O Direito a mobilidade, é antes de mais nada um Direito à saúde, e é óbvio que o trânsito nas médias e grandes cidades, além de piorar as condições do ar contribui para milhares de horas que todos nós ficamos presos dentro de carros nas cidades do mundo. É um tempo jogado fora que nunca recuperamos. Por isso se viu com bons olhos quando em março passado a cidade de Londres tentou melhorar a mobilidade dos seus trabalhadores em seu sistema nacional de saúde, fazendo uma proposta muito interessante para eles: emprestar-lhes bicicletas elétricas. Se considerarmos a dificuldade de se andar de carro em Londres, pode-se ter a dimensão da iniciativa, afinal andar de bicicleta elétrica em muitas cidades britânicas e mundo afora é significativamente mais rápido do que fazê-lo de carro, e que, além disso, quanto mais pessoas optarem por essa opção, mais mobilidade como um todo melhora, ou seja uma ação na micro mobilidade produz resultados fantásticos.
O fato é que a pandemia causada pela COVID-19 está se mostrando uma oportunidade muito interessante para remodelar a mobilidade nas cidades, e nesse momento em torno de projetos focados em bicicletas elétricas: posicionados como uma alternativa ao transporte público em um momento em que tenta manter a distância social, alguns relatos colocam a bicicleta elétrica e também os patinetes como a alternativa ideal para o futuro do transporte urbano.
Os inúmeros aplicativos de compartilhamento de bikes e patinetes, apesar das derrapagens com inúmeros equívocos em seus projetos iniciais devem voltar com toda força durante a pandemia. Alguns desses programas, já incluídos em aplicativos de mobilidade como Google Maps ou CityMapper, fizeram com que o uso de bikes e patinetes nas grandes cidades venha crescendo em média, como meio de transporte em cerca de 20% ao ano, empurradas pelo crescimento também da infraestrutura necessária de ciclovias.
Paris pode ser hoje uma das maiores referências, produzindo o case interessante pelos acertos e erros. Mas a redução dos congestionamentos estatisticamente notada é a melhor das respostas a esse caminho sem volta.
Nossas cidades foram construídas colocando o carro na preferência dos espaços, e logo as obras de infraestrutura quase sempre são pensadas em onde e como colocarmos mais carros, como resultados as cidades a cada dia, sistematicamente envenenam seus habitantes com mais e mais poluição, e com mais e mais perda de qualidade de vida nas milhares de horas que passamos trancados em veículos em um tempo pouco ou quase nada produtivo.
As recentes experiências de bikes e patinetes compartilhados precisam ser repensadas, eles não podem simplesmente serem jogados nas nossas calçadas, é preciso estabelecer pontos de estacionamento, e a responsabilização dos seus condutores, ou seja termos regras mínimas de segurança e para evitar novas vítimas.
A livre iniciativa sem o mínimo de controle é selvageria, e com controle em demasia é a morte do negócio. É preciso encontrar um meio termo que produza como resultado um desenvolvimento saudável para as pessoas e para o negócio.
