CELULARES QUE NOS FAZEM DE ZUMBIS?

Em frente a toda beleza do mar, ele permanece catatônico diante da tela do celular, seus filhos imprudentemente avançam sob as ondas do mar e ele permanece assim, absorto diante da tela do seu aparelho. Não olha o mar, os filhos, a esposa, tudo parece perder sentido e necessidade diante de um apurado design de tela onde o mundo de carne e osso parece ser tão distante, e o sorriso fácil para magnânima tela parece ser uma catarse.

Mude de lugar, saia da praia, veja no restaurante, na sal da sua casa, no encontro de amigos ou no jantar de família, nada parece perturbar a paz da zumbilândia diante das suas telas e seus designs milimetricamente estudados para prender a sua atenção.

Mas afinal os celulares estão afetando as nossas habilidades intelectuais? Estamos virando zumbis?

Essa reflexão faz parte de muita roda de debate, seja nos meios acadêmicos ou no grupo de amigos, pois um dos mitos mais difundidos sobre a adoção tecnológica, seria que o uso de nossos dispositivos nos leva a perder certas habilidades e funções cerebrais, o que já adianto é falso.

Em um artigo recente, no The Conversationm, ” Seu celular não está lhe deixando menos inteligente? Muito pelo contrário, as pesquisas mostram que a tecnologia digital fornece evidências de como a tecnologia nos leva a perder habilidades cognitivas, mas se torna um complemento para eles que nos permite aumentar nossas capacidades.

De fato, podemos lembrar de muito menos números de telefone agora que sabemos que a tecnologia que carregamos em nossos bolsos em todas, e para e as horas atende a essa necessidade para nós, mas nossa capacidade de memorizar números de telefone não foi perdida: simplesmente liberamos essa funcionalidade cerebral porque estimamos que ela está razoavelmente coberta, e assim obtemos recursos de atenção que podemos dedicar a outras tarefas. Por mais que Sócrates ou Platão expressassem sua preocupação com a crescente onipresença da escrita em seu tempo, por sua capacidade de nos fazer parar de recorrer à memória e substituí-la por repositórios externos, a realidade é que, ao longo da história, o uso da escrita não nos fez mais esquecidos ou mais tolos, mas tem sido limitado a complementar nossas habilidades graças ao fato de ser capaz de recorrer a ela.

Na prática, o que a tecnologia faz é reduzir a necessidade de usar certas funções cognitivas, mas não nossa capacidade de realizá-las. Nossos cérebros não “se tornam preguiçosos” porque têm um recurso adicional para armazenar informações, eles simplesmente tomam a decisão de otimizar suas capacidades.

A introdução da tecnologia, portanto, altera nosso ambiente e muda nossas funções cognitivas para que elas se adaptem adequadamente e sejam otimizadas nela, mas não destrói nada: ela simplesmente realiza uma funcionalidade de descarga cognitiva que libera recursos para outras tarefas cerebrais.

Qual o tempo que diariamente, celulares, tablets, computadores e outros gadgets vem prendendo a sua atenção? E qual o limite do saudável?

Até que ponto a sua atenção dispensada decorre da necessidade ou de uma estratégia de marketing neural detalhadamente desenvolvida?

É preciso desconectar, para recuperar o tempo perdido? Isso afeta a saúde são todas questões que demandam muitas páginas para sua resposta, mas que de forma genérica quero aqui tratar do que chamamos de minimalismo digital.

A desconexão digital é evidentemente um dos grandes resultados a que muitos chamam de minimalismo digital, ou seja, a maneira que diminua a presença da vida digital no dia a dia.

No livro Minimalismo Digital, de Cal Newport ele lembra se de um importante artigo de 2010, publicado no American Journal of Thought, onde se conclui que cada vez mais as evidências sugerem que os vícios comportamentais se assemelham aos vícios químicos em muitas esferas. O artigo aponta o jogo patológico e o vício em internet como dois exemplos precisos desses distúrbios.

Ë claro, que se você não sabe distinguir entre olhar a tela e olhar o seu filho de forma imprudente no mar, a culpa não é do celular mas da sua forma de ver a vida e de estabelecer o que realmente importa.

