EMBRAER DECOLA COM O CARRO VOADOR

Se é quase impossível para brasileira Embraer ser líder no mercado de aviões, o mesmo não se pode dizer do interessante mercado de carros voadores, onde apesar de muitas empresas novas estarem entregando bons projetos, quando se trata de aviação a experiência da brasileira pesa muito mais, afinal segurança faz toda diferença nesse setor.

Com corte de custos, e uma aposta cada dia maior no carro voador, os números da empresa na bolsa de valores podem dar uma dimensão do que o futuro espera.

Afinal se na aviação comercial as crises políticas e elevação de câmbio e combustível pesam na demanda, o mesmo não ocorre nesse novo mercado onde a empresa poderá ser líder.

Se em 2020, a empresa viveu uma verdadeira tormenta, onde a brasileira sofreu muito, seja assistindo à demanda do setor despencar no momento em que seus clientes estacionavam suas frotas em todo o mundo segundo os efeitos da pandemia, e que dois meses depois do seu início ainda culminou com a Boeing desistindo de comprar sua divisão de aviação comercial, o resultado para o sensível mercado de ações não poderia ser outro, com uma queda de 55% nas ações e um prejuízo de R$ 1,5 bilhão no ano.

Porém tal qual as velozes manobras dos tucanos da esquadrilha da fumaça, a empresa em 2021, ainda em meio à pandemia, e com desafios gigantescos, ela conseguiu registrar um lucro trimestral (entre abril e junho) o que não acontecia desde o mesmo período de 2018. Se isso não fosse suficiente, suas ações subiram 180% enquanto o Ibovespa caiu 12%.

Nesse momento de recuperação, possuir aviões de dimensões menores e mais econômicos tem feito a diferença, pois a aviação comercial no mundo foi liderada pelo mercado regional, de aviões com até 150, onde a empresa brasileira nada de braçada.

A retomada global da aviação comercial beneficiou não só esse segmento da Embraer, que hoje é responsável por um terço das receitas, mas também a divisão de serviços da empresa, já que a necessidade de companhias aéreas fazerem a manutenção de seus aviões aumentou. A área de serviço e suporte da Embraer é a que tem a maior margem de lucro e sua participação na geração de receita passou de 22,5%, em 2019, para 28,5%, nos nove primeiros meses de 2021, como destaca uma reportagem no Jornal Estadão.

Ao mesmo tempo a a área de aviação executiva tem tido um crescimento consolidado, sobretudo porque a Embraer acertou no portfólio de produtos, o que melhora consideravelmente a margem da empresa.

Coroando esse cenário, o eVTOL (sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e decolagem vertical, como é chamada oficialmente o “carro voador”) se tornou a grande aposta para o futuro da aviação, e a Embraer, umas das promessas na área. Em junho passado, quando foi confirmada a notícia de que a Eve (empresa da Embraer que desenvolve o projeto) faria uma fusão com a americana Zanite para abrir seu capital na Bolsa de Nova York, as ações da Embraer saltaram 15,6% em apenas um só dia.

Quando o assunto é EVTOLS, só na cidade de São Paulo a demanda seria de mais de 500 aparelhos nos próximos 15 anos, logo projete o tamanho desse mercado no mundo? Os veículos elétricos de decolagem e pouso vertical (EVTOLS, na sigla em inglês), também conhecidos como “carros voadores”, são um conceito ainda distante da população. No entanto, para a Eve, subsidiária da Embraer criada exclusivamente para esse fim, o negócio já é tratado como uma realidade.

Junto com o desenvolvimento do veículo existe um universo gigantesco de oportunidades no ecossistema desses aparelhos, veja por exemplo os pontos de aterrissagem, o redimensionamentos de edifícios, da comunicação, de áreas de estacionamentos e hangares nas cidades.

Na semana passada, a Eve formalizou um consórcio para desenvolver essas soluções em Miami, na Flórida. A ideia, é desenvolver um modelo que possa ser usado para além do universo da empresa. A startup vem utilizando uma ferramenta desenvolvida com o Massachusetts Institute of Technology (MIT) para modelar de forma detalhada qual seria a melhor malha para operação na cidade americana.

Quem já desceu em Miami, pode ter uma dimensão do seu tráfego aéreo, e pode também imaginar do futuro para empresa brasileira.

Apenas em Miami, chegou-se a 88 rotas e 32 ‘vertiportos’ (locais destinados à operação dos evtols).

Estima-se que (a cidade de) São Paulo tenha quase o dobro desse potencial de mercado.

A Eve está desenhando o EVTOL para caber nos helipontos atuais, mas com especificidades como estrutura de carregamento.

Há uma preocupação estratégica de que os “vertiportos” específicos precisam estar distribuídos nos melhores pontos das cidades, o que não acontece com os helipontos tradicionais.

Existem muitas razões para o helicóptero não ter um grande nível de penetração, como custos de combustível e manutenção, além do ruído, que limita a operação, logo imagine que um EVTOL pode custar um terço desse valor?

A listagem da Eve em Nova York vai ocorrer por meio de uma combinação de negócios com a Zanite – empresa de propósito específico de aquisição (Spac, na sigla em inglês) –, com valor implícito de US$ 2,4 bilhões. Após o IPO, a Embraer permanecerá como acionista majoritária. A estimativa de receita da Eve é de US$ 4,5 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões) em 2030. A carteira de pedidos atual é de 1.785 unidades.

Porém nem tudo é um mar de rosas, pois concorrentes da Eve que abriram capital em Nova York no ano passado, como Archer e Joby, tiveram quedas acentuadas de suas ações em meio às incertezas do mercado global, com o investidor buscando opções mais tradicionais.

Mobilidade, comodidade com preços “acessíveis” para uma outra classe de empresários, com a possibilidade de compartilhamento dessas aeronaves deve ser a chave desse sucesso, com inúmeras oportunidades para todo o ecossistema, e com um desafio regulatório do tamanho da oportunidade.

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