A Pandemia tem servido para evidenciar a importância da saúde pública e dos seus mecanismos de prevenção e controle, a gestão no combate de um alvo móvel (vírus) pode dar a dinâmica da sociedade moderna global, desigual e que necessita de equilíbrio e harmonia entre governantes.
Sem dúvida é um novo fenômeno sobre o qual temos cada vez mais informações à medida que os esforços da ciência compensam e cuja gestão devemos constantemente nos adaptar para obter resultados minimamente razoáveis.
Por isso opiniões podem e devem ser ajustada a luz de novos dados. O que diferencia a pandemia de forma adequada daqueles que estão vendo seu contágio e números de morte se recuperarem nada mais é do que o conceito de gestão dinâmica sobre um vírus que através de uma mutação, infecta nossa espécie e não sabemos nada até que a ciência comece a investigar, a partir daí, as conclusões da ciência devem ser nossa única e permanente orientação e é possível que, como resultado de novos ensaios, experimentos e descobertas, essa orientação mude.
Se no início da pandemia acreditávamos que deveríamos desinfetar todas as superfícies, usar luvas o tempo todo, usar diversos tipos de desinfetantes e lavar as mãos constantemente, sabemos agora que a transmissão do vírus através de superfícies é praticamente irrelevante e que a realidade é que a grande maioria dos contágios ocorrem através de aerossóis respiratórios, que podem ser mantidos suspensos no ar por um bom tempo em locais fechados e sub-ventilados.
Quais são as implicações de uma descoberta como essa? Não mais ou menos do que a necessidade de mudar muitos dos protocolos que usamos para evitar a transmissão do vírus. Implica que todo gel ou desinfetante ou limpeza obsessiva da superfície ajuda entre pouco e nada e que em vez disso, o fundamental é ter a máscara bem colocada, não com o nariz para fora, nem solto, nem no pescoço em todos os momentos que você está dentro de casa com pessoas. O que se percebe é que era uma guerra contra um vírus, com o alongar das restrições se torna uma fuga da autoridade, com uma vontade de duvidar de tudo, dúvidas que só fazem aumentar as probabilidades de contágio.
Vai levar muito tempo para obter uma vacina realmente eficaz, muito mais tempo para ser capaz de distribuí-la maciçamente e muito mais, quem sabe até nunca, em obter uma multidão de negadores que acreditam que sua ignorância vale o mesmo que evidências científicas para colocá-la. Por muitos anos teremos reservatórios do vírus graças a esse comportamento e isso infelizmente manterá surtos vindos dele, felizmente, ciência e tecnologia também estão levando a melhores tratamentos e melhores testes diagnósticos, em breve os testes serão muito baratos, com resultado imediato, muito confiáveis e praticamente onipresentes. Sem dúvida que uma pandemia é um fenômeno dinâmico, porque a informação que temos sobre ela está em constante mudança e como tal, deve ser tratada.
Mas podemos ver utilidade nessa pandemia, como a urgência na universalização dos dados, porém, com todos os protocolos de proteção desses dados sensíveis.
Ao mesmo tempo identificamos o processo de transformação digital da medicina, como uma considerável evolução em alguns segmentos como a “Edição genética.”
Como destaca Elcio Brito, em artigo sobre as tecnologias habilitadoras da transformação digital, publicado na obra Governança Digital 4.0: “A Edição genética ao longo da evolução do homo sapiens, passou-se pela revolução agrícola, pelo meio da seleção das planta es mais eficaz para aguentar como condições do clima. Tentou-se também combina diferentes tipos de espécimes, e em diferentes climas, para aumentar gradualmente ao longo do tempo. Não nesse meio tempo, foi através do introdução dos organismos geneticamente modificado (GMOs – Geneticamente Modificados) (PHILLIPS, 2008)”. A mesma tecnologia também vem sendo usada para procurar melhorias nos principais animais usados na produção de alimentos para a raça humana, como, por exemplo, vacas que produzem mais leite e frangos que cresceram mais rápido para chegar ao abate.
Do outro lado, há muitas vidas entre aqueles que advogam a uso de produtos naturais ou integrais, nesse meio tempo, é cada vez mais difícil garantir a pureza do que é produzido já que ventos e pássaros acabam polinizando diferentes áreas e podem carregar uma espécie de semente de um lugar para ou outro.