Como todo e qualquer uso em demasia ele pode sim ser prejudicial, mas no caso do inadequado uso social, ele é mais ainda prejudicial a construção de uma relação saudáveis entre pais e filhos, marido e mulher ou entre colegas de trabalho.

Quando a Associação de Psiquiatras norte americana publicou a sua quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, feito em 2013, incluiu pela primeira vez a dependência comportamental como uma patologia diagnosticada. Isso claro, nos leva de volta ao autor que depois de revisar os principais títulos da literatura psicológica e entrevistar inúmeras pessoas influentes no mundo da tecnologia, percebeu que dois fatores ficavam evidenciados. Primeiro, as novas tecnologias são desenvolvidas com ênfase a promover vícios comportamentais ligados à tecnologia, que tendem a ser moderados em comparação com as fortes dependências químicas causadas por drogas e cigarro. Não à toa que as pessoas costumam dizer que o celular é a nova nicotina.

Logo, lança-se um desafio: Se eu forçar você a sair do Facebook é provável que você não sofra sintomas muito graves de abstinência ou saia escondido para ir até uma lan house e poder logar no seu perfil. Por outro lado, esses vícios ainda são bastantes prejudiciais ao seu bem estar. Você pode não sair de casa para acessar o Facebook, mas se o aplicativo estiver a apenas um toque de distância no smartphone no seu bolso, um vício comportamental moderado dificultará muito mais para você resistir às famosas e constantes espiadas na sua conta.

Durante seu dia a dia verifique hoje o Facebook, que traz dispositivos que permitem controlar o uso, uma inovação dos últimos anos para o Facebook justamente para fazer sua mea culpa de quem oferta uma arquitetura viciante.

O Facebook é feito tem uma arquitetura estudada para que as pessoas passem o maior tempo possível. E assim funciona com todas as redes sociais, elas precisam que você fique muito tempo, quanto mais tempo e quanto mais participação e interação nessa rede social, mais dados ela vai poder ter e com isso identificar seus hábitos e construir e ofertar produtos que melhor caibam no seu bolso ou gosto.

Logo, acima desses estudos, surge um grande questionamento: Até que ponto nós devemos ou conseguimos ter uma vida saudável diante de todos esses celulares?

Olhe seus filhos andando pela casa com os olhos fixos nas telas e tente imaginar se é diferente nos outros lugares como rua, pátios de escola e em breve ao volante.

O permanente hábito criou uma relação quase que orgânica entre nós e esses dispositivos, que a cada dia, tristemente, parece ser a extensão dos nossos corpos e assim, eles invadem todos os ambientes da casa ao trabalho e caminham velozmente para se transformar em um problema de saúde pública.

E assim a tecnologia parece ter criado um fosso entre os que a dominam a mídia social com todos os seus recursos e os que não dominam (os novos excluídos), nessa nova ditadura das redes.

Na tentativa de se comunicarem os indivíduos contemporâneos buscam freneticamente satisfação, mas que não represente um aprisionamento, afinal, não se pode ter a certeza da escolha correta.

Com o tempo, mudaram as nossas fotos, a forma de contar a nossa história e a forma de vermos o tempo, a métrica do tempo continua sendo a mesma, afinal após 60 segundos chegamos a um minuto, mas a angústia da era digital faz com que a nossa relação com ele seja de absurda escravidão, logo cobramos tudo bem mais rápido e ficamos impacientes uns com os outros.

Os celulares passaram a se portar como um vício, logo, é fundamental fazer uma faxina digital. Por isso que é cada vez mais presente o movimento pela desconexão.

Comece por limpar a tela do seu celular dos aplicativos que você não usa, anote no lado qual foi a última vez que você utilizou cada um desses aplicativos, é bem fácil limitar horários para entrar no celular, o que pode deixar você com muito mais tempo para coisas importantes na vida como olhar para a mulher amada, abraçar um filho, caminhar com esse filho e aproveitar as boas coisas que a vida nos oferece mesmo que em tempos de pandemia.

Se você não sabe a importância de estar atento as pessoas ao seu lado, não são elas que ficaram desinteressantes, é você que desaprendeu a valorar o que de fato é importante nessa vida pra lá de passageira.

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