CRIPTOMOEDAS, GOVERNOS POPULISTAS E A CONFIANÇA NAS MOEDAS

Certamente o ano de 2021 pode ser considerado o boom das criptomoedas, ao mesmo tempo ficou evidenciado os riscos desses ativos assim como os malefícios que governos populares podem causar as economias. O compliance e a confiança nas moedas em tempos de economias cada dia mais digitais tornou-se o grande desafio.

No final de 2021 o mundo acompanhou o derretimento da lira Turca, desencadeado pelas declarações incendiárias de seu presidente bombástico e populista, Erdogan, em que defendeu os cortes de juros e fez uma declaração de “guerra econômica de independência”, no típico populismo que acredita que o mundo é uma ilha, se esquecendo que vive em uma economia globalizada onde o capital não aceita desaforo.

A lira turca, que em 2017 foi alterada para cerca de US $ 3,30, tinha caído para US $ 8,28 no início de setembro, e chegou a US$13,50, o que condena oitenta e cinco milhões de turcos a viver com uma moeda que já caiu 45% até agora este ano, com uma inflação de cerca de 50% em 2021.

O derretimento dessas moedas tem levado muita gente para as criptomoedas como refúgio, com todos os riscos que criptoativos podem proporcionar.

Porém na Turquia o mesmo Erdogan deu início a uma cruzada contra as criptomoedas, proibindo seu uso como meio de pagamento, o que causou o fechamento de dois serviços locais de câmbio de criptomoedas, Thodex, cujo fundador acabou fugindo para Albânia com a economia de 400 mil clientes, e a Vebitcoin com duzentos mil clientes, que anunciou em abril passado o fim de suas operações devido às tensões financeiras causadas pelos anúncios do presidente.

Assim a perseguição às criptomoedas resultou, na ruína de um número considerável de turcos que decidiram confiar a gestão de suas carteiras a essas instituições locais. Mas as leis turcas proíbem o uso de criptomoedas como meio de pagamento, mas não como um ativo financeiro, e a eficácia de tais leis, além disso, é geralmente bastante escassa, o que está levando a um verdadeiro boom de bitcoin, como porto seguro.

Do outro lado do mundo, El Salvador aproveita as flutuações negativas do bitcoin para comprar mais, e anuncia o financiamento de escolas com os lucros obtidos e planeja construir uma “cidade do bitcoin” com energia geotérmica obtida de seus vulcões.

O que cada vez mais pode estar dando o tom da importância das criptomoedas diante de governos populistas. Tente fazer um paralelo com o Brasil. Se você que tinha R$ 100.000,00 aplicados no dia 01 de janeiro de 2019 e desconfiou que o governo administrado por um “mito” poderia fazer com as suas economias, e resolveu investir em bitcoin, parabéns nesse momento o seu dinheiro já convertido está valendo R$1.685.000,00 ou seja em três anos você se tornou um milionário.

Mas se você que foi pra rua, vestiu verde amarelo, fez dancinha, colocou a bandeira na janela, bateu panela, e gritava “mito” e manteve o seu dinheiro na poupança acreditando que agora o Brasil vai, parabéns nesse momento você tem R$ 109.638,00 ou seja nos últimos três anos você ganhou 9,63%. Porém se você fez como o nosso ministro da economia Paulo Guedes, que confiou na moeda americana e manteve seus investimentos em dólares no exterior para pagar menos impostos no Brasil e gerar emprego lá fora você nesse instante teria um ganho de 43% e logo seu dinheiro teria virado R$143.000,00.

O fato é que em tempos de economia digital o capital segue a sua lógica e procura segurança sem arroubos, delírios, e busca locais onde seus governantes consigam transmitir o mínimo de confiança, nem precisa ser brilhante, afinal com 210 milhões de pessoas o Brasil sempre será um dos 10 maiores mercados do mundo em qualquer que seja o produto ou serviço, claro que sempre com muito por disputar os novos investimentos.

Tirante o malefício que as moedas sofrem com os governos populistas, o mundo caminho de forma acelerada para o uso, no primeiro instante como alternativa, de criptomoedas. Os retornos espetaculares obtidos desencadearam a demanda entre uma gama cada vez mais ampla de investidores. Não surpreende que, em 2021, sete das 25 maiores moedas digitais excedam a barreira de aumento anual de 1.000%. 

Mas o investimento em criptomoedas está associado a múltiplos riscos, como reiterado pelas entidades fiscalizadas e pelos próprios analistas. Essas ameaças não se limitam apenas àqueles derivados de sua extrema volatilidade, e a possibilidade de sofrer quedas fortes, como está acontecendo nos últimos meses, com um colapso de 40% do bitcoin em apenas dois meses. Entre os riscos que planejam investir no universo cripto estão questões de segurança.

