AS BIG TECHS, SÃO OS NOVOS BARÕES EM JULGAMENTO

No mês em que as ações da Apple atingiram recorde, ultrapassando o valor da petrolífera Saudi Aramco como a companhia de capital aberto mais valiosa do mundo, com valor superior ao PIB de muitas das maiores economias do mundo, chegando ao impressionante valor de US$ 1,762 trilhão em plena pandemia, a Apple registrou no trimestre um aumento em sua receita de 11% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Esses números e a concentração do mercado pelas Big Techs, coloca essas empresas na posição de novos barões da economia mundial e logo, os diretores executivos de Amazon, Facebook, Google e Apple foram convocados perante uma comissão parlamentar de combate ao trust nos EUA, para responder quanto ao seu poder excessivo e de que maneira isso prejudica o consumidor.
Em que pese o cuidado que as lideranças de tecnologia, presentes na audiência via videoconferência, tiveram com as perguntas que os definiram como “barões cibernéticos”, dizendo que enfrentam bastante concorrência e alegando que os consumidores têm alternativas para os serviços que suas empresas oferecem. Fico tentando imaginar qual o substituto você tem para o Facebook e para o Google, que tenham alguma relevância. Para que tenhamos a exata medida da sua importância, faça um teste e tente bloquear os serviços das Big techs e suas controladas por apenas um mês. Faça o bloqueio da Amazon, Facebook, Google, Apple e Microsoft ao longo de 30 dias
Vamos começar pela Amazon e o Google. Na Amazon veja todos os sites hospedados pela Amazon Web Services, maior provedora de espaço na nuvem da internet, só lembrando que eles possuem o controle de hospedagem da maioria dos sites no Brasil, logo não seria apenas boicotar a Amazon, mas seus serviços de hospedagem, pois muitos aplicativos e boa parte da internet usam os servidores da Amazon para hospedar seu conteúdo digital, e dessa maneira, uma parte muito grande do seu mundo digital vai se tornar inalcançável.
Quanto ao seu serviço de filmes, lembre-se de desligar o Amazon Prime Video e ficar com o Netflix.
Quanto as suas compras, é bom lembrar que no caso da Amazon que detém mais de 50% de todas as vendas por internet nos EUA, logo, tente imaginar o que representaria, para os milhões de fornecedores que fazem suas vendas no marketplace da Amazon.
Ao bloquear o Google, o primeiro resultado é que a internet inteira deve ficar mais lenta, afinal quase todos os sites que você visita utilizam ele como fonte para rodas os comerciais, lembre-se Facebook e Google possuem cerca de 22% de toda publicidade digital, logo, veja também onde seus dados são armazenados, caso seja o Dropbox ao bloquear o Google, há o risco de você perder o acesso, pois o site pode pensar que você não é uma pessoa de verdade. Uber e Lyft devem parar de funcionar para você, pois, ambos dependem do Google Maps para navegação.
Descobri que, na prática, o Google Maps exerce um monopólio no segmento dos mapas online. Visto isso, concluímos que esses dois hoje são aqui na américa os provedores da infraestrutura da internet, de tão misturadas que são às arquiteturas do mundo digital, que até mesmo suas concorrentes acabavam dependendo desses dois barões.
Quanto ao Facebook, lembre-se que ele é dono das suas redes sociais (Facebook, Instagram e WhatsApp), logo, registre como será voltar a fazer ligações via sua conta telefônica de celular ou fixo e como saber das novidades dos seus grupos, de amigos, trabalho e ou família?
Usei apenas esses poucos exemplos como ponto de partida, nem precisei me aprofundar, mas entenda que quando elas não te prestam seus serviços diretamente, acabam sendo a fornecedora de quem te presta serviço, ou seja, elas são onipresentes.
O valor dessas empresas cresce de acordo com a importância e participação delas na economia, o que só aumentou em plena pandemia. Se em janeiro Apple, Amazon, Alphabet (dona do Google), Microsoft e Facebook valiam, juntas, cinco trilhões de dólares, hoje podemos com apenas quatro delas manter esse mesmo valor.
Como já publiquei em outro artigo, esse valor é três vezes maior que o PIB brasileiro. Veja nesse momento apenas o PIB da China e dos Estados Unidos superam a casa dos US$ 5 trilhões. E o que essas empresas produzem? O que fabricam em suas próprias fábricas que não seja terceirizado, ficando encarregada “apenas” pelo conhecimento, o valor principal, o ativo intangível.
Os dados, leia-se a informação organizada e utilizada de forma inteligente, são o “novo petróleo” e isso representa uma enorme reviravolta do mercado global, tornando essas empresas os novos barões.
A mudança do capitalismo, com essa concentração de negócios e de dados representa um desafio para o Direito Regulatório, evitar e estabelecer limites ao exercício dessa concentração é uma obrigação
O Intangível é o senhor da nova economia, pois, de meados do século 20 para cá, o capitalismo passa por uma estonteante mutação. As mercadorias corpóreas (coisas úteis) ficaram em segundo plano, enquanto a fabricação industrial de signos assumiu o centro da geração de valor. Nesse momento o capital trabalha para o desejo, não mais para a necessidade, e as informações criam e modulam os desejos, fabricando e ajustando demandas.
Na sessão virtual da Câmara dos Deputados dos EUA, que durou cerca de 6 horas, os presidentes de Amazon, Google, Apple e Facebook tiveram de responder a perguntas sobre concorrência desleal, aquisições, uso de dados de clientes e até de hidroxicloroquina, o que é de se esperar em tempos de pandemia, mas é bom lembrar que todos querem nesse instante de transformação da economia mundial, novos diabos, ou novos barões, principalmente onde a unanimidade é no sentido de que ninguém entre eles é puro ou ingênuo e sabem muito bem qual o seu papel na nova economia.
A investigação já dura 13 meses e milhões de documentos, tudo para colocar pequenos freios nos novos barões, que certamente vão lembrar aos novos deputados, que a escolha este entre eles e a China e sua política para economia digital.
Uma escolha nada fácil, considerando o exercício democrático do oriente.

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