EMBRAER E SEUS CARROS VOADORES NA BOLSA

Se em 2020, o primeiro ano da pandemia as ações de empresas de aviação derreteram puxando junto as ações dos fabricantes de aeronaves, como Embraer, e Boeing, esse ano de 2021, com a evolução de novos meios de transporte aéreo tem sido diferente para os fabricantes que estão mais próximos de surfar essa nova onda.

A brasileira Embraer que foi atingida pela pandemia e depois pelo desfazimento do seu negócio com a Boeing tem motivos de sobra pra acreditar em um futuro ainda melhor.

Reconhecidamente o Brasil possui duas grandes referências científicas, respeitadas no mundo, não sem razão ambas nasceram de um grande investimento público, Embrapa e Embraer. A primeira certamente é a base de todo desenvolvimento do agronegócio brasileiro que serve de referência de produtividade para o mundo, e permitiu em décadas que avanços que fazem do Brasil o maior player em 5 das maiores culturas e estar entre os cinco maiores produtores do mundo em 30 das principais culturas da cadeia alimentar.

Já a Embraer graças a política de investimento público, tanto em suas plantas industriais como na base educacional na formação de referências técnicas como o ITA e o Curso de Engenharia mecânica da UFSC isso para ficarmos apenas em duas instituições formadoras de mão de obra qualificada.

O resultado dessa escolha estratégica de décadas literalmente é colhido nos campos e visto aos olhos nus em aeroportos e céus do mundo inteiro.

Só para ficarmos no detalhamento de um exemplo nessa escolha de viés pelo ensino, ciência e tecnologia e na verticalidade dessa cadeia, o veículo elétrico de pouso e decolagem vertical(evtol) da Embraer, previsto apenas para 2026, já possui cerca de 1735 unidades encomendadas.

Mesmo antes de ter seu projeto de “carro voador” completamente desenvolvido, apenas o anúncio fez as ações da fabricante brasileira de aeronaves, que ainda passa por um momento delicado, subirem 190% na B3, a Bolsa paulista, no acumulado após a pandemia.

A Eve (braço da companhia brasileira criado para desenvolver o “carro voador”), também trabalha no desenvolvimento conjunto de um sistema de gestão de tráfego aéreo urbano e de operação de frotas. A ideia é que a parceria aumente a acessibilidade dos evtols, dado que as empresas poderão escalar as operações do veículo.

Uma parceria que deve levar a Eve a assumir a posição de líder global na indústria de mobilidade aérea urbana, apontando para sua abertura de capital na Bolsa Norte Americana.

Histórico de aprovação e de entrega da Embraer, faz toda diferença quando o assunto é credibilidade, afinal a empresa brasileira é a terceira maior fabricante do mundo, em paralelo a Embraer ainda trabalha no desenvolvimento de seu evtol em uma parceria com o aplicativo de transporte Uber, que pretende realizar voos os primeiros comerciais a partir de 2023, prazo que para muitos é considerado apertado.

Para se ter uma ideia da importância desse mercado, nesse momento existem cerca de 140 projetos de evtol no mundo, e a sua importância nas soluções de mobilidade, é de que esse veículo conseguiria realizar viagens por um custo menor do que de um helicóptero.

A mudança tecnológica mais significativa é que o evtol não precisará de pilotos e será elétrico, logo será silencioso e não poluente.

Com um investimento de cerca de US$ 300 milhões, os especialistas acham que o veículo entre em testes já em 2024 e em operação em 2025 ao custo de US$600 mil, bem menos que alguns helicópteros.

É claro que tem muitos desafios pela frente, entre eles os regulatórios, pois se trata de aeronaves autônomas voando sobre as nossas cabeças, atravessando áreas urbanas, além disso tem um desafio de infra estrutura, pois são necessários os vertiports (os locais de pouso de decolagem do veículo), que não podem ser em um prédio qualquer, devido as características desses equipamentos, logo os shopping centers, surgem como candidatos naturais pois é preciso uma estrutura de carregamento das baterias entre uma decolagem e outra, além das questões econômico e culturais.

O que fica evidente é que o mercado de capitais sempre olha com bons olhos quando uma empresa assume como referência em uma solução disruptiva, ou seja, em tempo de negacionistas a ciência é quem agrega valor ao seu negócio, que o diga Elon Musk com sua Tesla e suas viagens a marte.

Casos como o da Embraer evidenciam a necessidade do aperfeiçoamento jurídico dos nossos instrumentos de incentivo a inovação pelas empresas brasileiras, ainda muito falho, principalmente na retenção da mão de obra qualificada formada em nossas faculdades.

Mais mão de obra qualificada disponível, aliada a uma política de retenção desses novos talentos, que nesse momento correm para os aeroportos, é o que pode fazer a diferença nessa vasta indústria de transformação.

Para se ter a importância dessa subsidiária da Embraer, a Eve, que foi criada para desenvolver o chamado “carro voador”, deve começar a negociar suas ações na Bolsa de Nova York no segundo trimestre de 2022, resultado de um novo contrato de cooperação com a Zanite, sua nova sócia, onde está previsto que a empresa brasileira deve deter cerca de 82% de participação na Eve. No consórcio de empresas, que inclui ainda Bradesco BBI, Rolls-royce e BAE Systems, entre outras, a Embraer prevê aportar US$ 305 milhões. Outros US$ 237 milhões serão injetados pela Zanite Acquisition Corp., uma Spac (companhia que primeiro abre capital na Bolsa para, depois, buscar um projeto para investir) dos Estados Unidos. A companhia passará a se chamar Eve Holding e tem valor patrimonial de cerca de US$ 2,9 bilhões.

Esses aportes iniciais devem ser utilizados apenas no desenvolvimento e certificação do EVTOL, sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e decolagem vertical, como é chamada oficialmente a aeronave. Para a instalação de linhas de montagem, a companhia buscará outras fontes de financiamento.

Segundo o jornal Estadão, “a Embraer trabalha com um planejamento de que a Eve alcançará receitas de US$ 4,5 bilhões (R$ 25,7 bilhões na cotação atual) em 2030. No ano passado, toda a Embraer somou R$ 19,6 bilhões em receitas líquidas.

O faturamento previsto para o projeto do “carro voador” considera que a Eve terá 15% do mercado de EVTOLS. Pelas projeções, em 2040, apenas 14 anos após o EVTOL chegar ao mercado, a receita pode atingir US$ 18 bilhões.”

Apesar de a injeção de recursos prevista pela fusão com a Zanite ser significativa (US$ 542 milhões, no total), o montante é o segundo menor anunciado até agora por concorrentes. As americanas Joby e Archer, por exemplo, levantaram US$ 1,6 bilhão e US$ 1,1 bilhão no mercado, respectivamente. A alemã Lilium conseguiu US$ 830 milhões, e a britânica Vertical, US$ 394 milhões. Todos os recursos são de fusões com Spacs, mesmo modelo adotado por Embraer e Zanite.”

Todo caminho que está sendo trilhado deve levar essa empresa criada pela Embraer a um valor em cinco anos maior do que a sua própria criadora, isso apenas para se mensurar a fome do mercado por projetos que indiquem o futuro.

Os carros voadores além dos desafios tecnológicos enfrentarão novos desafios regulatórios, como a habilitação? Se serão autônomos? Onde e em que altura podem voar? Onde podem aterrissar? Quais tipos de viagens poderão fazer? Se transportarão pessoas ou mercadorias? Estamos diante de um universo de oportunidades para engenharia e para o direito.

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