BIG TECH, VITAIS COMO A ÁGUA E O AR?

A volatilidade das ações das BIG TECH, deu o tom nesse primeiro trimestre do ano, e logo surgem muitas análises sobre se estamos diante do fim de uma bolha, ou se elas não tem tanta importância assim no novo mundo.

Primeiramente creio que pintar essas cinco grandes empresas de tecnologia como exemplo de um novo diabo na economia digital é por demais exagerado, elas apenas jogam com as regras do jogo, ainda que por muitas vezes parecem crer que podem fazer suas próprias regras.

E esse é o maior dos problemas, grandes corporações influenciam sim na produção de novas normas, desde desenhar incentivos fiscais para elas até excluir da incidência dos tributos muitas das suas atividades. Elas sempre lidam com a lentidão da política jurídica na produção de novas normas e ao mesmo tempo apostam no desconhecimento naquilo que está registrado como patentes dos seus algoritmos.

Ao mesmo tempo que não devemos pintar de lucífer as Big Tech também não podemos acreditar que sejam elas Moisés e os seus 10 mandamentos, onde só podem ser aqueles os mandamentos e eles não podem ser 9 ou 11. Os românticos do universo tecnológico tem sempre uma paixão pelas inovações sem se questionar sobre o preço delas e isso vale também para políticos sejam eles do executivo ou do legislativo, os atos sempre tem uma natureza vinculante, seja de um grupo econômico beneficiado ou de uma determinada região, o conjunto do executivo e do legislativo sempre presta conta aos seus eleitores, porém no universo corporativo da tecnologia o foco é sempre o resultado financeiro onde o mercado é o patrão, um patrão exigente, impaciente e que pune com quedas vertiginosas qualquer possibilidade de redução do lucro futuro projetado.

Logo nesse mercado volátil das ações não existe espaço para sentimentos, mas sim foco no resultado para exercícios futuros, e no caso das startups uma paciência cada vez menor com empresas que prometem mas não entregam.

A concentração tem sido a face mais ardilosa no universo corporativo digital, e pode testar essa concentração de uma forma bem simples:

Tente bloquear os serviços das big tech e suas controladas por apenas um mês

Veja o caso do WhatsApp e seus 120 milhões de usuários no Brasil, e que depois da pandemia passou a ser uma ferramenta de negócios para milhões de pequenos e grandes negócios, o mesmo valendo para o Facebook, e o Instagram, que tem nesses serviços a ferramenta para falar com seus clientes, fazer e receber pedidos.

Nesse momento, fico tentando imaginar qual o substituto você tem para o Facebook e para o Google, que tenham alguma relevância. Para que tenhamos a exata medida da sua importância, faça um teste e tente bloquear os serviços das big techs e suas controladas por apenas um mês. Faça o bloqueio da Amazon, Facebook, Google, Apple e Microsoft ao longo de 30 dias.

Vamos começar pela Amazon e o Google. Na Amazon veja todos os sites hospedados pela Amazon Web Services, maior provedora de espaço na nuvem da internet, só lembrando que eles possuem o controle de hospedagem da maioria dos sites no Brasil, logo não seria apenas boicotar a Amazon, mas seus serviços de hospedagem, pois muitos aplicativos e boa parte da internet usam os servidores da Amazon para hospedar seu conteúdo digital, e dessa maneira, uma parte muito grande do seu mundo digital vai se tornar inalcançável.

Quanto ao seu serviço de filmes, lembre-se de desligar o Amazon Prime Video e ficar com o Netflix. Quanto as suas compras, é bom lembrar que no caso da Amazon que detém mais de 50% de todas as vendas por internet nos EUA, pense o que representaria, para os milhões de fornecedores que fazem suas vendas no marketplace da Amazon.

Ao bloquear o Google, o primeiro resultado é que a internet inteira deve ficar mais lenta, afinal quase todos os sites que você visita utilizam ele como fonte para rodas os comerciais, lembre-se Facebook e Google possuem cerca de 22% de toda publicidade digital, logo, veja também onde seus dados são armazenados, caso seja o Dropbox ao bloquear o Google, há o risco de você perder o acesso, pois o site pode pensar que você não é uma pessoa de verdade. Uber e Lyft devem parar de funcionar para você, pois, ambos dependem do Google Maps para navegação.

Descobri que, na prática, o Google Maps exerce um monopólio no segmento dos mapas online. Visto isso, concluímos que esses dois hoje são aqui na américa os provedores da infraestrutura da internet, de tão misturadas que são às arquiteturas do mundo digital, que até mesmo suas concorrentes acabavam dependendo desses dois barões.

Quanto ao Facebook, lembre-se que ele é dono das suas redes sociais (Facebook, Instagram e WhatsApp), logo, registre como será voltar a fazer ligações via sua conta telefônica de celular ou fixo e como saber das novidades dos seus grupos, de amigos, trabalho e ou família?

Google passou a ser uma plataforma gigante de publicidade/Arquivo/Divulgação

Usei apenas esses poucos exemplos como ponto de partida, nem precisei me aprofundar, mas entenda que quando elas não te prestam seus serviços diretamente, acabam sendo a fornecedora de quem te presta serviço, ou seja, elas são onipresentes. É preciso repensar a concentração excessiva desse mercado, urgentemente.

Tudo isso amplia a importância da reviravolta que começou na União Europeia, que segundo os Estados Unidos na época se limitava a assediar empresas americanas porque não era capaz de criar seus próprios campeões locais, mas que agora é realizada pelo próprio governo de Joe Biden com crescentes ofensivas contra o poder e influência no mercado de empresas como o Google, Facebook, Apple ou Amazon; e que agora também é acompanhada pela China, engajada em uma cruzada para colocar suas grandes empresas de tecnologia na cintura. Hoje todos esses blocos de governantes perceberam a importância de se fazer algo com esse pleno domínio das plataformas.

