Existe uma nova guerra não tão silenciosa, que já está sendo travada, pelos EUA, a China e a Europa para liderar a próxima era da computação.
Na Europa, segundo uma reportagem do Jornal econômico, Expansion, a Espanha toma posições na corrida da computação quântica com a ambição de se tornar um nó quântico. O projeto nacional espanhol, inclui a construção de um desses computadores no Centro Nacional de Supercomputação de Barcelona (BSC-CNS),que começará a operar no final de2022, bem como a criação de um ecossistema em torno dessa tecnologia.
A iniciativa, confirma a importância de ter tecnologia soberana para a próxima era da computação. Nesse primeiro instante o fundamental é sair das declarações de imprensa e realizar, considerando a dianteira Chinesa e dos EUA nessa área.
A revolução quântica permitirá resolver problemas que agora são inacessíveis graças a um poder de computação que a computação atual não pode oferecer. Assim, será possível desenvolver medicamentos mais rapidamente, otimizar sistemas logísticos e de transporte, explorar novas abordagens na simulação de materiais ou melhorar a gestão de riscos financeiros, entre outras aplicações.
As promessas ligadas à computação quântica levaram a uma corrida global na última década em que países e gigantes tecnológicos competem.
Novas tecnologias nascem nesse ambiente de estímulos sim, mas de uma boa dose de ceticismo, pois ninguém que recebe um conjunto de novos feitos fica paciente diante dessas descobertas. Pense no ceticismo das primeiras imagens do homem no espaço, ou no pisar do primeiro homem na lua? O ceticismo é sempre combustível para os destemidos e zona de conforto para os ignorantes e maldosos.
Não são poucos os exemplos ao logo da história, alguns destes céticos com a caneta na mão, já sentenciaram muitos cientistas a morte, com medo do enfrentamento de suas crenças, afinal, a ciência é sempre um vento frio na mente do atraso.
Em 23 de outubro de 2020, os pesquisadores do Google publicaram na revista “Nature” um estudo referente a um experimento de “supremacia quântica”. Ou seja, eles teriam conseguido alcançar a tão esperada computação quântica e criado um computador tão potente que os atuais se transformariam em dispositivos totalmente ultrapassados.
E logo a China, olha ela novamente ai, já está destinando cerca de US$ 10 bilhões para um laboratório nacional de computação quântica. Além disso, gigantes da tecnologia, como Google e IBM, disputam a liderança no segmento. Até 2030, esse mercado deverá valer US$ 65 bilhões, segundo a consultoria P&S Intelligence.
Uma das medidas para aferir a dimensão de uma nova tecnologia, pode ser a quantidade de países envolvidos nela, esse é o caso do Brasil, em que pese os recentes cortes de investimento em tecnologia, na redução de 80% da dotação orçamentária do nosso ministério, desde 2015, já haviam estudos de percepção global que colocavam o Brasil no mapa da computação quântica, ainda que nos últimos três anos andamos para traz, como já apontam os novos estudos.
A iniciativa quântica lembra outros projetos recentes no Brasil para aproximar pesquisadores de tecnologia de ponta e empresas, como o Advanced Institute for Artificial Intelligence (AI2), de inteligência artificial, e a Barinet, de pesquisas aeroespaciais. Como destacado em uma recente publicação do Estadão, “é um movimento bem visto por empresas, que podem procurar na rede acadêmica soluções para seus problemas. A Quintec já recebeu apoio de IBM, Microsoft, Petrobrás e Embrapa, além disso, pesquisadores reconhecidos na área, como Fernando Brandão, o brasileiro que trabalhou no projeto do computador quântico do Google, demonstraram apoio ao projeto.” Nesse momento a iniciativa paulista não visa à construção de máquinas quânticas, assunto que tem gerado barulho internacional com os avanços de gigantes do setor. “A construção de hardware está fora de cogitação. Ela é restrita não apenas no Brasil, mas em muitos países. Mas podemos ter excelência na criação de algoritmos. Quando essas máquinas ficarem prontas, vai faltar gente para trabalhar com elas”, explica Jair Antunes, líder de tecnologias emergentes da Accenture para a América Latina.
É bom lembrar que computadores quânticos funcionam de maneira completamente diferente das máquinas clássicas, usadas atualmente. Elas precisam de software e algoritmos próprios. Sem isso, o seu potencial não pode ser explorado, logo existe sim uma oportunidade para o Brasil no desenvolvimento de softwares, isso é claro se for estimulado, desde os bancos universitários.
