Se você é um profissional do Direito, de que maneira você pode acompanhar e participar da “Transformação Digital”? Afinal que trem é esse?
Você sabe como será o seu emprego em 5 anos? Como estará o seu escritório e as empresas dos seus clientes com seus produtos e serviços em 5 anos? Certo você é servidor público e isso não lhe importa, bem então imagine se em 5 anos a arrecadação do estado não fosse suficiente para garantir o seu salário ou a sua aposentadoria?
Exato a transformação digital atinge a todos em menor ou maior grau, hoje ou amanhã, afinal já pensou o que fabricam hoje as antigas fábricas de mimeógrafos, sim aqueles equipamentos que rodavam nossas provas e exercício com cheiro de álcool? Será que estão abertas? E os cursos de datilografias? Os cursos de digitador?
Nesse momento de transformação, Facebook, Amazon, Microsoft, Google e Apple juntas desembolsaram US$ 12,4 bilhões em aquisições em 2020, segundo levantamento da CB Insights. Boa parte das compras tem a ver com adaptação de seus sistemas e operações às novas exigências dos usuários e à antecipação de tendências sobre o que deve fazer parte do comportamento do consumidor pós-pandemia, ou seja aquisições para fortalecer ainda mais a liderança dessas bigtechs, indicando que essa tendência vai se manter, nesse “novo normal” as plataformas digitais serão ainda mais soberanas, ainda que tenham malucos para perderem tempo com as suas teorias da conspiração.
Novas profissões, novas empresas em uma nova economia, redesenhadas de forma acelerada por uma pandemia mundial.
As novas empresas com trabalhadores em casa e com menos níveis gerenciais, você deve estar pensando naquela repartição pública e suas inúmeras divisões e chefias né?
Pense nas empresas e não são poucas que nesse instante desperdiçam a oportunidade de se redesenhar, empenhadas em não aproveitar a oportunidade da pandemia para fazer mudanças na forma como trabalham, contra aquelas que consideram entender as mudanças no contexto para buscar modelos organizacionais mais adequados.
Um artigo de Brian Elliott, publicado na Harvard Business Review, intitulado “É hora de libertar o gerente do meio”, no qual ele fala que a pandemia está nos permitindo ver como, à medida que a força de trabalho se torna mais distribuída e mais assíncrona, o papel tradicional dos gerentes médios, o de supervisionar o desempenho individual daqueles sob seu comando, torna-se cada vez mais desnecessário e redundante. O resultado dessas mudanças para uma cultura de trabalho distribuída é que muitas organizações se achatarão, ao mesmo tempo em que se tornarão significativamente mais produtivas, como exemplo pense o Uber, quantos níveis hierárquicos o motorista da plataforma conhece?
Sem dúvida, como destaca Henrique Dans, essa lógica é avassaladora: o uso da tecnologia como forma de melhorar a eficiência da coordenação. Uma organização que trabalha de forma distribuída, independentemente de alguns ou todos os seus trabalhadores podem ir a um determinado local físico com uma frequência relativa, força o desenvolvimento de meios e rotinas de coordenação que possibilitem uma gestão mais eficaz, que não precisa se concentrar tanto na vigilância e na microgestão, mas na tentativa de coordenar talentos.
Brian Chesky, co-fundador e CEO do Airbnb, embora seu interesse óbvio seja o oposto: viagens de negócios nunca serão o que era antes da pandemia. Muitas pessoas que foram praticamente obrigadas a viver em um avião foram capazes de ver por muitos meses que, na realidade, a coordenação e supervisão que eles realizaram como parte de suas responsabilidades podem ser feitas perfeitamente bem no modo distribuído e através de ferramentas de coordenação síncronas e assíncronas. Isso pode não levar à eliminação de tais viagens, mas leva a reduções muito significativas em sua frequência, logo investir no curto e médio prazo em hotéis não será um bom negócio, pois o turismo de negócios vai mudar.
E quanto a mão de obra, o seu preparo para o mercado de trabalho e o do seu filho? Bem é certo que viveremos uma crise de talentos: muitos analistas do mercado norte-americano esperam que milhões de trabalhadores mudem de empresa após o fim da pandemia.
Quantos estarão dispostos a voltar aos seus escritórios depois da pandemia e depois das inúmeras horas que ganharam ao trabalharem em suas casas?
Quantos pedirão demissão em busca de outro trabalho que o permita ficar em casa?
Surgem sim, novas gestões, mais flexíveis em empresas que foram capazes de se adaptar bem ao trabalho distribuído, que estão perfeitamente dispostos a incorporar trabalhadores nesse formato, e incorporar talentos sem se preocupar muito, exceto às vezes por razões operacionais de horário, de onde no mundo eles estão.
O mercado nem sempre aguarda você se adaptar, pois é um redesenho de ocupações, funções e com isso toa a estrutura que cerca essas relações.
Tente imaginar o que acompanha o redor da produtividade trazida pela popularização do home office. A Microsoft se movimenta para ampliar o escopo de suas soluções em computação em nuvem, indicando para onde vai, o Facebook e Apple foram os menos ativos, em suas aquisições, mas ainda assim evoluíram nas aquisições de empresas de tecnologias de atendimento inteligente e chatbots, tecnologias de geolocalização para melhorar a tropicalização do Facebook Marketplace, e sistemas de reconhecimento de voz para dar mais corpo à Siri, ou seja querem atender mais, vender mais e de forma mais precisa, e isso vai impactar ainda mais o seu pequeno comércio e a tributação que cerca ele, logo atinge diretamente a arrecadação do estado que paga o seu salário, se você é servidor e continua pensando que isso não lhe atinge.
