A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL COMO EXTENSÃO DO HOMEM

A transformação digital é transversal, atingindo a todos em menor ou maior grau e em momentos distintos, sendo sua velocidade determinada pelo interesse capital de mercado e empresas. Os agentes públicos perderam seu papel na transformação digital. Para ter dimensão disso veja os discursos dos nossos homens públicos. É o discurso de hoje que pode dar o tom do amanhã, é ele que estabelece as políticas e interesses de curto prazo do estado brasileiro, e por isso a redução das pautas a factoides é tão perniciosa ao nosso desenvolvimento. Entender a transformação é se preocupar com as novas tecnologias, que por vezes acabam reduzindo o papel do homem nessa transformação, como se não fosse ele o centro das decisões e propósito.

Seja na ciência, no esporte ou na política as decisões desses homens e a sua intervenção é que fazem a diferença. Logo a compreensão da importância da Inteligência Artificial parece dar o tom.

Quando empregamos a IA, a máquina ou o algoritmo aprendeu! Aprendeu a estimar uma nova situação pretendida conforme a base de dados captada, e o faz com elevada acurácia e de forma robusta, em modelos dos mais diversos, seja de dados públicos de saúde, no monitoramento e comportamento de doenças ou na transformação econômica de bairros, cidades e ou dados criminais. “Inteligência Artificial refere-se ao uso de modelos estatísticos ou matemáticos em aplicações específicas para predição de resultados, buscando sempre a máxima acurácia e robustez possíveis (por meio da busca do melhor modelo estatístico e da separação da amostra em duas partes, uma para treinar e outra para validar o modelo).” (“Inteligência Artificial – Mitos e verdades: As reais oportunidades de criação de valor nos negócios e os impactos no futuro do trabalho” de Adriano Mussa, Saint Paul Editora).

Mas essa técnica precisa da intervenção ideológica para apontar o caminho, e por isso reside ai o risco, modelos raramente serão neutros, pois a fotografia estatístico probalística não o é, ela sempre vai representar um corte com pequenos ajustes temporais pois a mudanças no curto prazo nem sempre são significativas.

Por isso a ciência sempre importa, para ver, medir e fazer os ajustes, tem sido assim sempre, a ciência com o tempo corrige, o que a ignorância sacramenta invariavelmente sentenciando e excluindo. Tente imaginar as descobertas de Einsten sem o apoio da boa ciência? O que seria do talento da jovem skatista Rayssa sem bons técnicos que muito treinaram e estudaram o seu esporte? O que será de um presidente da república e da sua nação quando desdenha da ciência e vê na diferença de opinião um inimigo? É o ser humano que torna possível com suas decisões as conquistas das máquinas.

Quando se trata de resolver seus problemas, os humanos escolhem cada vez mais entre “a máquina” ou “a multidão”: por um lado, o hiperracionalismo dos algoritmos, aprendizado de máquina e inteligência artificial; por outro, instintos e emoções, como se fosse uma escolha única.

Como saliente Martin Pino, em sua obra “O Fim dos Empregos pela Inteligência e a Robótica”: “Por enquanto está discutindo-se sobre inteligência artificial a nível de “software” encontrado na internet através de buscadores virtuais com alguma relação a entes mais físicos, mas deve ressalta-se que estes “softwares” inteligentes, mesmo que com uma inteligência primitiva inicialmente já estão evoluindo de maneira assustadora, tanto que já conseguem adaptar-se a diversos ambientes virtuais, em diversas redes, em diversos tipos de internet, afinal, como é bem sabido por todos da área da tecnologia (muito poucos da área do Direito), existem as internetes superficial, profunda, escura, dentre outras, infelizmente, uma pessoa comum pensa que o mundo é governado pelos buscadores populares, quando na verdade é governado por programas inteligentes e que estes navegam pelas diversas camadas da internet existentes coletando dados pessoais, procurando criminosos de todos os tipos, e claro, pessoas de todos os tipos, só para conhecê-las, mas acontece é que entram na vida privada, até na intimidade, o que inibe de um programa coletar os gostos das pessoas ao ligarem a televisão?, a resposta é “nada”, se é possível um software fazer isso, então, é possível também assistir as pessoas que assistem programas de televisão, quer dizer, uma família inteira assistindo uma novela, quando do outro lado da tela um programa de computador permite que alguém veja esta família e pegar os seus hábitos, de como se vestem, do que falam, as gírias, raça, condição econômica etc. e ainda, salvando tudo na nuvem ou também chamada de “cloud computing”,  mas para que tudo isso?, a resposta é simples, as informações pessoais valem muito dinheiro e são negociadas o tempo todo, isso ajuda até no planejamento econômico de um país, se a população vive de um jeito, então, se investe deste jeito que esta é, a menos que se queira mudar a sua cultura, o que em muitos casos, acontece, há muito tempo, mas também isso ajuda no planejamento de empresas regionais, nacionais e até internacionais, pois conhecendo a cultura de um povo, os seus hábitos, o investimento num determinado setor pode render muitos milhões e se se quer destruí-lo, também pode ser feito usando os seus próprios hábitos, a sua própria cultura. Salienta-se que o encontrado nos buscadores virtuais são informações, não é conhecimento, que faz o conhecimento é quem usa as informações para criar algo novo, nesta questão está a confusão de muita gente, pois “transfere o seu cérebro” para a os softwares virtuais encontrados na rede, ou seja, em vez de a pessoa “pensar”, transfere esta atividade para estes programas virtuais, em vez de a pessoa “calcular” transfere esta atividades para entidades primitivas de inteligência artificial encontrados na internet, e o pior é que esta situação está acontecendo muito rápido.”

