A ideia é prestar assistência médica por meio de um aplicativo que facilite não apenas consultas por vídeo
A recente aquisição da Rede de clínicas médicas, One Medical, pela Amazon em um investimento de US$ 3,9 Bilhões deu mais um exemplo de que big techs como a Amazon não tem limites para alcançar seu bolso.
Com 188 consultórios e clínicas espalhados em setenta e duas cidades importantes dos EUA incluindo Atlanta, Chicago, Los Angeles e Washington, uma significativa capilaridade que em que pese os valores serve para gigante tecnológica como laboratório de aprendizagem, isso mesmo big techs não tem limites de investimento para aprender em um setor estratégico, afinal qual o valor do setor de saúde, desde as consultas virtuais através da Alexa até a distribuição de remédios?
A One Medical é uma empresa que nasceu como uma tentativa de avançar na digitalização da assistência à saúde, que recebeu investimentos do Google, e que é oferecida por muitas empresas como alternativa de seguro de saúde para seus funcionários. A ideia é prestar assistência médica por meio de um aplicativo que facilite não apenas consultas por vídeo, mas também uma gestão de consultas que evite os atrasos e esperas habituais, tentando gerar uma experiência de atendimento mais satisfatória e menos estressante.
A operação pode ser vista como uma extensão do interesse da Amazon na reinvenção da assistência à saúde, afinal ela já tinha adquirido em três anos antes a PillPack, criando assim um serviço de transporte de medicamentos com prescrição, e também algo na mesma linha do seu serviço Amazon Care, um serviço de saúde sob demanda, e logo comprar uma rede de clínicas com uma cultura avançada em digitalização e serviço é uma forma de dar uma contrapartida física a um modelo que obviamente está sendo reinventado.
Logo para você profissional da saúde, o setor será reinventado, e não será por nenhum colega seu, logo seu concorrente no médio e longo prazo serão as big techs.
100 mil médicos com 141 especialidades
Nesse momento os cuidados com a saúde estão se reinventando através de aplicativos, videoconsultas, e todos os processos puramente administrativos (pedidos de análises e testes, folhetos, resultados, etc.) ou provisão muito simples, mas também facilitar a interação física com o médico ou os instrumentos necessários quando considerado necessário.
O que acontece quando a clínica que você costuma ir é adquirida por uma empresa como a Amazon, com uma arquitetura de dados tão poderosa?
O que acontecerá com seus dados sensíveis? O que a Amazon parece pretender com a aquisição? Basicamente, trazendo os benefícios da digitalização para um ambiente como a saúde, no qual estão ausentes há muito tempo. Simplesmente o fato de introduzir eficiência nos fluxos de dados já fornece um valor muito alto, mas não para por ai.
Se somarmos a isso uma filosofia de serviços mais adequada, longe da tolerância que manifestamos quando nossa saúde está em jogo, ou da possibilidade de compartilhar voluntariamente nossos dados com a anonimização adequada quando se trata, por exemplo, de projetos de pesquisa, vamos conseguir modernizar uma atividade fundamental para o bem-estar, na qual a ciência avançou muito, mas a prestação de serviços como tal tende a permanecer estagnada em modelos muito desatualizados.
Lembro que desde 2019 a Alexa da Amazon, já possui um aplicativo criado pela HeathTap, empresa de tecnologia na saúde, chamado Dr. AI. Um bot de Inteligência Artificial que foi treinado por mais de 100 mil médicos com 141 especialidades. Assim, depois que o usuário contar sobre os sintomas que está enfrentando, o app tentará encontrar, em seu banco de dados, as melhores correspondências. E assim a Alexa poderá recomendar medicamentos, desde que não necessitem de prescrição médica, e até mesmo realizar a compra dos mesmos, colocando na sua conta da Amazon.
Mercado gigantesco com prontuário eletrônico
Passados três anos do seu lançamento a empresa de comércio eletrônico está desenvolvendo serviços para consumidores e hospitais e já enfrenta alguns desafios, como a concorrência do Google, Microsoft e Walmart.
Afinal, se todos os dias milhões de pessoas conversam com a assistente de voz Alexa da Amazon e lhe dão comandos triviais, como “tocar música”, entre tantos, criar uma extensão para saúde parece ser uma decorrência óbvia.
No Hospital Metodista de Houston, outras ordens são dadas à mesma tecnologia, como “Comece a operar”. Com base em um acordo entre uma rede de oito hospitais e a Amazon Web Services (AWS), os serviços de voz foram instalados em uma sala de cirurgia experimental no Hospital Metodista de Houston no último ano, usando grande parte da mesma tecnologia da assistente Alexa.
As ordens são dadas durante as etapas vitais da operação, permitindo que o cirurgião confirme verbalmente quando realizou determinadas ações, como a administração da anestesia.
A voz do médico é utilizada para confirmar ações, e uma vez concluída a operação, o assistente registra no prontuário eletrônico de saúde do paciente como uma atividade completa, de modo que, se houver um problema ou algo não for feito, um aviso aparece, auxiliando nos procedimentos.
Já nas salas de consulta, a tecnologia da Amazon escuta atentamente, claro que desde que com o consentimento prévio do paciente, nos termos da LGPD e do RGPD, assim informações podem ser adicionadas aos prontuários médicos e analisadas para tomar decisões de tratamento mais informadas posteriormente.
No fundo o que teremos será mais receita concentrada nas mãos das big techs, e quanto aos milhões de médicos do mundo? Certamente gigantes como a Amazon ou a Apple não guardam nenhum privilegiados para eles ou qualquer outra profissão, pois tudo se resume a ter mais dados, que gerem alimentam serviços que geram mais monetização, ou você acha que o universo corporativo na economia da desatenção quer humanizar os serviços?