Sem dúvida que as aquisições das cinco principais gigantes de tech têm a nos mostrar mais do que seus números robustos, mas a direção que vão desenhar o nosso futuro, para o bem ou para o mal, dependendo de como reagimos. Isso implica para elas em colocar as necessidades dos consumidores no centro de suas prioridades. Essas são lições que toda e qualquer empresa pode absorver: observar os movimentos de seus clientes e entender como podem atender ou se antecipar a essas necessidades. Sua empresa está preparada? Você está preparado? Essa novas tecnologias estão contempladas nos diplomas legais já existentes? Como será ou é regrado o metaverso?
Isso lembra o que na mitologia Grega, ganhou o nome de Cornucópia, um símbolo que representa a fertilidade e a abundância. É uma espécie de fonte natural que fornece gratuitamente e ilimitadamente todos os bens necessários às expectativas humanas. Algo próximo do paraíso.
Logo a cornucópia faz parte dos sonhos dos hiper otimistas que acreditam que o crescimento econômico pode ocorrer de maneira infinita e sem restrições do meio ambiente, e claro sempre imaginando que as questões ambientais são tratadas com exagero pela mídia “comunista”.
Cornucópia era representada por um vaso em forma de chifre, com uma enorme abundância de frutas e flores transbordando em torno dele. Na era moderna, a Cornucópia é representada pela mistificação da racionalidade humana e da tecnologia, a tecnologia que tudo movimenta, e que cria facilidades para todos e novos impérios.
Os autores Peter Diamandis e Steven Kotler, no livro “Abundance – The Future Is Better Than You Think” (Abundância – o futuro é melhor do que você pensa), de 2012, tratam a tecnologia como uma Panacéia capaz de fazer brotar a abundância, manter o crescimento exponencial e democratizar o bem estar. Para eles, um guerreiro Masai, do Quênia, dispõe hoje em dia de mais informação, pelo Google, ou pelo celular, do que o presidente dos Estados Unidos há 15 anos, curioso, nunca tivemos tanta informação e nunca se viu tanta ignorância.
No livro Abundance, os autores consideram que todas as pessoas do mundo teriam acesso aos direitos básicos de alimentação, energia de baixo custo e mínimo impacto ambiental. Todos os seres humanos viveriam em democracias plenas, graças a 3 vetores de forças: 1) devido a filantropia e ao crescimento de doações generosas dos chamados tecnofilantropos multibilionários que estão investindo em inovação?e transparência, com foco global; 2) devido ao empreendedorimo schumpeteriano de indivíduos e pequenos grupos capazes de brincar com genética e desenvolver engenhocas no fundo do quintal, disponibilizando suas descobertas na world web; 3) devido ao crescimento da classe média mundial que estaria incorporando as pessoas extremamente pobres e famintas (cerca de 1 bilhão de habitantes do mundo que estão em situação de insegurança alimentar e ganham menos de US$ 1,25 por dia) ampliando o universo de riqueza potencial, devido, principalmente, à tecnologia.
De acordo com a mitologia grega, a cabra Amaltea criou com seu leite um Zeus forçado a esconder de seu feroz pai, Cronus. Quando criança, e enquanto brincava com um de seus raios, Zeus inadvertidamente quebrou um dos chifres de Amaltea, e para compensá-la, ele conferiu ao chifre quebrado o poder de que quem a possuísse seria concedido tudo o que ele poderia precisar ou desejar. É daí que veio a lenda da cornucópia.
O desenvolvimento tecnológico e a inovação são suscetíveis a gerar uma espécie de chifre de abundância como o representado na Abundância de Rubens, capaz de atender a todas as nossas necessidades terrenas? Abundancia e Cura para todos os males.
O significado de Panaceia está associado com a Mitologia Grega, sendo o nome de uma das filhas de Asclépios, o deus da Medicina e filho de Apolo. Panaceia é aquela que consegue curar qualquer tipo de doença, irmã de Higéia, que significa “sã, em bom estado de saúde”. Hoje em dia, panaceia denomina algum medicamento que tem a capacidade de cura de qualquer forma de doença. Panaceia universal é uma expressão que designa uma medicação que é muito procurada por alquimistas, pois eles creem que ela pode mesmo curar todas as enfermidades.
Logo gerar novos postos de trabalho, considerando o a crise como fomentadora de mão de obra barata, quando um engenheiro desempregado pela crise econômica passa a ser seu motorista está longe de ser uma solução, é apenas um arremedo do desemprego em que uma plataforma digital transformou em negócio.
E isso são os aplicativos de transporte de pessoas como Uber e 99, milhões de pessoas sem emprego que possuem um patrimônio (carro) adquirido em outros trabalhos e que resolvem usar esse ativo e o seu tempo para trabalharem enquanto estão desempregadas, na esperança cada dia mais remota de uma nova recolocação.
Novas tecnologias melhoram sim a vida das pessoas, mas é fundamental que elas possam andar com políticas de acesso a todos e que as autoridades saibam que a concentração na mão de poucas plataformas colocam em risco toda economia. E ai reside uma importância significativa do Direito já existente, manter a livre concorrência e combater a concentração por uma ou duas plataformas.
Não importa se você acredita na abundância de Cornucópia ou na cura de todos os males de Panacéia, a tecnologia é apenas ferramenta, sem políticas claras e marcos legais bem definidos, seus direitos serão usurpados pela lógica do mercado, onde a concentração gera mais e mais concentrações, e onde as plataformas viram hubs tecnológicos que tudo querem fazer, desde que seja rentável é claro e se possível, pouco concorrido.
Você e seus colegas de trabalho estão preparados?