O aumento das criptomoedas intensifica o risco de golpes. De acordo com dados da Comissão Federal de Comércio dos EUA, entre outubro de 2020 e maio de 2021, os americanos perderam cerca de US$ 80 milhões, cerca de 71 milhões de euros. Esse número é maior no Reino Unido, com perdas nos primeiros nove meses de 2021 estimadas em cerca de 146 milhões de libras, 175 milhões de euros.

A falta de regulamentação, ao contrário dos mercados tradicionais de investimento, o ritmo vertiginoso de subidas, o interesse da mídia e as fraudes nas mídias sociais são alguns dos fatores que contribuem para o aumento dos golpes no universo cripto, como destacou um recente estudo da empresa de cibersegurança Eset, que foi publicado no jornal econômico espanhol Expansion, listando os sete principais golpes:

1. Esquema Ponzi

O chamado Esquema Ponzi é uma das fraudes de investimento mais clássicas, e é baseado em um sistema no qual os golpistas conseguem pagar os retornos prometidos graças ao dinheiro fornecido pelos investidores que são adicionados, criando uma roda que continua a funcionar até que o dinheiro pare de entrar. Inegavelmente as criptomoedas são ideais para isso, já que os golpistas estão sempre inventando novas tecnologias de ponta para atrair investidores e gerar maiores lucros virtuais. Neste caso tem a adição de que “falsificar os dados é fácil quando a moeda é virtual.

2. Afundando e Saindo

Outra das formas clássicas de fraude, na qual o fraudador infla o preço de um ativo antes de retirar o investimento com lucros notáveis.

No domínio do universo cripto, os golpistas incentivam os investidores a comprarem ações de empresas de criptomoedas pouco conhecidas, com base em informações falsas. Posteriormente, o preço das ações sobe e o golpista vende suas próprias ações, fazendo um bom lucro e deixando a vítima com ações inúteis.

3. Opiniões falsas de celebridades

Os mais entusiasmados com criptomoedas têm suas próprias referências ao avaliar seus investimentos no universo das moedas digitais. As opiniões de pessoas de grande influência, como Elon Musk, passaram a provocar em inúmeras ocasiões oscilações abruptas nos preços de criptomoedas como bitcoin e dogecoin. A influência de Musk, já foi aqui retratada em outros artigos.

Esse poder de influência também é usado por golpistas para espalhar falsas opiniões de pessoas famosas inclusive com o uso de fake news, muitas das vezes se passando por celebridades ou criando contas falsas para incentivar seus seguidores a investir em planos igualmente falsos.

4. Trocas falsas

Nesse tipo de fraude, os golpistas “enviam e-mails ou postam mensagens nas mídias sociais prometendo acesso ao dinheiro virtual armazenado em exchanges de criptomoedas”. Para isso, o usuário é obrigado a “pagar uma taxa primeiro”, de modo que o resultado final é que “a troca não existe e o dinheiro se perde para sempre”.

5. Aplicativos falsos

O modo de ação neste tipo de fraude é baseado na falsificação de aplicativos legítimos de criptomoedas. Uma vez que eles estão disponíveis nos serviços habituais de download, a instalação de um desses aplicativos pode “roubar dados pessoais e financeiros ou implantar malware em dispositivos”.

Em outros casos, aplicativos falsos que tentam passar por um legítimo “podem enganar os usuários a pagar por serviços inexistentes ou tentar roubar os logins de sua carteira de criptomoedas”.

6. Falsos comunicados de imprensa

Uma variante da estratégia “infla e afunda” é recorrer à publicação de comunicados de imprensa falsos. Especialistas da empresa Eset citam dois exemplos em que os golpistas espalham histórias falsas sobre grandes investidores que se preparam para aceitar certas criptomoedas. Como explica a empresa de segurança cibernética, “os falsos comunicados de imprensa nos quais essas histórias foram baseadas eram parte de esquemas de bomba e despejo projetados para tornar as apostas dos golpistas nas criptomoedas acima mencionadas mais valiosas”.

7. Phishing

Uma das fraudes mais comuns com novas tecnologias é outra das formas mais recorrentes entre os golpistas no universo cripto. Através de e-mails, mensagens de texto e mídias sociais são falsificados para parecer ser enviados por uma fonte legítima e confiável.” A maneira de materializar o ‘roubo’ é a falsificação dessa fonte legítima, como um provedor de cartão, um banco ou uma administração oficial, para solicitar o pagamento de uma quantia em criptomoedas através de mensagens que incitam uma resposta rápida. Com a resposta rápida a vítima acaba dando seus dados que posteriormente são utilizados pelos golpistas.

No universo digital, onde tudo é líquido e veloz o compliance assume papel relevante, e ao mesmo tempo é imprescindível o papel de homens públicos que saibam dosar suas intervenções nas mídias sociais, sabendo distinguir o palanque eleitoral da condução econômica de um país.

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