ELON MUSK, SUBSÍDIO E HIPOCRISIA

Via de regra as pessoas por hábito costumam entender, quando explicam suas conquistas e derrotas, que o sucesso é mérito seu, e os eventuais fracassos culpa de terceiros ou uma conjugação de astros, culpa do “Mercúrio retrógrado”, ou seja não faltam desculpas e culpados. Logo no último dia 11 de dezembro, o artigo de Fareed Zakaria, publicado no “Estadão”, chamando Elon Musk de hipócrita, merece destaque, pois vai ao encontro desse pensamento de parte dos empresários que atribui seu sucesso exclusivamente a sua genialidade e resiliência, e é claro seus fracassos ao governo, concorrentes, colaboradores, fatores meteorológicos etc.

É evidente que aqui no Brasil assim como nos EUA, seguimos atentamente, e em muitas das vezes com uma considerável idolatria (esse é o caso de Musk) as falas de pessoas que prosperaram no setor privado, uma paixão quase que sacerdotal, afinal o resultado financeiro dessas pessoas parece falar por si só.

Assim, no alto de suas fortunas alguns parecem o tempo todo, subir a montanha e proclamar os dez mandamentos em nova edição empresarial, e foi isso que Musk fez em dezembro, a respeito dos planos de gastos do presidente Joe Biden, destacou o artigo citado: “seria melhor, honestamente, que o pacote não seja aprovado”. Com um ar de abnegação, ele explicou que não quer nenhum subsídio para si mesmo ou sua principal empresa, a Tesla, nem para estações de carregamento de baterias nem para carros elétricos. “Estou literalmente dizendo: ‘Livrem-se de todos os subsídios’”, afirmou.”

Um fato pra lá de curioso para quem ergueu seus negócios com o olhar e gestos generosos do governo dos EUA e seus inúmeros subsídios concedidos aos negócios de Musk.

Par o autor essa declaração mais parece ser ressentimento, pois “a Tesla ultrapassou o limite para os créditos fiscais do governo destinados a veículos elétricos há muito tempo. O governo federal concede um crédito fiscal de US$ 7,5 mil na aquisição de veículos elétricos, mas o crédito é eliminado uma vez que o fabricante tenha vendido 200 mil veículos, um marco que a Tesla ultrapassou em 2018.”

No caso do novo subsídio de Biden, previsto no pacote, será concedido cerca de US$ 4,5 mil em créditos fiscais por carro se o fabricante usar trabalhadores sindicalizados(medida para salvar e resguardar empregos e direitos sociais), o que a Tesla não faz. Quanto às estações de carregamento de baterias, uma das principais vantagens da Tesla é que a empresa já possui e administra milhares delas. Os subsídios federais em infraestrutura aprovados recentemente erodiriam essa vantagem, simplesmente, ao financiar a construção de novas estações de carregamento de baterias para atender carros elétricos de qualquer marca, ou seja colocam os concorrentes em pé de igualdade pra competir, e quem disse que plataformas gostam de competir?

Como bem lembra o autor “é bizarro e irônico que Musk tenha se tornado um bilionário que tanto se opõe aos gastos do governo. Três dos empreendimentos de Musk Tesla, Spacex e Solarcity, provavelmente, não existiriam não fosse a ajuda do governo. Proprietários de carros Tesla, receberam por muitos anos generosos créditos fiscais e incentivos do governo federal e de muitos governos estaduais.

Em 2010, após uma recessão global, quando Tesla tinha uma fração do tamanho que tem agora, a empresa recebeu um empréstimo de US$ 465 milhões do Departamento de Energia, um estímulo desesperadamente necessário para sua sobrevivência. O Estado de Nevada concedeu à Tesla um pacote de incentivos fiscais de US$ 1,25 bilhão para que a empresa construísse lá sua fábrica de baterias.

A Solarcity beneficiou-se de todo tipo de subsídios e créditos fiscais que incentivam produção e instalação de painéis solares. E os maiores clientes da Spacex são agências do governo federal, como a Nasa e o Departamento de Defesa. Além disso, sua inovadora tentativa de prover serviço de internet via satélite, a Starlink, está recebendo centenas de milhões de dólares em financiamentos da Comissão Federal de Comunicações para ajudar que o sinal de banda larga alcance áreas remotas. A Spacex estima que o potencial lucro da Starlink poderá superar em 10 vezes o ramo de foguetes da empresa.

Musk defende-se, afirmando que é favorável ao fim de todos os subsídios por querer que subsídios aos setores de petróleo e gás natural também sejam eliminados. Subsídios para petróleo e gás natural deveriam ser removidos, mas eles não são, na realidade, tantos quanto as pessoas parecem estimar.”

Ou seja depois que sou gigante, quem disse que os concorrentes menores precisam de subsídios né?

É bom lembrar um estudo de 2018 da Agência de Informação de Energia constatou que, no ano fiscal de 2016, o setor de energia renovável recebeu quase a metade dos subsídios federais para energia, enquanto gerou cerca de um oitavo da energia produzida nos EUA, o que representa sim uma aposta como política de Estado, no fomento de energias renováveis, algo perfeito se entendermos que a energia verde é o futuro, ou os inúmeros desastres climáticos e dados não são suficiente para convencer os céticos? O que é evidente que nenhuma nova tecnologia se desenvolve sem subsídio, e a energia renovável não é diferente, é preciso consolidação de novas tecnologias com pesquisa e escala, e pra isso o preço precisa ser competitivo, sendo que com o tempo esses subsídios devem ser reduzidos.

