ALGORITMOS ESCOLHENDO OS AMIGOS DOS NOSSOS FILHOS?

Nesse momento nove em cada dez crianças brasileiras possuem perfis nas redes sociais, o que é bem fácil de se notar quando olhamos as crianças grudas em seus celulares sobre efeito magnético, seja nas ruas, nos pontos de ônibus ou caminhando dentro das nossas casas.

Por vezes eu tento imaginar se existe vida fora das telas dos celulares? Que mundo é esse onde os celulares parecem ter virado o centro da atenção de crianças e adultos? Diante do mar, diante dos nossos amados, não importa quem e nem onde, temos uma geração de zumbis diante das telas dos celulares.

A pesquisa TIC Kids Online, divulgado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, e feita com cerca de 2,6 mil crianças e adolescentes mostra como essa faixa etária está muito conectada, e cada vez mais cedo. Do grupo entre 9 e 10 anos, 92% já estavam conectados à internet em 2021, ante taxa de 79% identificados em 2019, ou seja são crianças ainda mais conectadas com apenas dois anos de diferença na amostra, o que poderia ser identificado pelo efeito TikTok que coloca crianças ainda mais jovens grudadas nas telas.

Segundo a pesquisa, o WhatsApp (80%), o Instagram (62%) e o TikTok (58%) são as redes sociais mais utilizadas pelos jovens de 9 a 17 anos. O TikTok já superou Instagram e Facebook na faixa até 14 anos; já entre adolescentes dos 15 aos 17 anos, o Instagram ainda fica bem à frente do TikTok (52%, ante 21%).

Cerca de 88% dos usuários de internet do grupo entre 9 e 17 anos têm perfis em redes sociais, o uso das plataformas (78%) é a terceira atividade mais comum realizada por eles na internet: atrás de assistir a vídeos, filmes ou séries (84%) e enviar mensagens instantâneas (79%). Em seguida, vêm as pesquisas para atividades escolares (71%), ou seja, brilhar nas redes sociais parece ser menos importante do que nas redes sociais, que mundo é esse?

Ao mesmo tempo os jogos online nas mais diversas plataformas representam (66%), esse percentual aumentou 9% desde 2019, ou seja, na sociedade da desatenção, as redes sociais, e os jogos on line aumentam exponencialmente a disputa do nosso tempo.

Outro ponto interessante da pesquisa, apontou que as crianças e adolescentes de 11 a 17 anos entrevistados pelo estudo, 32% afirmaram ter usado a internet para buscar ajuda para lidar com algo ruim que vivenciaram ou conversar sobre suas emoções. A internet também foi usada para buscar informações sobre alimentação saudável e dietas (55%); sintomas, prevenção e tratamento de doenças (38%); exercícios e dicas para entrar em forma (36%) e para pesquisar ou discutir sexualidade, o que indica um bom uso, o problema é o tempo dedicado para cada uma dessas atividades.

Todo esse tempo das crianças e adolescentes implica na intervenção nada saudável dos seus algoritmos que influenciam na escolha de amigos, onde os famosinhos ganham destaque na disputa da lógica da atenção.

O algoritmo é um sistema de computador encarregado de organizar e filtrar conteúdo. Cada rede social tem a sua própria. Seguindo nosso comportamento no Twitter, por exemplo, o aplicativo sabe quais publicações mais nos interessam, com quais usuários costumamos interagir e de quais pontos geográficos lançamos mais publicações. Com isso, a rede social pode detalhar um perfil de cada usuário e nos mostrar, sempre, o que acha que mais vamos gostar. Os algoritmos também decidem quais anúncios vemos durante a navegação, com base em nossos interesses, nas redes sociais se os nossos “amigos digitais estão curtindo as publicações de A ou B, automaticamente os algoritmos colocam no nosso feed de notícias as mesmas publicações, e logo aqueles amigos que pouco ou nada publicam vão desaparecendo, como se estivessem se distanciando de nós, criando

Agora, há algo que mudou no último ano, e isso explica bem por que a publicidade está perdendo algum objetivo. Cada aplicativo tem seu próprio algoritmo, dissemos. Mas, até agora, isso também foi alimentado por dados cruzados com outras redes sociais. Instagram, Facebook e WhatsApp pertencem à Meta, o grande conglomerado dirigido por Mark Zuckerberg. Tudo o que fazemos em cada uma dessas redes alimenta os outros. Ao mesmo tempo, os aplicativos geralmente compram nossos dados de outras empresas para aperfeiçoar seus filtros. Uma única pesquisa no Google pode acabar no algoritmo de outras plataformas, mesmo que sejam da concorrência.

Há um ano, nosso e o dos nossos filhos nos espionam um pouco menos do que antes. Os iPhones mais recentes, lançados no outono de 2021, permitem que os clientes bloqueiem o rastreamento em aplicativos (você pode ouvir a frase “peça ao aplicativo para não rastejar”). E o que isso significa? Que as redes sociais continuarão acumulando dados sobre nosso comportamento, mas não compartilharão entre si. Pela primeira vez, os algoritmos são nutridos apenas pelo que acontece no aplicativo que estamos usando, mas não pelo que fazemos com os outros. O que acontece no Twitter, por exemplo, fica no Twitter.

Dessa forma mesmo que o Google descubra que estou em um sítio, essa informação permanecerá trancada no Google e não chegará ao Facebook, então essa rede social não vai me mostrar anúncios para botas, e roupas de inverno.

