ENERGIA SUSTENTÁVEL E REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA

Avanços tecnológicos sempre são a soma de diversos fatores que correm em paralelo, lembro que cada nova invenção tecnológica requer avanços em muitas outras áreas conexas ao novo produto ou serviço, sendo que além dos avanços tecnológicos é preciso também a compreensão cultural do novo, e principalmente o apelo na compreensão da necessidade dessa inovação.

A sustentabilidade, um conceito amplo e transversal, só ocorre na sua plenitude quando alcança a todos e a tudo, logo imaginar novas tecnologias incorporadas em nossas rotinas, requer também a compreensão de que às mesmas precisarão sim de energia e essa precisará ser sustentável, não por uma vontade ideológica, mas por uma medida de equilíbrio e de perspectiva futura.

Depois de uma COP26 que mais uma vez decepcionou absolutamente todos, por ter poucas decisões de efeito prático, em que pese o amplo apoio da opinião pública mundial, onde o encontro em seu relatório final, optou mais uma vez por tons suaves sem a necessária contundência. Porém se consolidou algo fundamental, de que temos tecnologias capazes de resolver o problema mais importante da história da civilização humana, ainda que nos recusemos a usá-los e implantá-los na velocidade certa.

Um recente estudo da Agência Internacional de Energia afirma que, uma verdadeira revolução vem ocorrendo no segmento das energias renováveis, e que o mundo está muito próximo de uma enorme explosão de energia eólica e solar já nos próximos cinco anos à medida que os custos diminuem e as nações aumentarem suas ações para lidar com a emergência climática.

Só para se ter uma medida, a capacidade de geração adicionada em todo o mundo durante este 2021 quebrou mais uma vez um recorde absoluto, 290GW, o que equivaleria a ter construído trezentos reatores nucleares. As previsões para 2026 também apontam para um aumento de 60% em relação aos níveis do ano passado, o que equivale a cerca de 4.800GW, o mesmo gerado atualmente por todas as usinas de geração de combustíveis fósseis (térmicas) e energia nuclear em todo o mundo. Nesse período, 95% de todo o aumento da capacidade instalada em todo o mundo virá das renováveis.

A combinação de hidrelétricas, solares, eólicas e, mesmo marginalmente, geotérmicas é responsável por praticamente todo aumento na geração de energia elétrica durante esse último ano.

Estamos falando de um crescimento que veremos refletido em todos os tipos de instalações, e logo será a cada dia mais comum avistarmos nas estradas e estacionamentos de grandes centros comerciais, fazendas solares, e telhados de residências na medida que explodem as possibilidades de financiamento para micro gerações.

Neste momento, o mapa de geração de energia solar por país, mostra enorme liderança da China (254.355MW), comprometida em tornar-se neutra em emissões até 2060, seguida muito atrás dos Estados Unidos (75.572MW) e do Japão (67.000). Na Europa, Alemanha (53.783MW) lidera o ranking, seguida por Itália (21.600MW) e Espanha (14.089MW), o que no caso da liderança chinesa, mostra a importância das decisões estratégicas de Estado.

Precisamos sim, acelerar a transição da matriz energética, e a China vem liderando esse processo, por ter decisões de Estado. Nesse cenário, os países mais lentos em seu processo de descarbonização seriam os verdadeiros perdedores, mas aqueles que o estão realizando mais rapidamente se beneficiariam muito da maior produtividade e dos ativos liberados na transição para as renováveis. Tal transição exigirá medidas para evitar a criação de bolsões de pobreza em países dependentes do petróleo e a consequente instabilidade política.

Com usinas de carvão em ritmo de aposentadoria devido não apenas às suas emissões, mas principalmente devido aos seus altos custos, e com usinas nucleares convertidas em algo que só aqueles que vivem nelas justificam (altos custos de instalação, geração de resíduos, locais complicados além da elevada rejeição, e, acima de tudo, a crescente instabilidade climática e seus desastres naturais que tornam essa unidades umas verdadeiras bombas.

