uso da aviação para soltar essas pequenas folhas de papel com mensagens destinadas a influenciar a população em zonas de conflito.

No caso da invasão russa da Ucrânia, uma guerra liderada por um psicopata do século XX obcecado pelo controle da mídia, é possível ver claramente a importância da informação: as táticas de desinformação colocadas em prática por Vladimir Putin estão sendo capazes de manter sua população não apenas na ignorância absoluta das atrocidades cometidas por seu exército na Ucrânia, mas até mesmo para manter um certo nível de apoio a guerra.

Como se pode perceber, o controle da mídia tradicional, tratada a pão e água, juntamente com o exercido sobre páginas como o  mecanismo de busca Yandex, ou VK e outras redes sociais, além do uso maciço de robôs, ou você acha que ser influenciado por robôs é privilégio dos eleitores brasileiros, que arrumam desculpa para todas incompetências? Claro que não, lá como cá os influenciadores digitais fez com que uma parte significativa da população russa mantivesse o apoio a Putin e continuasse a manter teses insanas como a de que a guerra na Ucrânia foi É essencial livrar o país de um “suposto regime nazista”, que os ucranianos estejam recebendo seus libertadores de braços abertos, e que as sanções internacionais são o produto de algum tipo de conluio anti-russo. Qualquer semelhança com as frases que vemos aqui como “libertar o povo brasileiro da ameaça comunista” ou o famoso nossa bandeira é verde amarela e não vermelha. Eu juro que quando leio esse tipo de frase tenho vontade de perguntar pra pessoa se no planeta(acredite é no mesmo Brasil) que ela vive qual foi o governo que desapropriou a casa ou o sítio dela?

Mas voltando para a guerra atual, diante de um bloquei total de informações da população russa, acentuado pela saída do território russo das empresas de comunicação de outros países, bem como por conta das ações de censura imposta pelo governo, tentar enviar mensagens com informações reais à população torna-se um desafio fundamental para tentar estimular protestos internos, e enfraquecer o apoio a Vladimir Putin. Mas, obviamente, estamos no século XXI, e as antigas campanhas de panfletos lançados de aviões não fariam muito sentido agora.

Logo ações como a do Anonymous que alcançaram a mídia e até mesmo páginas do governo russo ganham importância pois tornam que os cidadãos russos obtenham evidências de que a realidade não é o que a mídia de seu país os pinta, e eles podem repensar seu apoio a um líder que está literalmente afundando a economia do país e causando o que vai ser, sem dúvida a maior crise recente da sua história.

Nas última semanas, um grupo de programadores poloneses lançou uma página, 1920.in, cujo título se remete à guerra entre a Rússia e a Polônia, na qual qualquer usuário pode enviar uma mensagem em russo, seja escolhida a partir de uma série de mensagens propostas ou escrevê-la do zero, para celulares russos escolhidos aleatoriamente a partir de um banco de dados.

Ao mesmo tempo nessa guerra, o Facebook e o TikTok bloquearam o acesso à mídia pró-governo russa e Moscou vê isso como censura, reclama de censura, e é sim, mesmo que uma grande causa procure justificar, mas retirada de conteúdo sem pesquisa que confirme a veracidade ou não, sempre será censura prévia feita por robôs.

De forma muito incisiva os governos ocidentais estão pressionando as mídias sociais para remover a mídia russa pró-governo de suas plataformas. Desta forma, a grande tecnologia está envolvida na guerra da informação que foi desencadeada após a decisão do presidente Vladimir Putin de invadir a Ucrânia.

O Facebook e a plataforma de vídeo chinesa TikTok anunciaram na segunda-feira que bloqueariam o acesso à Rússia Hoje e ao Sputnik na UE após um pedido do bloco para conter a propaganda pró-Rússia. O YouTube colocou em prática uma proibição semelhante na terça-feira.

As tentativas das redes sociais de remover a desinformação enfrentaram acusações de censura por parte da Rússia, que começou a restringir o acesso ao Facebook no país e ameaçou fazer o mesmo no YouTube.

Protestos sobre a guerra na Ucrânia colocaram as empresas do Vale do Silício no meio de uma batalha geopolítica por influência, dada a sua posição como guardiães de informações acessadas por bilhões de usuários.

Os primeiros-ministros da Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia assinaram uma carta endereçada aos chefes da Meta, Google, YouTube e Twitter exigindo que excluíssem a mídia estatal russa de suas plataformas.

Desde então, o YouTube bloqueou todos os canais relacionados ao RT e Sputnik em toda a Europa, incluindo o Reino Unido.

O Twitter, que na semana passada suspendeu a publicidade na Rússia e na Ucrânia, anunciou na segunda-feira que iria marcar o conteúdo de sites de mídia estatais russos algo que o Facebook e o YouTube vêm fazendo há vários anos e reduzir a visibilidade desses conteúdos.