Se isso foi um golpe para os anunciantes, foi ao mesmo tempo um alívio para nos livrar das malévolas influencias dos seus anúncios, o que obrigou as redes sociais a se desenharem incluindo assim novos serviços e outras finalidades na busca de mais informações sobre os usuários, por isso que desde redes como o Netflix até o Facebook todos vendem de tudo, principalmente jogos, tudo com o propósito de consumir o nosso tempo.

Ao mesmo tempo os mais recentes sistemas operacionais Android permitem, pela primeira vez, que os aplicativos acessem os outros recursos do celular apenas enquanto estiverem operacionais. Ou seja: se quisermos, o WhatsApp só poderá ouvir nosso microfone quando o aplicativo estiver aberto.

Algoritmos podem estar errados por não nos ouvir muito, como tem sido o caso há um ano, mas também por ouvir demais. Se somos nós que aceitamos todas as permissões, em vez de bloqueá-las, os aplicativos saberão não apenas onde estamos, mas com quem.

Quantas vezes você dizia para sua mãe que gostaria de ir em uma praia e segundos depois os sites e as suas redes sociais eram carregados de ofertas de passeios e viagens para parias e anúncios de trajes de banho. De forma insistente, o que bem poderia ter acontecido porque o telefone ouviu, mas também porque eu tinha tirado uma foto com ela, que estava olhando os preços dessa mesma coisa, ou tantas ou diversas outras formas de nos rastrear interferindo nas nossas escolhas, logo imagine isso na rotina de crianças e adolescentes sem o mesmo poder de crítica ou de observação?

Se um de nossos colegas tem um hobby, é comum que algoritmos tentem nos ligar a ele, o que a publicidade define como audiência sósia, na bolha das redes sociais.

Na lógica da conversão da sua publicidade, redes como o Instagram mostram o anúncio, em primeiro lugar, para usuários personalizados. Estes são aqueles que já se interessaram por alarmes em suas pesquisas na internet. Em seguida, virão aqueles que combinam com um retrato sociológico: vivem em um chalé, possuem uma casa ou fazem parte de grandes famílias com segundas casas. Somando tudo isso, eles podem ter esse primeiro milhão de espectadores, e também entre os clientes muito prováveis. Mas, claro, devemos alcançar o segundo milhão de impactos que a empresa contratou. E aí é hora de puxar perfis mais diferentes, embora eles nunca possam pagar um alarme ou um roubo é a última de suas preocupações. Há também marcas que vendem um produto muito caro, então eles anunciam indiscriminadamente. Com eles fechando um único negócio, eles já amortizaram toda a campanha. Logo tente imaginar uma criança de sete anos de idade conectada nessas redes que definem o que elas vão assistir?

Mais uma razão pela qual os algoritmos às vezes nos surpreendem: as redes sociais reservam o direito de exibir anúncios, por si mesmos e por conta própria, a grupos descartados pelo anunciante. Uma marca pode pensar que as mulheres não estão interessadas em arquitetura, mas o Facebook pode ter uma opinião diferente, pois seus números e dados apontam em outra direção.

Lembro que nesse momento quantos são os pais que olham o tempo de uso diário nos celulares dos seus filhos? Aquela funcionalidade disponível para ver quanto tempo ficamos e onde ficamos ao usar nossos celulares.

É evidente que todos ficamos preocupados, e muitos até perdidos, afinal a cada nova estação um novo aplicativo vira febre nas mãos de nossos jovens. E quais os riscos que esse uso descontrolado pode ofertar?

Essa preocupação tornou-se uma discussão constante que vai dos ambientes escolares, nos lares e também nas casas legislativas com muita gente disposto a regrar esse desregulado uso. Afinal qual a influência de tanta tecnologia nas rotinas desses jovens?

Muitos estudos podem dar a dimensão desse tema, como o feito por pesquisadores do Facebook que vem estudando secretamente como seus aplicativos corroem a imagem corporal das meninas, médicos descrevendo distúrbios induzidos pelo TikTok e legisladores se comprometendo a responsabilizar empresas de mídia social por prejudicar crianças, mas qual de fato pode ser o risco?

Os estudos se dividem sobre a influência, porém todos concordam que o uso em demasia faz mal, como muitos dos nossos hábitos.

Para a maioria dos adolescentes nos EUA, as telas são uma grande parte da vida. Nove em cada 10 deles têm um celular e passam muitas horas por dia com ele – vendo vídeos, jogando e se comunicando. À medida que o uso dessas redes explodiu nas últimas duas décadas, aumentaram as taxas de depressão, ansiedade e suicídio, levando os cientistas a se perguntarem se essas tendências estariam relacionadas.

Alguns sugeriram que as redes sociais podem ter um efeito indireto na felicidade, substituindo outras atividades, como interações pessoais, exercícios ou sono. Ainda assim, pesquisas que buscam uma relação direta entre redes sociais e bem-estar não acharam muita coisa.

O mesmo estudo descobriu que, durante o início da adolescência, o uso intenso de redes previa índices mais baixos de satisfação com a vida um ano depois. Para as meninas, esse período sensível foi entre 11 e 13 anos, enquanto para os meninos foi de 14 a 15, o que pode ser entendido pelos períodos distintos de maturidade.

São tempos diferentes onde pais corujas,  procuram em qualquer gesto e fato do seu filho um traço de genialidade no uso e domínio dessas novas tecnologia e que por vezes ficam despreocupados com o elevado tempo que nossos jovens vem se dedicando a esse universo digital. O grande desafio nessa etapa é adequar as expectativas e também as cobranças que despejamos nas costas dessas crianças.

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