Realizar um excesso de capacidade instalada focado em energias cujo custo de produção é mais barato e sustentável, parece ser um caminho inevitável.

Em um panorama de evolução muito forte, a única coisa que faz sentido é não confiar a nós mesmos para continuar fazendo a mesma coisa que fizemos até agora, e apostar decisivamente e a longo prazo no que demonstra mais lógica do ponto de vista da evolução da tecnologia envolvida. Enquanto não realizarmos decisivamente a descarbonização da geração de energia, continuaremos a ter os mesmos problemas.

Um recente artigo publicado na Time, de Justin Worland, acentua a importância da transição energética acelerada no combate as mudanças climáticas. “Por um lado, as notícias abundam sobre a revolução da energia limpa, à medida que parques eólicos e painéis solares aparecem em comunidades em todo o mundo e as montadoras prometem se eletricar. Por outro lado, os cientistas continuam a alertar que os combustíveis fósseis colocaram o planeta e todos que vivem nele em um inevitável curso de colisão com a catástrofe.

Um novo relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) publicado quarta-feira explica a dinâmica em detalhes: o mundo começou uma mudança importante na forma como alimentamos a economia que tocará praticamente todos os cantos da sociedade humana, com o investimento em petróleo e gás desacelerando e gastando em energia limpa aumentando. Mas não está acontecendo rápido o suficiente para evitar níveis perigosos de aquecimento.

Talvez nada seja mais urgente do que a mensagem-chave do relatório de que os países precisam acelerar drasticamente seus esforços para reduzir as emissões para que o mundo tenha qualquer esperança de limitar o aumento da temperatura a 1,5°C, o nível em que os cientistas dizem que podemos esperar ver efeitos catastróficos generalizados das mudanças climáticas. As promessas atuais dos países de reduzir as emissões só reduzem a poluição de carbono em 20% do necessário para evitar atingir esse marcador, de acordo com a análise do relatório.

O relatório não oferece nenhuma solução para compensar a lacuna. A política climática pode muitas vezes acabar atolada em debates sobre temas controversos como captura de carbono e energia nuclear, mas o relatório destaca quatro áreas simples que abordariam o problema: eletrificação, eficiência energética, enfrentamento das emissões de metano e avanço da inovação. Para que tudo isso aconteça, o mundo precisa aumentar o investimento anual em energia limpa em cerca de US$ 4 trilhões até o final da década, de acordo com o relatório. “As finanças são o ingrediente que falta para acelerar”.

É importante destacar que o trabalho desse relatório, citado acima começou muito antes da crise energética que assola a Europa e a China e ameaça se espalhar pelo mundo. Contudo, o relatório adverte que a crise energética, que a AIE atribui ao aumento da demanda de energia em meio à recuperação econômica da pandemia, entre outras coisas, pode prever futuras crises energéticas que podem ocorrer se os governos não planejarem com cuidado.

No centro da preocupação da agência está um sub investimento em energia limpa. O investimento em petróleo e gás estagnou de forma consistente com a limitação do aquecimento a 1,5°C.  Ao mesmo tempo, os gastos com infraestrutura de energia limpa permanecem muito abaixo do que precisa ser, criando a possibilidade de volatilidade e interrupções no fornecimento, assim como o mundo enfrenta hoje.

As novas tecnologias aceleram a transformação digital, a crise dos chips, é apenas um exemplo da velocidade, tente imaginar o que deve ocorrer com a aceleração da eletrificação das frotas de automóveis nos próximos cinco anos?

Tente imaginar a entrada de inúmeros robôs em linha de produção nas indústrias e participando na prestação de serviços nas cidades, todos movidos a bateria que exigem recarga?

É preciso ampliar a flexibilidade na regulação para autoprodutores, para tornar esse mercado ainda mais atrativo para pequenos negócios.

No campo, pequenos produtores rurais podem ser significativos produtores de excedentes de energia solar e dessa forma poder verticalizar suas produções também, agregando valor a terra e retendo a mão de obra.

A sustentabilidade caminha de mãos dadas com as novas tecnologias e todos temos a nossa participação nesse processo.

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