O homem na busca de soluções, como num processo transcendental, elege a máquina, por vezes esquecendo ser ela uma criação do próprio homem em um processo curioso.

Lembro que a aprendizagem é promotora da neuroplasticidade, permitindo que as pessoas raciocinem sob outras hipóteses, e quando falamos de uma máquina, devemos considerar a capacidade de um sistema em reagir a impactos radicais na forma de processar, no modelo de instrução que servia ou até na forma de informar aos usuários.

Em nossas rotinas, e tendo a Inteligência Artificial como instrumento, a complexidade de uma máquina em conseguir escolher saídas, deve antes de tudo compreender as formas de saídas, tal como o ser humano quando identifica e aprende outras formas de fazer ao se observar impedido nos métodos que fazia antes. A plasticidade desses sistemas neurais artificiais depende da forma que a rede neural foi desenvolvida. Quando falamos em aprendizado de máquina, machine learning, falamos da propriedade de um sistema em aprender mais informações, classificar sem supervisão e assim criar novas classes diante de novas entradas, e isso não se refere a trabalhar a rede neural para que adote outra maneira de atuar. Se uma rede não está preparada para atuar diante de uma alteração “traumática” na sua forma de atuar, não pode contar, portanto, com uma neuroplasticidade artificial. Um outro exemplo interessante é com relação às leis, que estão sempre sofrendo alterações, que podem ser substituições, exclusão ou novas considerações e providências.

É bom lembrar as diferentes características de homens e máquinas quando comparamos as redes neurais, pois as redes neurais artificiais (RNA) são visões computacionais inspiradas no cérebro biológico, que são capazes de reconhecer padrões através do aprendizado de máquina. O aprendizado de máquina pertence ao campo da ciência ou engenharia da computação, que procura dar este significado ao software que está preparado a compreender e registrar padrões diante da entrada de valores. Obviamente, se é um software, pode estar aplicado nos bastidores de interfaces de sistemas de informação (front end), assistentes virtuais (chatbot) ou mesmo aplicado à robótica. Uma RNE pode ter centenas e até milhares de neurônios, enquanto cérebros, não só de humanos, mas de mamíferos de uma forma geral, são extremamente complexos e contêm bilhões de neurônios. A título de conhecimento, um cérebro humano adulto possui cerca de 85 bilhões de neurônios em seu corpo, e por incrível que pareça com toda essa vantagem e essa disponibilidade por vezes parecemos não usá-los.

A inteligência, por softwares e embarcada em máquinas deve apresentar uma simbiose em nossas rotinas, hoje e no curto prazo com nossos hábitos, e em pouco tempo pela soma de máquinas, dispositivos e corpo humano, como que constituindo novos ciborgues.