No mundo, para termos uma dimensão da importância do assunto, o investimento público ( isso sem contar com os investimentos bancados pela iniciativa privada) já comprometido é de US$24,4 bilhões.
De acordo com o Boston Consulting Group, no ano passado o venture capital investiu US$ 679 milhões, um valor que pode chegar a US$ 800 milhões este ano, isso em apenas um caso.
Os Estados Unidos e a China lideram o caminho, de acordo com um relatório do banco de investimento Klecha & Co. Os EUA investiram fortemente em hardware quântico, embora agora a Europa e a China estejam se juntando à corrida.
A China é líder em sistemas de comunicação quântica, ainda que existam produtos e sistemas muito interessantes no Canadá e no Reino Unido. Ocorre também iniciativas de desenvolvimento de sensores quânticos de forma bem mais difundida, com empresas na Suíça, França, Reino Unido e Estados Unidos.
O confronto entre os Estados Unidos e a China, que antes era comercial, também avança para supremacia quântica, em 2018, os EUA colocou a pesquisa e o desenvolvimento da tecnologia de computação quântica como uma “prioridade nacional”, com um investimento esperado de US$1,2 bilhões em uma década. No ano passado, como parte deste projeto, foi anunciada a criação de cinco polos de pesquisa nessa área.
Além dos planos públicos, gigantes da tecnologia dos EUA como Google, IBM e Microsoft estão fazendo investimentos pesados em computação quântica.
A IBM se orgulha de ter desenvolvido o primeiro computador quântico comercial do mundo. A primeira dessas equipes foi instalada em Nova York, seguida por outra este ano na Alemanha. A empresa diz que 150 organizações, incluindo laboratórios de pesquisa, startups, universidades e empresas, acessam sua capacidade quântica através da nuvem.
Enquanto isso, o Google alegou há dois anos o marco de ter alcançado a supremacia quântica, ou seja, um equipamento quântico capaz de resolver uma tarefa inviável para os computadores mais poderosos da atualidade.
A Microsoft, por sua vez, lançou este ano um ecossistema de nuvem pública aberta para soluções quânticas, o Azure Quatum, que permite acesso a várias soluções quânticas, hardware e software da Microsoft e parceiros da empresa.
A China também está lutando para liderar esta corrida. O gigante asiático anunciou em 2017 a construção de um laboratório nacional de tecnologias de computação quântica com um investimento de US$10 bilhões, ou seja a China sozinha tem mais de 1/3 de todo investimento público destinado a área, o que nos permite concluir qual será o resultado.
Em dezembro de 2020, cientistas chineses afirmaram ter alcançado a supremacia quântica com um computador capaz de realizar cálculos trilhões de vezes mais rápido do que os supercomputadores mais poderosos da atualidade. Desde então, eles avançaram nesta corrida com novas máquinas que, dizem, venceram a do Google.
Além disso, como nos Estados Unidos com suas grandes empresas de tecnologia, titãs digitais chineses como Alibaba, Baidu e Tencent têm executado programas ambiciosos há anos.
A União Europeia lançou sua própria iniciativa há três anos, a Quantum Flagship, com um orçamento de US$ 1,3 bilhões ao longo de dez anos, que visa colocar a Europa na vanguarda quântica.
Mas o que seria essa computação quântica?
Bem a ideia de uma computação quântica é baseada em princípios da física quântica, especialmente no Princípio da Superposição, que considera a possibilidade de um objeto estar em um estado de sobreposição (vários estados estão sobrepostos simultaneamente). Desde os anos 1980 os pesquisadores tentam aplicar esse princípio na computação e, apenas agora, os primeiros resultados estão sendo alcançados, uma prova clara de que fazer ciência requer investimento permanente, resiliência e gente competente, logo pesquisa sempre será uma decisão de Estado e não de governo.
Precisamos avançar na atualização da nossa lei de Inovação, e mais do que isso, tanto na superação quântica, como na Inteligência artificial, é preciso ter políticas claras que incentivem, com instrumentos direitos como a dedutibilidade de 100% de toda despesa de pesquisa e desenvolvimento, para que assim possamos gerar ainda mais empregos com valor agregado.
Investimento sempre deve ser para setores estratégicos, é para isso que deve ser a renúncia fiscal, para garantir um lugar no futuro.