Estamos vendo o índice tecnológico em seus momentos de correção, coincidindo com o medo de aumento das taxas e em meio à temporada de resultados trimestrais.

Enquanto a Microsoft conseguiu superar as previsões dos analistas, a Alphabet (Google) surpreendeu com uma queda de lucro de 8%. Os investidores temem que o Federal Reserve aperte as taxas de juros mais rápido do que o esperado. Na verdade, há alguns dias, o presidente do Fed, Jerome Powell, reconheceu que tudo leva a pensar em um aumento de meio ponto na reunião da próxima semana. Isso em um momento em que os dados de inflação, com o preço da energia em altas de todos os tempos, sugerem uma desaceleração nos resultados das empresas. Os problemas da China que contêm a pandemia, com novas restrições e bloqueios, poderiam adicionar mais pressão ao descompasso na cadeia de suprimentos.

A correção iniciada em janeiro deste ano já foi estendida para o segundo trimestre.   Desde então, o S&P 500 caiu cerca de 12%. Mas o Nasdaq, índice que agrupa empresas de tecnologia, acumula uma queda de 20%.   Empresas em crescimento, como empresas de tecnologia, são especialmente sensíveis ao aumento das taxas

Durante a pandemia, as empresas de tecnologia tornaram-se um porto seguro, a ponto de o Nasdaq protagonizar uma rápida recuperação em meio à crise de saúde, subindo 87,4% a partir de março de 2020, quando os primeiros bloqueios foram decretados, até o final daquele ano.   Precisamente, as empresas que então protagonizaram o comício foram empresas que se beneficiaram de pessoas que tiveram que ficar em casa, como Netflix, Peloton ou Amazon.

Mas os resultados trimestrais agora mostram outro lado: a Netflix caiu 35% há uma semana depois de reconhecer que havia perdido 200.000 assinantes. Desde então, cedeu mais 15% de seu valor na bolsa de valores.

No último mês, a Alphabet caiu cerca de 19%, com um declínio particularmente acentuado esta semana, para 8%, depois de anunciar que seu lucro havia caído exatamente a mesma porcentagem.

Embora a tecnologia seja a face mais visível da correção, em Wall Street é generalizada. O índice Russell 2000, que se refere a empresas de capital pequeno, e serve como referência para muitos gestores de fundos, fechou esta semana em seu nível mais baixo desde dezembro de 2020, até agora este ano, se depreciou em mais de 16%.

Apple, Amazon, Microsoft, Google e Meta retardam o crescimento da receita e reduzem o lucro líquido adicionado pelo ambiente econômico desfavorável e pela moderação do consumo digital.

A receita agregada desses cinco gigantes digitais aumentou 12%, para US$ 359 bilhões (€ 341,5 bilhões), um aumento modesto em comparação com o crescimento de 44% do primeiro trimestre de 2021. A curva de aumento do lucro operacional também desacelera para 2%, para US$ 82,63 bilhões, enquanto o lucro líquido combinado contraiu 17%, para US$ 61,795 bilhões, ponderado pelas perdas da Amazon e pela queda do lucro líquido do Google e da Meta.

Amazon e Apple estão lidando com problemas na cadeia de suprimentos e inflação, enquanto Google e Meta estão sofrendo os efeitos da contenção de gastos de anúncios on-line devido à incerteza econômica decorrente da guerra na Ucrânia. A Microsoft merece uma menção especial, que continua se beneficiando da forte adoção do consumo de tecnologia corporativa na nuvem.

A Apple continua se beneficiando do ciclo de renovação móvel, embora as vendas do iPhone tenham um aumento de 5%, abaixo dos trimestres anteriores. Destaca-se também a sólida demanda por computadores, que se traduz em um aumento de 15% nos Macs, e a força de seu negócio de serviços, onde já tem 825 milhões de assinantes, e que cresceu 17%, para 19.821 milhões. O iPad, no entanto, cai 2% e cadeia seu segundo trimestre em negativo, pois a Apple continua priorizando componentes para o iPhone.

A Alphabet, controladora do Google, fecha o capítulo do forte crescimento de 2021, quando se beneficiou do aumento dos gastos com publicidade online.

A Meta registrou seu crescimento trimestral mais lento da receita desde que se tornou pública há uma década, atingida pelo impacto negativo em seu negócio de publicidade das mudanças de privacidade da Apple, desafiando o ambiente econômico e a concorrência do TikTok. O dono do Facebook ganhou US$ 27,9 bilhões, um aumento de 7%. É a primeira vez em sua história com crescimento de um dígito com lucro líquido de 7,465 milhões de dólares, 21% menos, seu segundo trimestre consecutivo com queda no lucro. Os dados positivos foram que reverteu a perda de usuários do Facebook.

A Microsoft, por outro lado, confirma a força de seu modelo de negócio, que se beneficia dos processos acelerados de digitalização empresarial. A gigante norte-americana de software dissipa dúvidas sobre o possível corte nos gastos tecnológicos das organizações devido à situação macroeconômica adversa e prevê que crescerá a dois dígitos no ano fiscal que começa em julho.

A adoção na computação em nuvem, que acelerou durante a pandemia, continua sendo um motor de crescimento para Amazon, Microsoft e Google. Enquanto as vendas online da Amazon caíram 3%, a receita de sua divisão de computação em nuvem AWS subiu 37.

Todo esse movimento se traduz em aumento das receitas sim, ainda que de forma moderada, e logo enquanto o mundo derrete as Big Tech continuam crescendo, muito distantes do restante da economia, literalmente em um universo paralelo.

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