Como alerta Martin Pino em obra já citada: “Tipologias do ciborgue Há duas maneiras de misturar-se com as máquinas: expandindo o cérebro através de implantes de chips e nanochips ou transformando os circuitos cerebrais em supercomputadores. Poderia fazer-se isso modificando as ligações entre os neurônios (sinapses), transformando-as em circuitos de um supercomputador. Mas há outra estratégia. Para usar um termo mais familiar para quem sabe um pouco de ciência da computação: pode montar-se uma máquina virtual mais poderosa, usando como base o cérebro humano. Para montar uma máquina dessa espécie, a partir do cérebro, talvez possa ser usado um vírus semelhante aos vírus de computador, que se apossam das máquinas das pessoas, para depois fazer com que elas executem determinadas tarefas sem que seus donos percebam. Esses vírus invadiram o cérebro, modificando-o, ou poderiam também tomar a forma de micromáquinas invasoras que modificaram o cérebro em nível molecular. Um enxame dessas micromáquinas, ou nanomáquinas, poderia invadir o corpo humano. Dessa mistura com máquinas, resultarão dois tipos de ciborgues: um primeiro mais inteligente que os humanos e outro tipo quase humano, menos capaz do que o normal. Ambos serão construídos sobre plataformas humanos (cérebros/corpos humanos modificados). No caso do primeiro ciborgue, isso significa expansão de memória e aumento de velocidade do cérebro. Serão aperfeiçoamentos importantíssimos, pois o cérebro humano não evolui há 200 mil anos. Ele é o mesmo cérebro de quando vivíamos em bandos pelo planeta, caçando e fugindo de animais ferozes. Com esse cérebro obsoleto, não será possível conseguir nos dias atuais, processar a enorme quantidade de informação necessária para sobreviver na sociedade pós – moderna. O segundo tipo de ciborgue é o humano com um cérebro simplificado, ou seja, um cérebro subutilizado porque uma parte dele foi tornada um computador programado para realizar tarefas simples. Esses ciborgues têm cérebros parcialmente humanos (híbrido, meio orgânico meio máquina) ligados a corpos complexos como os das pessoas comuns. O corpo humano é um dos melhores robôs já produzidos pela natureza, além de existir em relativa abundância. Talvez a melhor palavra para designar esse tipo de ciborgue

Por mais que se avance na ciência ela depende do homem para evoluir, e interpretar os dados, ou seja a IA dependem da abordagem humana.

Como destaca Cukier e Vériciurt: A única abordagem ruim é aquela que nega outras abordagens”, uma exceção que eles usam para deplorar o totalitarismo, a censura e a atual “cultura da anulação”. Esta seção esperançosa exige diversidade, iluminação e valores humanos progressistas em oposição à tirania da multidão e da máquina: “Não estamos sujeitos a forças além do nosso controle. Pelo contrário, como pensadores, estamos armados com estratégias para construir a sociedade que queremos.”

Uma empresa deve abordar a inovação como um terreno sem limites, sem pensar em sua pesquisa e desenvolvimento pelo fato de que algo vai além de algum tipo de convenção predeterminada?

É evidente que não pois quando empresa, pessoas e incluindo ai os políticos estão projetando produtos ou serviços, a ética precisa ser o alicerce a base.

Retirar um produto quando você vê que está produzindo problemas de primeira classe que ameaçam a sociedade não é uma questão relacionada à velocidade que você aplicou ao seu desenvolvimento ou à inovação, mas um problema relacionado à ética. Quando você vê que seu produto foi usado para manipular processos eleitorais, para provocar genocídios ou para perseguir seus usuários com base em todos os tipos de informações pessoais, algo deve dizer que está errado. Se você não tem uma voz interior para lhe dizer, você tem um problema sério.

Logo o problema não vem de se mover rápido, ou quebrar algo de vez em quando. As consequências potenciais de uma inovação podem às vezes não ser claras durante seu design, ou mesmo nos estágios iniciais de seu lançamento. Mas quando todos estão dizendo que o que você fez está causando consequências horríveis e você segue em frente, porque você acha que absolutamente todos os outros estão indo na direção errada, você tem um problema. O problema é saber que você está quebrando coisas muito importantes e não só não parando ou recuando, mas continuando a fazê-lo conscientemente, a fim de ganhar um pouco mais. Não é um problema de inovação, mas de falta de bússola moral. É por isso que é profundamente claro que os problemas nunca serão corrigidos permitindo que empresas como o Facebook se autorregularem, porque não têm precisamente o que é preciso para ser capaz de fazê-lo.

A sociedade não deve ser protegida da inovação. Deve ser protegido de pessoas antiéticas e inescrupulosas de qualquer tipo, estejam ela na política ou em qualquer campo, ou mesmo gerindo plataformas digitais.

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