No dia de ontem, a gigante tecnológica Apple, atingiu um novo marco financeiro ao ter registrado na Bolsa, momentaneamente, uma valorização de mais de três trilhões de dólares, tornando-se assim a única empresa no mundo a atingir esse nível, isso em menos de seis meses(19 de agosto de 2020) após ter atingido o valor de US$ 2 trilhões.
Para termos a exata dimensão desse valor, isso representa mais do que o dobro de todo PIB do Brasil, antes da Apple, apenas a companhia petrolífera estatal saudita Aramco havia conseguido brevemente alcançar uma avaliação de US$ 2 trilhões em 12 de dezembro de 2019, um dia após seu IPO, embora não tenha conseguido manter esse valor depois.
Ao alcançar US$ 3 trilhões, a Apple triplicou o seu de valor em pouco mais de três anos, depois que a empresa atingiu pela primeira vez um trilhão de dólares de capitalização em 2 de agosto de 2018, tornando-se a primeira empresa em mais de uma década a alcançá-la, depois que a PetroChina alcançou uma capitalização de treze dígitos após sua estreia na Bolsa de Valores de Xangai em novembro de 2007.
As ações da Apple acumularam uma reavaliação de quase 40% nos últimos doze meses, liquidadas acima de US$ 180 por ação. Em janeiro de 2007, depois de anunciar o lançamento do iPhone, um marco na sua história, as ações da Apple estavam sendo negociadas abaixo de US$ 9, lembrando que a companhia de Cupertino estreou na bolsa em 12 de dezembro de 1980 a um preço de US$ 22 por ação, e no dia de ontem chegou ao valor de US$182,88.
As demais bigtechs nesse momento estão valendo respectivamente: a Microsoft tem cerca de 2,5 trilhões de dólares em valor na Bolsa de Valores, enquanto a Alphabet (Google) está perto de se juntar ao “clube” dos dois trilhões, registrando uma avaliação de 1,93 trilhão (1,70 trilhão de euros), a Amazon tem valor de 1,73 trilhão de dólares, seguida pela Tesla, com 1,19 trilhão e pela Meta (Facebook), com pouco mais de 941.000 milhões de dólares.
No mesmo dia que a Apple atingia seu maior valor, seis anos depois de mudar seu sistema operacional para Android, do Google, a Blackberry resolveu abandonar de vez seu software próprio, logo os modelos de celulares que ainda resistiam, compatíveis com Blackberry 7.1 OS ou anteriores, vão deixar de funcionar.
O encerramento do software da empresa também vai afetar os aparelhos com Android: algumas ferramentas nativas, como o acesso ao gerenciador de senhas e serviços de mensagem com PIN.
Esses dois acontecimentos ocorrendo de forma.
Se entendermos de forma menor rigorosa, que um smartphone seria a junção de um telefone com um computador, a invenção dele poderia ser atribuída a Nikola Tesla, que em 1909, desenvolveu o primeiro conceito de combinação de telefonia com computação.
Mas os primeiros assistentes pessoais, também chamados de PDAs, eram portáteis e com função de processamento de dados, e começaram a aparecer em 1984 com o Psion Organiser. No entanto o primeiro celular com PDA, foi surgir apenas em 1992, um aparelho desenvolvido pela IBM e recebeu o nome de Simon, esse primeiro celular já continha tela de toque e conseguia acessar os e-mails, sendo que o termo smartphone só foi usado pela primeira vez em 1997 pela Ericsson.
Esses aparelhos eram inicialmente de uso de executivos, e sua popularização só veio no final da década de 90, com a entrada do Palm OS e BlackBerry OS, sendo que a Blackberry lançou seu primeiro smartphone em 2002, foram cinco anos de liderança e referência em matéria de qualidade.
Até que em uma terça feira, no dia 9 de janeiro de 2007, com as luzes do auditório apagadas, Steve Jobs subiu, silenciosamente, no palco do Moscone Center, em São Francisco, com uma luz branca o acompanhando, e no fundo uma tela gigante projetava o símbolo da Apple que na época ainda se chamava Apple Computers Inc.
Trajando sua roupa tradicional, para essas apresentações ele começou a falar: “Por dois anos e meio eu estive esperando por este dia”. E continuou: “De vez em quando, surge um aparelho que revoluciona tudo.” E ele segui fazendo a narrativa dos sucessos lançados por sua empresa” Um por um com uma plateia enlouquecida.
O interessante é que a Apple em cada lançamento nunca se preocupou se o novo produto poderia matar o anterior, ela queria ser apenas a referência do que existia de melhor e de estar na frente dos demais, lembre-se que ao lançar o iphone ela estava colocando um produto no mercado que matava o seu iPod, o tocador de música que ela mesma havia lançado em 2001, mudando a forma das pessoa de escutarem música, e foi certamente o primeiro aparelho móvel de comunicação a aliar conforto, praticidade, estilo e comodidade. Se você for no museu de arte moderna em NYC vai encontrar o primeiro iPod como exemplo de design revolucionário.