Ao mesmo tempo “os comentários de Musk a respeito do déficit orçamentário também foram decepcionantes. Pareceram repetir uma sabedoria convencional sobre déficits de orçamento não comprovada pelas evidências. Ao longo dos últimos 30 anos, governos como dos EUA e do Japão foram capazes de administrar déficits massivos, apesar de as taxas de juros terem tendido a ser, em geral, baixas. Até as taxas de hoje continuam baixas, apesar do aumento na inflação. O mercado estaria percebendo algo além de nosso entendimento?

Gastos em infraestrutura são essenciais, e realmente não há nenhum argumento sério contra isso quando o custo de pegar emprestado com o governo federal é essencialmente zero. Musk admitiu que os EUA precisam melhorar aeroportos, rodovias e precisam de mecanismos melhores para diminuir o tráfego nas cidades. Mas ele pareceu relutante em relação aos investimentos que enfrentariam esses problemas.

O investimento do governo federal em energia verde é muito similar ao promovido na década de 50 em relação a chips de computador pagar mais por uma tecnologia para que seu preço possa posteriormente baixar e torná-la acessível a todos.

Remete aos investimentos que o governo fez nos anos 60 para desenvolver a Arpanet, a primeira versão tosca da internet, e, posteriormente, o Sistema de Posicionamento Global (GPS). Essas políticas, a propósito, criaram a infraestrutura que possibilitou a operação de empresas como Paypal, a fonte original dos bilhões de Elon Musk.”

Ou seja Musk como muitos entende que seu sucesso depende só dele, e que todos os subsídios recebidos por ele e suas empresas é uma obrigação do governo e política fiscal boa é apenas aquele que beneficia as suas empresas se e somente se ela precisa e na hora que precisa, no típico eu olha apenas para o meu umbigo.

De fato a visão turva de muitos, se repete lá e aqui e em muitos lugares do mundo, no típico se está bom pra mim como pode estra mal para os outros?

A história econômica do mundo é repleta de políticas de incentivos, renúncias fiscais necessárias, sem as quais setores não existiriam e eles são necessários.

Tente imaginar a indústria do petróleo, que emprega milhões de pessoas no Brasil sem incentivos? E aqui não discuto o seu necessário compromisso ambiental, mas apenas o viés de empregos, desenvolvimento tecnológico e ganho fiscal com o tempo.

A política de renúncia fiscal deve sempre levar em conta a importância estratégica do segmento, a geração de empregos e o impacto social.

Empresários como Elon Musk, são fundamentais sim, por sua genialidade sim, por sua resiliência sim, mas sobretudo por sua responsabilidade com a sociedade, a mesma que aplaude seu sucesso e reponde com a elevação das suas ações na bolsa.

Musk, foi e continua sendo beneficiado pela renúncia fiscal, pela qualidade dos seus produtos, mas também por uma complexa estruturação financeira, muitas vezes questionável.

O papel que a empresa desempenha nas flutuações do mercado de ações é ainda maior do que sua avaliação de US$ 1,1 trilhão sugere.

O rali das ações da Tesla elevou o valor de mercado global da montadora de carros elétricos de Elon Musk para mais de US$ 1,1 trilhão (€970 bilhões), tornando-a uma das empresas mais valiosas do mundo, só em 2021, adicionou quase US$ 475 bilhões em capitalização de mercado, o que equivale a um Procter & Gamble, um JPMorgan ou dois McDonald’s.

No entanto, a real importância e a pegada maior do que poderia ser chamado de “complexo financeiro da Tesla” superam em muito a capitalização de mercado da empresa. Isso se deve a uma vasta e emaranhada rede de veículos de investimento dependentes e emuladores corporativos, e um enorme mercado de derivativos associados de amplitude, profundidade e hiperatividade sem precedentes.

A combinação desses fatores significa que a influência da Tesla na flutuação do mercado de ações é muito maior do que seu tamanho poderia implicar. Segundo alguns analistas, seu impacto pode ser incomparável na história.

O CEO da Tesla, Elon Musk, tem desde 8 de novembro uma participação de 8,5% na empresa, no valor total de US$15bilhões.

Recentemente, vendeu mais de 14,4 milhões de ações (1,43% das ações totais em circulação da Tesla) do total de 170,5 milhões de ações que possuía. Anteriormente, Musk reteve cerca de 17% do capital da empresa, agora esse número foi reduzido para 15,5%.

Musk comentou em uma entrevista na semana passada que já havia se livrado de ações “suficientes” e, mais tarde, esclareceu em sua conta no Twitter que ele está “quase pronto” cortando sua participação na Tesla.

Assim, em um último lote, eliminou 934.091 ações da empresa no valor de mais de US$928 milhões, de acordo com documentos da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) consultados pela Europa Press e publicado em diversos jornais.

Essas operações vêm depois que os seguidores de Elon Musk votaram a favor da venda de 10% de sua participação, avaliada em cerca de US$ 21bilhões, em uma pesquisa no Twitter organizada pelo próprio CEO da empresa.

Líderes como Musk são fundamentais na história da humanidade, mas isso não quer dizer que não erram, ou que não sejam muitas das vezes hipócritas.

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