Tanto o YouTube quanto o Facebook bloquearam o acesso na Ucrânia ao RT e a outros meios de comunicação estatais no fim de semana, após um pedido do governo ucraniano.

As plataformas também bloquearam a capacidade dos canais estatais russos de rodar anúncios em suas plataformas ou ter receita dos anúncios que aparecem ao lado do conteúdo que eles criam.

As medidas vão além das mídias sociais.

O Google decidiu bloquear os downloads do aplicativo RT em território ucraniano. A Microsoft foi mais longe na segunda-feira, bloqueando os downloads do aplicativo RT em sua loja de aplicativos Windows globalmente, bem como o conteúdo RT e Sputnik em seu site da MSN, citando a decisão da UE.

As redes sociais do Vale do Silício, neutras, mas comprometidas com a liberdade de expressão democrática, há muito tentam impedir que suas plataformas sejam implicadas na batalha por informações.

A guerra pela informação produz situações interessantes, como no caso de John Rendon, relatado no livro “O Filtro Invisível de Eli Pariser, nele Rendon se descreve afavelmente como um “guerreiro da informação e um administrador de percepções”. Ele trabalha na sede do Grupo Rendon em Washington, D.C., e presta serviços a dezenas de agências dos Estados Unidos e de governos estrangeiros.

Como tudo tem mais de um lado e o mundo não dividido entre o bem e o mal, quando as tropas americanas entraram na Cidade do Kuwait durante a primeira guerra do Iraque, as câmeras de televisão filmaram centenas de kuwaitianos alegres, balançando bandeiras americanas. “Vocês já pararam para pensar”, perguntou Rendon à plateia de uma palestra, “onde foi que os habitantes da Cidade do Kuwait, que estiveram cativos durante sete meses longos e dolorosos, conseguiram arrumar bandeiras americanas? Ou de outros países da coalizão? Bem, vocês já sabem a resposta. Essa foi uma das minhas funções.” Boa parte do trabalho de Rendon é confidencial–ele trabalha com um nível de privacidade além do ultrassecreto, um nível que nem mesmo alguns altos oficiais de inteligência chegam a ter. Seu papel no trabalho de propaganda pró-americana no Iraque durante a era de George W. Bush não está perfeitamente definido: embora algumas fontes afirmem que ele foi uma figura central nesse trabalho, Rendon nega qualquer envolvimento. Mas seu sonho é bastante claro: ele quer ver um mundo no qual a televisão “mova o processo político”, “as patrulhas de fronteira [sejam] substituídas por patrulhas de sinais eletrônicos” e “possamos vencer sem lutar”.

Rendon diz que a primeira arma de que dispõe é um objeto bastante simples: um dicionário de sinônimos. Para modificar a opinião pública, conta Rendon, a chave está em encontrar diferentes formas de dizer a mesma coisa. Ele descreveu uma matriz, com termos ou opiniões extremas de um lado e opiniões moderadas do outro. Usando a análise de sentimentos para descobrir o que as pessoas de um país pensam a respeito de um evento–por exemplo, um novo acordo feito pelo país para comprar armas dos Estados Unidos–e identificar os sinônimos que geram mais aprovação, é possível “influenciar gradualmente um debate”. “É muito mais fácil estarmos próximos da realidade” e empurrá-la na direção certa, afirmou, do que inventar toda uma nova realidade. Rendon ouviu-me falar sobre personalização num evento do qual ambos participamos. A bolha dos filtros, disse-me, gera novas maneiras de gerir as percepções. “O primeiro passo é entrar no algoritmo. Se descobrirmos uma maneira de carregar o nosso conteúdo de modo que apenas esse conteúdo seja descarregado pelo algoritmo, teremos uma melhor chance de moldar conjuntos de crenças”, afirmou. Na verdade, sugeriu, se procurarmos nos lugares certos, talvez consigamos ver indícios desse processo acontecendo agora mesmo–sentimentos sendo modificados algoritmicamente ao longo do tempo. Embora a bolha dos filtros possa facilitar o processo de modificar pontos de vista num futuro Iraque ou Panamá, Rendon estava claramente preocupado com o impacto da auto seleção e dos filtros personalizados sobre a democracia de seu próprio país. “Se eu tirar a foto de uma árvore”, diz Rendon, “preciso saber em que estação estamos. Cada estação do ano tem um aspecto diferente. A árvore pode estar morrendo ou apenas perdendo as folhas no outono.” Para tomarmos boas decisões, o contexto é crucial–é por isso que as Forças Armadas dão tanta importância ao que chamam de “consciência situacional em 360 graus”. Na bolha dos filtros, nós não enxergamos 360 graus–e talvez não enxerguemos mais que um.”

Os filtros de informação nunca estiveram tão ativos, e por ele sua ingenuidade funciona multiplicando a desinformação, gerando desatenção aos dados que realmente importam

Essa é a lógica da sociedade da desatenção, gerar mais e mais informação procurando a sua atenção e produzir como resultado a desatenção.

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