Com design revolucionário o iPhone virou o objeto de desejo quando o assunto era smartphone e logo acelerou a decadência da líder BlackBerry, se o segundo era a junção de um computador ao celular o segundo era completamente diferente.
Primeiro por um design revolucionária que abolia o teclado, segundo pelo reduzido número de botões, apenas um botão na frente do aparelho.
Mais uma aposta na mudança cultural acompanhada de muita tecnologia pra se digitar em uma tela touch.
Porém havia algo ainda maior, o conceito de plataforma, a junção de produto e serviços, e assim foi que a Apple foi batendo recordes de valores na bolsa, por compreender e realizar com perfeição o conceito de plataforma.
Se por longos 5 anos, isso é uma eternidade em tecnologia, a empresa canadense surfou na liderança, com a chegada do iPhone essa história mudou.
O mercado demorou a reagir a Apple Store tratou de completar o sucesso da empresa de Cupertino, com o maior número de aplicativos disponíveis para um celular, ou seja com o tempo o smartphone serviria pra absolutamente tudo, até fazer uma ligação. Não era apenas um produto mas um conceito da nova economia vertida na tela de um celular, e as suas evoluções foram mudando inúmeros negócios, mudou-se a forma de comprar e ouvir música, a forma de ver vídeos, de participar de reuniões, o celular como plataforma é um ambiente adaptável para quase tudo, e logo tudo precisava ser vertido em aplicativo.
A queda do BlackBerry, esta umbilicalmente ligada aquela terça, 9 de janeiro de 2007, ao subir no palco ao som de “I feel good” interpretada por James Brown estava sendo criada uma nova época na história, o que para muitos como Walter Longo, poderia ser chamado de início da “Idade Mídia”.
Desde essa data, smartphones deixaram de ser privilégios de executivos e passaram a fazer parte da rotina de todos nós em maior ou menor grau.
Com uma loja aberta, autorizando todos a desenvolverem aplicações para o seu celular, Steve Jobs, tornou seu aparelho o com o maior número de aplicativos disponíveis e essa foi mais uma chave para o sucesso e explosão do valor da Apple.
Lançada em Julio de 2008, a Apple Store, surgia no mercado com cerca de 500 aplicações, algo inigualável para os concorrentes que optaram por outros sistemas, o que permanece até hoje.
Design revolucionário, tela touch, um maior número de funcionalidades através dos aplicativos, era tarde demais para toda indústria, e o que leva a Apple então a esse valor?
Seria uma bolha uma empresa valer mais do que a economia da maioria dos países?
Mais recentemente a Apple decidiu substituir os microprocessadores da Intel usados em computadores Mac, para processadores próprios, o que pode dar uma dimensão da força e poderio das Big Techs, que em tempos de pandemia percebem seus valores de mercado crescerem enquanto a economia do mundo derrete, mais um tema para os adoradores das “teorias da conspiração”. “Será que as Big Techs não fizeram uma parceria com a China para desenvolver o vírus?” Afinal em tempos de pandemia, loucura pouca é bobagem.
O que a decisão da Apple faz é dar a direção que as maiores empresas de tecnologia estão tomando ao expandir suas habilidades e reduzir sua dependência dos principais parceiros, como a emblemática Intel.
A diversificação estratégica tem dado o tom, como no caso do Facebook, investindo bilhões de dólares em um dos aplicativos de crescimento mais rápido da Indonésia, também em um gigante das telecomunicações na Índia e em um cabo de fibra ótica submarina na África.
De igual forma a Amazon construiu sua própria frota de aviões de carga e caminhões de entrega e é óbvio que a produção será terceirizada, afinal, cada macaco no seu galho e neste caso será a Taiwan Semiconductor Manufacturing, utilizada como facção pela Apple para criar componentes projetados para iPhones e iPads.
No curto prazo o impacto financeiro dessa mudança no balanço da Intel será pequeno. A Intel vende à Apple cerca de US$ 3,4 bilhões em chips a cada ano e isso representa menos de 5% das vendas anuais da Intel, porém, pode indicar um caminho e um questionamento: Como transformar a Apple em concorrente? Parece ser um filme já visto.
A precificação das ações dos gigantes de tecnologia e a maneira que se movimentam como grandes oligopólios trazem inúmeras preocupações aos reguladores de mercado.
É preciso entender seu fenômeno e alcançar pela tributação, que seja justa sem retirar a competitividade, mas é fundamental que possamos ter espaço para novos players neste mercado antes que o oligopólio seja a regra.
Criar limites legais é um grande desafio e logo fico imaginando lá do céu, se é que ele existe, Steve Jobs olhando a Terra, que ele sabe que é redonda, com um leve sorriso pensando: “E daí?”.