A transformação digital que ocorre no mundo de forma transversal, atingindo a todos em maior ou menor grau exige um esforço maior na entrega de energia, logo em qualquer lugar do planeta precisamos de mais energia, e isso ocorreu da mesma forma em qualquer momento da história da humanidade.
Todo processo de avanço tecnológico ocorre em busca da produtividade, sendo que a tecnologia sempre será impulsionada de forma recorrente pelas restrições negativas geradas pelas leis da física e da geometria, que limitam os escopos sociais e da vida, nos obrigando a buscar situações de maior conforto e pelas restrições positivas produzidas pelo impulsionamento econômico ideológico, naquilo que seja do interesse do mercado.
Vejamos isso nos avanços tecnológicos, na substituição da tração do homem pelo gado, do gado pelos moinhos de ventos e quedas de água e do vento e das águas pelas máquinas movidas à vapor em todos esses processos modificou-se a fonte de energia empregada, sempre por alguma mais eficiente e barata.
Ocorre que fatores isolados tem um poder imenso nessa transformação, mas são simbólicos para lembrar a importância de algo.
Vejamos no episódio da Ucrânia e da Rússia, e energia e a elevação do seu custo vem provocando convulsões sociais, com o aumento de custo em pleno inverno europeu, então elevação dos valores do petróleo e gás catalisam as pressões geopolíticas e servem de pano de fundo por uma nova guerra pela energia, energia que se transforma em conforto e em produtos mais competitivos, e que ao mesmo tempo por seu preço elevado representa piora na qualidade de vida e perda de competitividade nos produtos e serviços.
Logo o que vemos é que a médio e longo prazo, a transição de carbono continuará sendo uma força inexorável, movimentando a economia e nossos hábitos sociais, na disputa por uma vida mais barata e sustentável.
O mercado de capitais se move acompanhando cada movimento sensível do setor de energia, na projeção de resultados no curto e médios prazos, afinal investidores nem sempre são pacientes.
O impulso de curto prazo está do lado dos ursos, a julgar pelo desempenho das referências de energia renovável. O índice global de energia renovável FTSE perdeu 16% no último ano.
Os fundos europeus de energia alternativa também estão passando por um momento difícil. Segundo a Morningstar, eles subiram apenas 4,8% em média em 2021, em comparação com o retorno de 26% do Stoxx 600 europeu, para nossa referência. Sorte Boa dos fundos de hedge. Ao contrário dos produtores de energia eólica, eles têm o vento a seu favor no curto prazo, dando um viva a Rússia.
No caso brasileiro, como é possível ser competitivo quando em 7 anos, a conta de luz subiu mais que a inflação? Isso impacta no produto e nos lares dos brasileiros que viu a conta de luz subir 114% desde 2015, o que é mais do que o dobro da inflação no mesmo período.
Enquanto isso a Aneel libera estudos para instalar três megausinas na Amazônia, hidrelétricas que há anos não saem do papel devido ao risco ambiental e ao impacto em áreas indígenas ganham nova chance nas mãos de estatais.
A estatal Eletrobras e sua subsidiária Eletronorte receberam aval da Agência para levar adiante o plano de erguer três grandes hidrelétricas na Bacia do Rio Tapajós, na Amazônia, uma das áreas mais preservadas da região, as três hidrelétricas podem somar mais de 2,2 mil megawatts, o suficiente para abastecer mais de 3 milhões de famílias. E logo a pergunta que não quer calar, esses valores estão no valuation do BNDES que pretende privatizar a Eletrobras ou será mais um presente? Foram nada menos que R$ 130 milhões injetados em pilhas de estudos.
Ao mesmo tempo a recente publicação do decreto 10.946, estabeleceu regras para exploração energética dos ventos marítimos, com o aproveitamento em águas interiores de domínio da União, no mar territorial, na zona econômica exclusiva e na plataforma continental, para geração de energia elétrica dos chamados, empreendimentos offshore.
Nesse momento já possuímos em projetos de geração offshore 40 mil megawatts de energia e que estão em análise ambiental pelo Ibama, o que em termos de referência seria cerca de três Itaipus.
Segurança energética se consegue com sobra de capacidade instalada, escala para baratear, linhas de transição e diversidade de matriz energética, todos fatores que o Brasil possui para ser competitivo.
O que vemos na atual crise europeia é a Rússia que responde por cerca de um terço do gás natural consumido em todo continente Europeu, na pressão pelo território onde passa parte do seu produto.
De imediato os maiores prejudicados são a Alemanha, Eslováquia, Áustria e partes da Itália.
É claro que em guerras todos perdem, afinal apenas a interrupção desse fornecimento Russo para Europa. à Gazprom, estatal cujo governo controla com 50,23% das ações, algo entre US$ 203 milhões e US$ 228 milhões por dia em receitas perdidas. Assim, se tal embargo durasse três meses (o poder de influência de Putin diminui na primavera, quando a demanda por gás se torna apenas 60% da observada em janeiro), as perdas chegariam a aproximadamente US$ 20 bilhões.
Esses números podem dar a dimensão da importância da energia e dela como estratégia de Estado e não brinquedo nas mãos de governantes de plantão.
Nesse momento a União Europeia pode dar o status de energia verde ao nuclear, na intenção de reduzir a sua dependência do gás russo.
A Comissão Europeia pretende incluir o nuclear e o gás como energias verdes, por entender que é energia limpa e que garantiria o fornecimento que agora sofre com o abandono de outras fontes de energia, como o carvão, confiando tudo às renováveis, que não compõem uma oferta suficiente para a crescente demanda e para cobrir a lacuna de oferta deixada pelas energias descartadas.
Entendendo ainda que caso isso não ocorra, a Europa, teria no curto prazo, um grande problema de aumentar o preço de toda a cadeia de valor, a partir do custo mais alto da energia, e a inflação, a estagnação e o desemprego tomarão conta da economia. Uma verdadeira guerra pela energia limpa, barata e sustentável.