Na medicina, desde 1990, ampliaram-se os esforços para o mapeamento do genoma humano, ou seja, o sequenciamento dos genes e o entendimento das suas principais funcionalidades, em 2003 esse esforço estava concluído, compondo um conhecimento que serviu de base para inúmeras pesquisas, isso viabilizou um grande revolução com a disponibilidade de informações, o que tornou possível o cruzamento entre variações genéticas e doenças, fazendo emergir os primeiros tratamentos genéticos, especialmente para peixes. Veja abaixo alguns exemplos:
Transferência genética: substituição de genes com problema por outros, fazendo com que células cancerosas morram ou preveni que células em volta continuem enviando nutrientes e alimentem-se com células com problemas, aumentando ou tumor.
Imunoterapia: reforço das células do organismo próprio, que é programado para atacar células defeituosas e evitar ou espalhar dois tumores.
Modelagem e simulação biológica: Da mesma forma que a simulação robótica evoluiu, permitindo a simulação do que ocorrerá com o meio físico e o impacto da interação entre os componentes, está crescendo um campo de atuação unindo ciências biológicas, química e materiais. Por meio dessas novas soluções, como é o caso da Biovia da Dassault Systèmes (BIOVIA, 2019), é possível hoje simular a interação entre os componentes biológicos, químicos e materiais e antecipar o resultado desses sistemas, isso se tornará cada vez mais útil para organizar os desenvolvimentos de pesquisa em grandes corporações farmacêuticas e também para a pesquisa em geral.
Evidentemente tudo precisará de nova regulação e aqui reforçamos a importância dos sandbox, visto que essas pesquisas tratam de dados sensíveis na maioria das vezes.
O Direito à vida previsto na Declaração Universal dos Direitos do Homem, torna o Direito à saúde um valor diretamente vinculado ao papel dos dirigentes.
Nesse momento, startups e empresas estabelecidas dedicadas à medicina digital estão passando por um instante de especial interesse entre os investidores, que estão convencidos de que a pandemia pode ser o gatilho para uma mudança dimensional real na forma como entendemos e gerenciamos nossa saúde.
Essa mudança em torno da gestão da saúde é articulada em três eixos distintos:
Telemedicina;
Atendimento fora do hospital;
Monitoramento contínuo.
Em comum o que os une é a necessidade de uma medicina verdadeiramente preventiva, no qual o tratamento de muitas doenças avança até o momento em que se manifestam significativamente na forma de sintomas que afetam a vida do paciente, resultando tanto em menos sofrimento quanto, em muitos casos, um pequeno impacto nos custos associados ao seu tratamento.
Como exemplo, na China uma grande quantidade de investimento está se voltando para questões que vão desde o monitoramento remoto de vários parâmetros de saúde, até a telemedicina, em um momento em que muitos usuários tentavam evitar ir aos hospitais o gigante asiático, que supostamente já declarou vitória na luta contra a pandemia, está experimentando uma mudança de hábitos entre a população, que agora expressa uma crescente por consultas remotas, atendidas com uma grande variedade de ofertas.
Os wearables são um capítulo à parte nessa transformação digital da medicina, Apple Watch entre outros estão ampliando a base de dados para acompanhamento e logo, a incorporação de outros dispositivos para, por exemplo, controle da pressão arterial, histórico, informações genéticas, sendo todos esses dados necessários, porém, sensíveis e portanto, protegidos pela LGPD.
Esses equipamentos de monitoramento permanente vão auxiliar na leitura dessa modificação dinâmica dos quadros de saúde, permitindo as análises por algoritmos que estarão auxiliando os médicos em exames e leituras de sintomas prévios, como auxiliares aos profissionais de saúde.
As leituras pelos inúmeros sensores gerarão sistemas redundantes que resultam em possíveis alarmes individuais que serão examinados pelos médicos quando sua evolução recomendar outros tipos de testes ou ações.
Tente imaginar o monitoramento prévio da COVID 19 se esses equipamentos já estivessem funcionando, permitindo a leitura dessa mudança de quadro?
Por certo a combinação de sensores melhores e mais baratos, aprendizado de máquina e telemedicina através de serviços avançados de comunicação, levará os cuidados de saúde a um estágio completamente diferente, no qual em breve, muitas das circunstâncias que estávamos acostumados a experimentar ou testemunhar em estágios anteriores e que geralmente vieram na forma de surpresas muito desagradáveis, nos parecerão algo completamente de outra época.
Toda essa evolução prescinde de um total cuidado e respeito ao tratamento desses dados sensíveis e com transparência no acompanhamento.
O Direito à saúde é um Direito fundamental e a tecnologia deve ser parceira no exercício da cidadania plena.